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Novidade: trigo para produção de etanol

Foto: Depositphotos

Sinara de N. Santana Brito
sinara.santana@unesp.br
Harleson Sidney Almeida Monteiro
harleson.sa.monteiro@unesp.br
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Agronomia/Horticultura – UNESP
Milene Stefani Pereira
Bióloga e mestra em Biotecnologia – UNESP

O extensivo uso de combustíveis de origem fóssil nos últimos anos gerou grande preocupação com a segurança energética e aumentos exorbitantes de gases de efeito estufa. E a sociedade global cada vez mais dependente dos meios de transporte, ativou a comunidade científica a estudar alternativas de fontes de combustível renovável a ter como prioridade a redução de carbono.

Alternativas

A complexidade de estudar novas alternativas levou empresas a buscarem matéria-prima de origem vegetal ou animal para a produção de biocombustíveis líquidos, como bioetanol, biodiesel ou óleo biocrude.

Deste modo, empresas firmaram parcerias com o intuito de desenvolver estratégias de transição energética e ecológica, por meio de tecnologias que proporcionassem baixo custo, alta produtividade e baixo impacto ao meio ambiente. Neste contexto, a Biotrigo Genética e a BSBIO estabeleceram ações conjuntas para o desenvolvimento deste novo mercado.

Iniciativas privadas

A Biotrigo Genética foi fundada em 2008 com o objetivo de introduzir as inovações da tecnologia do programa de melhoramento genético, e no decorrer dos anos englobou as novas cultivares de trigo, com a finalidade de obter e expandir a produtividade, segurança e qualidade ao produtor e à cadeia agrícola.

Encontra-se localizada em Passo Fundo, na região norte do Rio Grande do Sul, com filial em Campo Mourão, no Paraná, e em Chacabuco, na Argentina. Além dessas regiões, contempla inúmeros Estados no Brasil, assim como países do Mercosul e América do Norte.

A BSBIOS foi fundada em 2005. Diferente da Biotrigo Genética, ela é considerada a maior produtora de biodiesel do Brasil, título devido às duas usinas localizadas em Passo Fundo, e em Marialva, no Paraná, sendo que estas duas possuem capacidade de produção de 468 milhões de litros/ano.

Parceria

Neste ano de 2022, adquiriu uma fábrica de biodiesel na cidade de Domdidier, na Suíça. No dia 20 de junho de 2021, as referidas empresas realizaram um evento na presença do governador do Estado, Ranolfo Vieira Júnior, do vice-prefeito de Passo Fundo, João Pedro Nunes, do presidente da BSBIOS, Erasmo Battistella e do diretor e melhorista da Biotrigo, André Cunha Rosa, entre outras autoridades do setor que estão incluídos no recente empreendimento, com objetivo de oficializar publicamente a parceria entre as duas empresas, onde almejam desenvolver e expandir o biocombustível.

Esta cooperação resultou no licenciamento de duas cultivares para a produção de etanol, denominadas de BS Etanol e BS Etanol 8. Ambas apresentam características desejáveis para o setor de combustível, ou seja, elevados teores de amido, e estarão disponíveis no mercado no ano de 2024.

O Diretor da Biotrigo André Cunha Rosa, declarou que: “Estamos abrindo mais um importante mercado para o trigo na região sul do Brasil por meio deste trabalho conjunto com a BSBIOS, uma empresa sólida e especialista no que faz. A Biotrigo ganha mais um mercado para trigo, a BSBIOS ganha trigos aptos às suas necessidades e o produtor ganha excelentes cultivares a campo e mais uma oportunidade para vender sua produção”.

Potencial

Os combustíveis à base de amido são conhecidos como alternativas estratégicas de etanol de primeira geração, com inúmeras vantagens ambientais e econômicas. Eles promovem a redução na emissão de gases do efeito estufa, principalmente pelas vias de transporte onde sua base de combustível são os derivados de petróleo, possibilita avanços na segurança energética e redução nos custos com energia.

Foto: Depositphotos

Atualmente, o cenário de produção global de etanol combustível está dividido em 60% proveniente do milho, 5% de cana-de-açúcar, 3% de trigo, 2% de melaço e a outros grãos, mandioca e beterraba.

Isso demonstra que tais biocombustíveis líquidos são potenciais para substituição dos presentes combustíveis fósseis de transporte, não promovendo demasiadas modificações técnicas em motores e na sua infraestrutura de transferência. E tecnicamente, uma solução para o possível esgotamento dos combustíveis fósseis.

Em relação às cultivares BS Etanol e BS Etanol 8, estas foram desenvolvidas para a produção de etanol e para produção de farelos para ração animal. Objetivando estes mercados, as empresas desenvolveram cultivares que atendessem esses dois nichos quanto às características de interesse físico-químicos e biológicas, ou seja, elevado pH, ótimos níveis de amido, resistentes à giberela e alta produtividade, quando comparadas às cultivares de grãos de inverno. No entanto, as referidas cultivares estarão disponíveis para o produtor a partir de 2024.

Investimento

O custo de produção do biocombustível também desempenha um grande papel na determinação da sustentabilidade do biocombustível. Os custos com produção e armazenamento (matéria-prima, custo de processamento, cultivo, colheita, transporte, mão de obra), recomenda-se que sejam baseados nas práticas agrícolas atuais, os estudos técnico-econômicos (desidratação, secagem), conforme valores atualizados de mercado e o custo de capital, conforme o custo para o produtor, levando em consideração o tempo de depreciação.

Observando as características edafoclimáticas do Estado do Rio Grande Sul, principalmente durante o período do inverno, notou-se que extensas áreas permanecem em repouso, tornando-as potenciais para o cultivo de trigo e outras culturas que podem gerar renda para a região.

Com isso, o esquema de produção, processamento e a viabilidade econômica está previsto para o ano de 2024, em Passo Fundo (RS), onde a expectativa é de 750 toneladas/dia de cereais e 1500 toneladas/dia na segunda fase, em 2027.

Este projeto representará um investimento de R$ 556 milhões nesse período, e um incremento de R$ 1,3 bilhão em faturamento anual, gerando 143 novos empregos diretos e aproximadamente 1.000 indiretos, segundo destacou o presidente da BSBIOS, Erasmo Battistella.

Viabilidade

É importante frisar que a viabilidade da produção do biocombustível é demasiadamente dependente do preço de mercado, não somente do trigo e do biocombustível, mas do mercado de rações.

As tendências atuais para o mercado de grãos dependem da demanda dos consumidores e da necessidade de alternativas econômicas, sustentáveis e ecologicamente corretas. Com isso, o trigo é utilizado para produção de etanol de primeira geração, mas pode ser fonte de matérias-primas de biomassa para produção de etanol de segunda geração.

O etanol de segunda geração é considerado uma das maiores fontes promissora para a produção de biocombustíveis (bioetanol), principalmente pelo seu baixo custo, e tem como base as lignoceluloses.

A exemplo, temos a palha de trigo, que por sua vez é capaz de produzir anualmente uma quantidade de 120 milhões de toneladas métricas de etanol, o que equivale a 93 bilhões de litros de gasolina.

No entanto, é fundamental otimizar métodos para transformar a lignina da produção de etanol de segunda geração em uma fonte valiosa, e deste modo promover a redução dos preços elevados dos combustíveis e auxiliar na estabilidade do sistema efetivado.

Biotecnologia

 Os avanços na biotecnologia permitiram o desenvolvimento de cultivares com elevados teores de amido de trigo, afetando positivamente a relação amilose/amilopectina, sendo este o principal fator que influencia nas propriedades físico-químicas do amido e a na qualidade dos produtos.

Isso permitiu inúmeras possibilidades para as indústrias alimentícias e não-alimentícias, dentre eles componentes de colas e adesivos, têxteis, produtos farmacêuticos ou papel para melhorar ou adicionar novas propriedades.

O aumento acentuado dos preços de combustíveis fósseis teve como resultado a busca de alternativas que pudessem substituí-los. Nesse processo surgiram os biocombustíveis e estes começaram a ser popularizados, tendo como consequência a sensibilização da sociedade quanto à poluição, aquecimento global, e o desejo de autossuficiência dos países em desenvolvimento, principalmente.

Isto proporcionou que empresas, juntamente com o apoio de órgãos governamentais, tivessem interesse em investir em diversas fontes de biocombustíveis.

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