Maria Idaline Pessoa Cavalcanti – Engenheira agrônoma e doutoranda em Ciência do Solo – Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – idalinepessoa@hotmail.com
Anne Carolline Maia Linhares – Licenciada em Ciência Agrárias e doutoranda em Ciência do Solo – UFPB – anemaia-16@hotmail.com
A quantidade de nutrientes absorvida por uma cultura é função da concentração do nutriente na matéria seca e da produção de matéria seca de cada órgão da planta por unidade de área. As doses de fertilizantes aplicadas devem ser determinadas em função da quantidade de nutriente extraída pela cultura e da eficiência de recuperação de cada nutriente aplicado (Mendes et al 2008).
Com relação à nutrição da cebola, o nitrogênio e o potássio destacam-se. O N é o segundo nutriente, em quantidade, presente na planta; superado apenas pelo K (Vidigal, 2000; Pôrto et al., 2007).
O crescimento da cebola é lento até próximo à metade do ciclo (Porto et al., 2007). A partir daí, iniciam-se a bulbificação e a translocação de fotoassimilados e outros compostos para o bulbo. Nessa fase, há um rápido acúmulo de matéria seca no bulbo Gamiely et al. (1991).
Benefícios
O efeito benéfico do potássio se faz sentir em diferentes componentes dos produtos agrícolas, como cor, acidez, resistência ao transporte, manuseio e armazenamento, valor nutritivo e qualidades industriais, assim como a adequada nutrição potássica tem sido associada com aumento de rendimento, cor e tamanho de fruto, acréscimo de sólidos solúveis e ácido ascórbico, conservação e qualidade pós-colheita, de muitas hortícolas.
A deficiência de potássio na planta de cebola é caracterizada por amarelecimento das folhas velhas, secamento da ponta foliar e reduzido crescimento do bulbo (Resende & Costa, 2013).
O potássio está fortemente associado com a assimilação de nitrogênio, atua em processos osmóticos, na síntese de proteínas e na manutenção de sua estabilidade, na abertura e fechamento de estômatos, na permeabilidade da membrana e no controle de pH.
A necessidade de K para um ótimo crescimento da cebola é de cerca de 40 g kg-1 da matéria seca da parte vegetativa da planta. A ausência desse nutriente se caracteriza por murchamento das folhas; as mais velhas apresentam coloração amarelada, progredindo para o secamento nas pontas e reduzindo o desenvolvimento dos bulbos (Mendes et al 2008). Portanto, o potássio tem influência na produção, no transporte e no armazenamento do carboidrato.
Como implantar a técnica
Uma alternativa a ser utilizada são as curvas de absorção e acúmulo de nutrientes e de matéria seca, que possibilitam determinar as épocas de maior exigência dos nutrientes, prevenir deficiências, estimar a exportação e o retorno de nutrientes ao solo (May et al., 2008), proporcionando recomendação de adubação com eficiência agronômica e minimização dos riscos ambientais (Villas Boas et al., 2001; Furlani & Purqueiro, 2010).
As exigências nutricionais podem variar entre cultivares de cebola e a extração de nutrientes e sua relação com o crescimento pode ser diferente em razão do tipo de solo, do sistema de cultivo, e ainda, variar segundo a produtividade e o ciclo da cultura (Vidigal et al., 2003).
Portanto, a utilização de curvas de acúmulo de nutrientes é uma ferramenta imprescindível para auxiliar nos programas de adubação e manejo de fertilizantes das lavouras (Martins et al 2017).
Visto de perto
Kurtz et al (2016), ao avaliarem o crescimento e absorção de nutrientes pela cultivar de cebola Bola Precoce, observaram que do total acumulado de K ao final do ciclo da cultura, o bulbo contribuiu com 53%, (182,7 mg/planta).
A absorção de K foi concentrada no período de bulbificação com 87% do total acumulado nessa fase. A taxa máxima de absorção pela planta toda foi aos 80 DAT, com 7,38 mg/planta/dia, o equivalente a 1,84 kg/dia de K. Para o bulbo, a taxa máxima de alocação ocorreu 17 dias mais tarde aos 97 DAT.
Os autores afirmam que tal processo provavelmente explica a grande demanda de K na bulbificação, quando promove a redução do potencial osmótico favorecendo a entrada de água e de fotoassimilados, contribuindo para o enchimento dos bulbos, uma vez que, segundo Taiz & Zeiger (2009), o potássio desempenha um importante papel na abertura dos estômatos e regulação do potencial osmótico das células vegetais.
Relação com a nutrição da cebola
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Vidigal et al (2010) ao avaliarem o crescimento e absorção de nutrientes pela planta cebola cultivada no verão por semeadura direta e por transplantio de mudas, observaram que, independente do sistema de cultivo, o crescimento inicial foi lento, intensificando a partir dos 56 e 74 dias após a semeadura, para o cultivo em semeadura direta e transplantio de mudas, respectivamente, e os nutrientes foram absorvidos pela cebola na seguinte ordem: K > N > Ca > S > P > Mg e Fe > Mn > Cu > Zn.
Martins et al (2017) observaram, ao avaliar a marcha de absorção de nutrientes para recomendação de adubação no cultivo da cebola, que diferentemente do nitrogênio e do fósforo, o aumento na demanda por potássio iniciou aos 78 Dias Após a Semeadura (DAS), com intensa exigência no período dos 79 aos 163 DAS, que coincide com formação dos bulbos, tendo em vista que o potássio desempenha a função de ativador enzimático, está envolvido na fotossíntese, no transporte de carboidratos, na síntese de proteínas, na expansão celular e no movimento estomático (Marschner, 2012).
Boa resposta
A cultura da cebola é altamente responsiva à aplicação de nutrientes, que influencia diretamente a produtividade, sanidade e a qualidade dos bulbos. Contudo, a adubação excessiva, principalmente com N, P e K e o uso indiscriminado de corretivos de acidez acarretam prejuízos à cultura, que muitas vezes passam despercebidos, como o aumento de doenças foliares, estresse salino que afeta a produtividade, perda de nutrientes no solo por lixiviação e o desbalanço de nutrientes, gerando problemas fisiológicos e nutricionais (Kurtz & Ernani, 2010; Aguiar Neto et al., 2014).
O excesso de potássio pode desequilibrar a nutrição da planta, dificultando a absorção de cálcio e magnésio. Além disso, doses acima da necessária para o satisfatório crescimento e desenvolvimento das plantas podem reduzir a produção, além de elevar os custos e causar impactos ambientais (Resende & Costa, 2003).