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Nematoides contam com controle biológico na bataticultura

Pesquisas comprovam eficiência dos biológicos, com reduções na reprodução do nematoides de 86 e 94%.

Warley Peres da Silveira
Biólogo e mestre em Olericultura pelo IF Goiano – Campus Morrinhos
warleyperes@hotmail.com
Viviane Loriene Nascimento Soares da Silva
Graduanda em Agronomia IF Goiano – Campus Morrinhos, Morrinhos
viviane.loriene@estudante.ifgoiano.edu.br
Rodrigo Vieira da Silva
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor do Instituto Federal Goiano – Campus Morrinhos, Morrinhos – GO
rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br

Foto: Shutterstock

A batata comum, mais conhecida como batata inglesa, é considerada a principal hortaliça cultivada no Brasil do ponto de vista econômico. A importância deste alimento para o consumo das pessoas é devido ao seu rico valor nutricional de carboidratos, proteínas, fibras e vitaminas.
Atualmente, a área plantada com essa cultura é de cerca de 120 mil hectares, com produção anual de aproximadamente 4 milhões de toneladas. Todavia, a produção poderia ser ainda maior, se não fosse os prejuízos causados pelos fitonematoides, em especial os nematoides de galhas e os das lesões radiculares.

Nematoides fitoparasitas

Os fitonematoides são animais vermiformes microscópicos e incolores que vivem misturados no solo, e por isso os prejuízos causados podem passar despercebidos pelo produtor rural.
Este fato ocorre pela falta de conhecimento sobre estes vermes e, principalmente, por serem confundidos com deficiência nutricional e o ataque de outros agentes causadores de doenças, a exemplo de fungos e bactérias.
Regiões que possuem solos predominantemente arenosos e com temperatura elevada, entre 25 a 30ºC, são mais favoráveis à infecção pelos nematoides, principalmente em condições de cultivo contínuo, sem rotação de culturas e com utilização de irrigação.

Danos

Os prejuízos nos vegetais decorrentes do parasitismo dos fitonematoides ocorrem devido ao fato destes penetrarem nas raízes e obstruírem os feixes vasculares, o que dificulta a absorção e o transporte de água e nutrientes pelo sistema radicular.
A consequência é a redução de tamanho e peso das plantas. Além disso, os ferimentos causados durante sua alimentação predispõem as plantas a outras infecções causadas por fungos e bactérias fitopatogênicas.

Nematoides importantes na batata

Os principais fitonematoides que causam problemas na bataticultura nacional pertencem ao gênero Meloidogyne, causadores das galhas em raízes e Pratylenchus, conhecido como nematoide-das-lesões radiculares.
Destes, os do gênero Meloidogyne são, sem dúvida, os mais importantes, pois atacam o maior número de culturas e o que possui maior poder destrutivo, com destaque para as espécies M. incognita e M. javanica, as quais possuem uma distribuição mais ampla no Brasil. Nos últimos anos, a espécie M. enterolobii vem causando grandes prejuízos em hortaliças.
O tubérculo in natura é a principal forma de consumo da batata pelos brasileiros, portanto, o aspecto do produto comercializado torna-se importante, principalmente por questões de sanidade, pois deformações e alterações provocadas pelos nematoides irão depreciar seu valor de mercado.
Os nematoides estão associados à redução do peso dos tubérculos, má formações nos tubérculos, como protuberâncias ou “pipocas”, que impossibilitam sua comercialização e interfere na qualidade comercial do produto.
No caso dos nematoides das lesões, gênero Pratylenchus spp., a infecção provoca atraso no desenvolvimento das plantas, florescimento tardio e necrose nas radicelas, além de apresentar pintas pretas nos tubérculos, o que é também prejudicial à qualidade e comercialização do produto.
Assim, os nematoides merecem atenção especial, pois representam sérios problemas para o cultivo de batata em praticamente todas as regiões do país.

Identificação dos nematoides

O conhecimento das espécies de nematoides presentes na área de cultivo é de extrema importância para o sucesso no seu manejo. Recomenda-se a diagnose por meio de análises nematológicas do solo e raízes antes do plantio, coletando amostras simples, distribuídas ao acaso em toda área, com um número que seja representativo, cerca de 20 por talhão à profundidade de 0 – 20 cm.
Após a coleta, a amostra composta (500 g) deve ser encaminhada para um laboratório de nematologia mais próximo. Com o resultado em mãos, o produtor terá um melhor subsídio para o manejo a ser realizado, além de poder planejar estratégias de controle de acordo com as espécies encontradas e o nível populacional de nematoides presentes na área de cultivo.

Estratégia para diagnose pós-plantio

Para a identificação rápida dos sintomas causados por nematoides na lavoura já instalada, deve-se, em primeiro lugar, verificar a distribuição das plantas doentes no campo: a doença se manifesta geralmente em reboleiras, ou seja, concentrada numa determinada região da área e cultivo.
A seguir, arrancar algumas plantas com suspeitas de ataque de nematoides e observar o sistema radicular quanto à presença de galhas ou “pipocas” e lesões radiculares nos tubérculos de batata. Caso positivo, deve-se encaminhar as amostras de raízes contaminadas o mais breve para um laboratório de nematologia credenciado, para identificação a nível de espécie.

Biológicos no controle de fitonematoides

Na configuração atual da agricultura do terceiro milênio, com o alerta sustentável de diminuição no controle químico, os agentes biológicos tornaram-se protagonistas no manejo integrado de nematoides.
Na última década, houve um elevado incremento na utilização destes produtos, da ordem de mais de 400%, que representava em 2009 apenas 3,5% dos defensivos agrícolas e passou para 14,1% em 2020.
Vale salientar que esta estratégia de controle apresenta eficiência na redução das populações de nematoides e contribui para o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável, diminuição do impacto ambiental, além do equilíbrio da microbiota e saúde do solo.

Principais bionematicidas utilizados na bataticultura

Diversos organismos podem ser usados no controle biológico de fitonematoides, dentre os quais se destacam as bactérias do gênero Bacillus, as mais usuais as espécies Bacillus subitilis e Bacillus methylotrophicus, utilizadas no manejo de nematoides de galhas (Meloidogyne spp.) e das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus), que infectam a parte radicular da planta, interferindo do crescimento e desenvolvimento dos tubérculos.
Essas bactérias apresentam efeitos adversos sobre os nematoides, por meio da produção de compostos tóxicos e a criação de barreira física e química no sistema radicular, que dificulta a penetração do patógeno no tubérculo.
Também são utilizados alguns tipos de fungos como agentes de controle de nematoides, como as espécies Paecilomyces lilacinus e Pausteria penetrans, os quais parasitam os ovos dos patógenos, reduzindo a população, o fungo Pochonia chlamydosporia, que parasita ovos, juvenis e adultos de diferentes espécies de nematoides e o gênero Trichoderma, o qual busca suprimir o agente patogênico por meio de competição, parasitismo e produção de metabólitos tóxicos.
Atualmente, em nosso país, cerca de 60 bionematicidas comerciais estão disponíveis no mercado do Agro (AGROFIT, 2023). Vale salientar que são 14 produtos comerciais a mais do que há apenas dois anos.
Os biológicos, como estratégia de controle, apresentaram alta eficiência na redução das populações de nematoides, principalmente com o emprego de produtos à base de fungos e bactérias. Em relação aos fungos com ação nematicida, destaque para Purpureocillium lilacinum, Pochonia chlamydosporia e Trichoderma spp., que agem sobre os ovos devido à presença de enzimas quitinolíticas em sua composição, além de exercerem papéis essenciais para as raízes, como resistência e eficiência na absorção de nutrientes.
Já em relação às bactérias, destacam-se as rizobactérias do gênero Bacillus, que desempenham vários mecanismos de ação, como produção de um biofilme nas raízes, aumentando a proteção contra os nematoides.
Além disso, modificam as enzimas produzidas na rizosfera para dificultar o acesso de invasores, promovem crescimento radicular, produzem substâncias com atividade nematicida, além de estimularem o sistema de defesa das plantas a fitopatógenos.

Existem várias opções de biológicos para a lavoura de batata
Foto: Shutterstock

Seleção dos agentes de controle biológico

A seleção de agentes biológicos é realizada de acordo com as espécies de fitonematoides alvos de controle, buscando a adoção microrganismos que apresentem mecanismos de ação eficientes contra o patógeno, além de boa capacidade de sobrevivência e competitividade no solo.
As primeiras ações estão diretamente relacionadas à seleção de isolados eficientes no controle de nematoides, para o desenvolvimento de bionematicidas. A seguir são realizados ensaios de eficiência em laboratório e em casa de vegetação.

Eficiência é questão de cuidado

Para obter sucesso no emprego de agentes de controle biológico, deve-se ter atenção aos fatores que interferem em sua multiplicação e sobrevivência. Os microrganismos são influenciados pelos aspectos do ambiente, especialmente temperatura e umidade, além da disponibilidade de alimento, ou seja, nutrientes.
Assim, toma-se importante que o solo apresente umidade e temperatura adequada para os biológicos encontrarem condições favoráveis para germinarem, crescerem e colonizarem o solo.
Outro aspecto importante ao qual se deve ter atenção é quanto à forma de aplicação dos biológicos, o momento correto e as condições que afetam a eficácia dos biológicos, associado ao uso correto e formulação de organismos com diferentes mecanismos de ação.

Pesquisas na bataticultura

Trabalhos de pesquisas recentes vêm demonstrando significativas taxas de redução das populações de nematoides, utilizando, principalmente, fungos e bactérias. A utilização de microrganismos como agentes de biocontrole e promotores de crescimento vegetal tem aumentado entre espécies de Trichoderma spp. e Bacillus, que condicionam maior teor de matéria orgânica, baixa proliferação de doenças, aumento da produtividade e melhores condições sustentáveis para o meio ambiente, além de vários outros benefícios, por meio de processos benéficos associados às raízes das plantas.
Em pesquisa realizada no IF Goiano pelo mestrando Warley Peres, avaliando diversos biológicos no controle de M. incognita na cultura da batata, verificou-se que os tratamentos foram eficientes, com reduções na reprodução do nematoides de 86 e 94%.
Em relação à produtividade da batata, o tratamento com o biológico elevou em 10% em relação ao químico.

Viabilidade

A utilização de produtos biológicos apresenta uma diversidade de benefícios, se comparado às técnicas convencionais de manejo de nematoides, pois esses produtos são menos tóxicos ao ambiente, com ausência de resíduos nos produtos colhidos, não causa desequilíbrio na biota do solo e, dessa forma, mantém inimigos naturais no local.
Vale destacar que, no desenvolvimento dos biológicos, o processo de registro destes produtos é mais simplificado, de modo que gastam um menor prazo para serem homologados e postos no mercado.
Entretanto, os biológicos seguem o mesmo padrão de exigência dos químicos. Na liberação de um defensivo biológico para o mercado, este necessita atender requisitos de segurança dos órgãos competentes.

Manejo integrado

Dentro da estratégia de manejo integrado de fitonematoides, o controle biológico deve ser encarado como uma estratégia complementar ao controle químico, visto que representa uma tendência mundial.
O Brasil é um exemplo de sucesso no uso de biodefensivos, principalmente com produtos à base de microrganismos dos gêneros Bacillus, Trichoderma e Pochonia.
Um levantamento realizado pela consultoria internacional verificou que o Brasil é o quarto país do mundo com melhor capacidade na produção de biodefensivos, com cerca de 10% da comercialização mundial.
Contudo, faz-se necessário estudos mais aprofundados sobre a ação de produtos biológicos para o controle de nematoides na cultura da batata, de modo a selecionar opções de formulados que sejam eficazes e competitivos no mercado do agronegócio.

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