Parceria entre Embrapa e diversas instituições internacionais envolve pesquisadores do Brasil, África, América Latina e Caribe. Produção integrada e sustentável será analisada para servir de exemplo a outros países
O Grupo Jerivá recebeu nesta quinta-feira (17) cerca de 100 pesquisadores de diferentes países que vieram conhecer e estudar o sistema de produção sustentável da empresa. A visita de campo é parte de um fórum que acontece anualmente, organizado pela Embrapa e que pertence à Plataforma de Inovação Agropecuária (Agricultural Innovation Marketplace), uma cooperação formada por vários membros internacionais e que financia projetos de pequenos produtores agrícolas.
De acordo com o pesquisador da Embrapa e da Marketplace André Dusi, a visita de campo do fórum tem tradição de ser realizada em centros de pesquisa da Embrapa. “Este ano quisemos oferecer uma experiência mais completa e identificamos aqui, na Fazenda Jerivá, uma oportunidade muito interessante“, explica.
O interesse dos organizadores foi despertado pela produção integrada e sustentável que a Fazenda Jerivá estruturou e ampliou ao longo de 40 anos. O grupo administra hoje cinco lojas e realiza todas as etapas (produção, processamento e comercialização) que levam aos produtos finais, que são comidas tÃpicas goianas. A unidade agrícola é focada no reaproveitamento de recursos naturais e dispensa o uso de ações danosas ao meio ambiente como o emprego de agrotóxicos, queimadas e desmatamentos. Outra característica importante é a integração da criação de animais com a produção vegetal e a utilização de insumos da propriedade em todo o processo produtivo.
André Dusi esclarece que essa iniciativa permite a troca de conhecimento entre pesquisadores que estão finalizando ou começando seus projetos, e que o aprendizado poderá ser aplicado em suas diferentes realidades. “Queremos mostrar aos pesquisadores que é possível, para um pequeno produtor, adotar um sistema de produção integrada e agregar, com isso, bastante valor ao produto final. É claro que são realidades diferentes em cada país, mas o conceito é o mesmo, o de integrar as três etapas: produção, processamento e comercialização“, afirma Dusi.
Durante a manhã, os pesquisadores se dividiram em quatro grupos e fizeram uma visita guiada para conhecer cada etapa da produção. O proprietário do grupo Jerivá, João Benko Neto, recebeu os pesquisadores com grande expectativa e entusiasmo. “Espero que esses visitantes encontrem o caminho para reproduzir essas práticas em seus locais. Temos um constante desafio, de ser responsável socialmente e sustentável. Mas dá para preservar o meio ambiente sim e não tem mágica, o caminho é alinhar as nossas necessidades com a natureza e sermos suficientemente inteligentes.“
Agricultural Innovation Marketplace
A Marketplace é uma iniciativa que visa beneficiar os pequenos produtores, promovendo inovação e investimentos em pesquisa e desenvolvimento agrícola através do intercâmbio de conhecimento entre países da África (27 pesquisadores), América Latina e Caribe (10) e Brasil (35). Dentre os agentes fomentadores dos pesquisadores estão, além da Embrapa, a Bill e Melinda Gates Foundation, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e outras instituições nacionais e internacionais.
João Benko Neto espera que os pesquisadores fiquem estimulados a replicar, em outras realidades com cenários semelhantes, as práticas e experiências que foram vistas na fazenda. “Além disso esperamos que essa visita sensibilize os órgãos financiadores e de pesquisa a apostarem e investirem em projetos integrados e sustentáveis“, afirma João Benko.
Produção integrada
Dos 175 hectares da Fazenda Jerivá, 65 (37%) são reservados ao cultivo de safra (principalmente milho para silagem), pecuária leiteira com animais da raça holandesa, engorda de suÃnos, frango e ovos caipira e produção de hortaliças. A produção integrada é desenvolvida com o mÃnimo de interferência externa possível e uso de tecnologias simples, buscando a autossuficiência e responsabilidade ecológica. O baixo uso de insumos externos é possível graças à reutilização de compostos orgânicos, que voltam para terra e reduzem a dependência de adubação química.
Além disso, o uso correto de resíduos na agricultura reduz a poluição e gera sustentabilidade no processo produtivo. Dentre os exemplos das práticas utilizadas na fazenda estão o soro de leite, resultado do processamento de laticÃnios, que é reutilizado na alimentação de suÃnos; as palhas e sabugos de milho, advindos da pamonharia, que servem para o consumo dos bovinos; os bagaços das laranjas utilizadas para fazer suco que vão para a compostagem para produção de milho; a cama de vaca e frango que são usadas para adubação na produção de milho, após a compostagem.
Como parte das verduras usadas nos restaurantes são cultivadas na fazenda, para adubação também é utilizada compostagem feita com outros subprodutos da fazenda e da indústria. A produção de hortaliças é feita sem agrotóxicos e com irrigação direto de uma mina d’água que nasce na própria unidade agrícola.
A Fazenda Jerivá é guiada pela missão de ser ecologicamente correta, socialmente responsável e economicamente viável. Para tanto, o proprietário da fazenda explica que encontrar a sustentabilidade financeira e ecológica é o grande desafio das pequenas produções. “É esse tipo de desafio que molda a nossa atuação. Buscamos suprir a produção agrícola e o manejo pecuário com práticas que aliem produtividade e redução de preço. Além disso, a nossa maior preocupação é de que a produção integrada de leite, suÃnos, ovos, frango e hortaliças ” que é base da nossa atividade industrial ” leve ao consumidor, por meio das cinco lojas Jerivá, produtos finais com alta qualidade e segurança“, afirma.
Somente na Fazenda Jerivá são gerados 20 empregos diretos, de um total de 350 no grupo todo (fazenda, indústria e lojas). A produção diária dá conta de 3,5 mil litros de leite e 200 dúzias de ovos caipiras. Mensalmente são produzidos 200 cabeças de suÃnos, 3 mil frangos caipira e mil quilos de hortaliças sem agrotóxicos. O Grupo Jerivá administra, atualmente, além da agroindústria, cinco lojas com restaurante, lanchonete e empório, onde são comercializados os produtos de fabricação própria. São duas unidades na BR-060 em Abadiânia, onde também está localizada a sede da agroindústria; uma no Outlet Premium, em Alexânia, e duas em Goiânia (Shopping Flamboyant e Passeio das Águas Shopping).