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O dólar e a agricultura – O duelo continua

 

Enquanto os produtores que exportam sua produção estão rindo à toa, com a alta do dólar, outros amargam prejuízos pelo custo elevado dos insumos, em sua maioria importados, e a comercialização dos grãos em moeda nacional

Crédito Shutterstock
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A maioria dos insumos agrícolas sofre com a variação cambial do dólar, pois muitos são importados, especialmente fertilizantes e outros fornecidos por empresas de capital estrangeiro, cuja moeda de ajuste de preços é o dólar. Nesse sentido, quando o dólar aumenta e a moeda brasileira é desvalorizada, os custos dos insumos também sobem, refletindo em maiores custos de produção.

Por outro lado, pontua Daniel Ioshiteru Kinpara, pesquisador em socioeconomia da Embrapa Cerrados, as culturas agrícolas exportadoras (soja, açúcar, frutas, carnes, café), as indústrias de máquinas e implementos e os produtos nacionais voltados para o consumo interno são beneficiados com a alta do dólar.

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Marcelo Garrido Moreira, coordenador da DCA – SEAB/PR ” DERAL, vai adiante, e comenta que a desvalorização do real vem sustentando as cotações no mercado interno, e isso tem beneficiado o produtor brasileiro. “Prova disso é o volume comercializado antecipadamente, que é um dos maiores dos últimos anos“.

Para analisar como essa elevação do dólar pode influenciar os custos de produção, Rafael Vivian, gerente-adjunto de Mercado da Embrapa Produtos e Mercado, utiliza como referência a cotação da moeda em 14 de setembro de 2014 ” US$ 1,0, que equivalia a R$ 2,4570.

O agricultor profissional faz seu planejamento com base na eficiência proporcionada pelas tecnologias produtivas - Crédito - Shutterstock
O agricultor profissional faz seu planejamento com base na eficiência proporcionada pelas tecnologias produtivas – Crédito – Shutterstock

“Nesse ano, a moeda brasileira tinha 58,3% a mais de poder de compra que em 14 de setembro de 2015, com o dólar cotado a R$ 3,8905. Essa desvalorização da moeda nacional com a elevação em 58% do dólar representa menor poder de compra para o produtor agrícola brasileiro e, consequentemente, maior custo de produção. Estima-se que, para soja, os custos de produção com o aumento do dólar apresentaram 25% de acréscimo nos custos totais da lavoura que, se não compensados no momento da venda, trarão prejuízos ao produtor“, avalia o especialista.

Para Daniel Kinpara, no curto-prazo nada muda. “As semeaduras e plantações já foram programadas e apenas aguardam as chuvas, os insumos foram comprados e as metas produtivas foram definidas. Alguns produtores podem ter “apostado“ em produzir mais de algum dos produtos, entretanto, é preciso compreender que uma agricultura séria, eficiente e avançada é baseada em planejamento de médio e longo prazos. As flutuações observadas no câmbio não são os únicos parâmetros utilizados por estes agricultores. O bom agricultor não é um especulador de mercado – ele se vale dos especuladores para se proteger, como no caso do hedging“, analisa o pesquisador.

Créditos Shutterstock
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Ainda segundo ele, o agricultor comprometido realiza o seu planejamento com base na eficiência proporcionada pelas tecnologias produtivas, nas análises de séries históricas de preços, nas tendências de consumo interno e externo e em sua capacidade de armazenamento da produção.

“Os ciclos agrícolas são muito mais longos que os ciclos de volatilidade do câmbio. Fiar o seu planejamento em ciclos menores é desconhecer a complexidade da agricultura e se sujeitar a uma agricultura ineficiente, de maior impacto ao ambiente e vulnerável aos humores do mercado“, argumenta Daniel Kinpara.


Nem tudo é o que parece

 A flutuação ou o aumento do dólar provoca impacto nos custos totais da produção agrícola nacional - Créditos Shutterstoc
A flutuação ou o aumento do dólar provoca impacto nos custos totais da produção agrícola nacional – Créditos Shutterstoc

Deve-se tomar cuidado quando se fala em “alta do dólar“. A afirmativa vem de do pesquisador Daniel Kinpara: “Do ponto de vista numérico, sim, é visível a alta. Mas o que importa não é o seu valor nominal, mas o seu valor real. Levando em conta a inflação no período de janeiro de 2004 a setembro de 2015, utilizando o IGP-M da Fundação Getúlio Vargas, o dólar deveria ser cotado a R$ 5,85 em setembro de 2015. O valor nominal médio da cotação da moeda americana para o mês de setembro de 2015 foi de R$ 3,97. Logo, pode-se observar que o dólar perdeu para a inflação acumulada no período. De fato, não houve uma “alta“ do dólar, mas um ajuste abaixo da inflação“, esclarece.

Segundo ele, o problema decorrente de um dólar “barato“ é permitir que empreendimentos menos eficientes subsistam no mercado. Com insumos mais baratos, há uma tendência de se utilizá-los com menos controle, a fim de atender movimentos especulativos do mercado.

Os produtores que são eficientes têm a vantagem de terem mercados de consumo ampliados e sofrerem menos com as oscilações dos preços dos insumos e serviços proporcionados pelo aumento nominal do valor do dólar.


A realidade brasileira

Os produtores que exportam se beneficiaram com a alta do dólar - Créditos Shutterstock
Os produtores que exportam se beneficiaram com a alta do dólar – Créditos Shutterstock

Para Leonardo Lucio Amorim Mussury, professor da disciplina de Micro e Macroeconomia da Unigran ” Centro Universitário da Grande Dourados, nenhum segmento de mercado consegue planejar sua atividade com uma volatilidade tão grande do câmbio.

“Os agentes econômicos vivem em constante incerteza. O que se tem, na verdade, é que inúmeros produtores efetuaram vendas de seu produto em reais e pagarão seus custos em dólar, o que, com certeza. irá afetar a rentabilidade e a lucratividade daqueles que não acreditavam numa desvalorização tão forte de nossa moeda“, antecipa o professor.

Outro fator se encontra no alto risco que o mercado começa a expor. Isso porque inúmeras indústrias estão ‘hedgeadas’ a um dólar de R$ 3,10, enquanto hoje a moeda bate a casa dos R$ 4,00. Tal fato, na opinião de Leonardo Lucio, certamente trará prejuízos e, portanto, justificativas para o grande volume de pedidos de recuperação judicial somados à situação de altas taxas de juros, uma vez que esse mercado é lastreado em forte volume de capital de giro originado nos bancos e pela forte restrição de crédito que passou a existir.

Assim, o risco de vender não está somente em uma comercialização mal feita, mas também em não receber, pelas dificuldades anteriormente expostas. “Finalmente, deveremos ter um aumento da área de soja, mas com baixo nível de investimento por parte de alguns produtores, que buscarão ter seus custos reduzidos. Cá entre nós, tomara que o clima ajude, e é nisso que muitos apostam“, opina o professor.

 Canto da página

Barter é alternativa

A indústria está fazendo grandes esforços para manter financiamentos aos agricultores, oferecendo ferramentas eficazes de gerenciamento de risco, assim como financiamento a níveis competitivos com empréstimos internacionais.

Um exemplo destas soluções é o Barter (troca), que cresceu significativamente este ano, permitindo gerenciar a volatilidade do preço das commodities sem custo adicional para o agricultor. O mercado financeiro está descobrindo que o segmento de dívida agrícola é atrativo, e a remuneração está bem adequada ao risco, o que deu origem a diversas ferramentas utilizadas hoje no Brasil, além do já conhecido crédito rural.

A Bayer CropScience trabalha com duas modalidades de Barter: física e financeira. Na Física, a Bayer CropScience precifica a commodity e, ao final da safra, o produtor faz a entrega do volume acordado em uma localidade indicada pela empresa.

Na financeira (prática exclusiva da Bayer), a troca é feita sem entregar os grãos a uma trading determinada. Nesta modalidade, o produtor rural pode vincular o pagamento da conta de defensivos agrícolas e sementes ao preço do grão, e ainda ficar livre para entregar seu grão no local de sua preferência. Ao final da safra, o produtor fará a liquidação financeira da operação de acordo com o nível de mercado da commodity e com o modelo de operação contratada.

 

Essa é parte da matéria de capa da revista Campo & Negócios Grãos, edição de novembro. Adquira o seu exemplar para leitura completa.

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