Autores
Fábio Luiz Partelli
Professor – Universidade Federal do Espírito Santo (CEUNES/UFES) – campus São Mateus (ES)
partelli@yahoo.com.br
Jéssica Rodrigues Dalazen
Mestranda – CEUNES/UFES – campus São Mateus
Ailton Geraldo Dias
Engenheiro agrônomo e consultor – Sementes Vitória Bruno Novaes Menezes Martins
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Horticultura – UNESP
brunonovaes17@hotmail.com
Veridiana Zocoler de Mendonça
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Energia na Agricultura
Letícia Galhardo Jorge
Bióloga e mestranda em Botânica – IBB/UNESP
O gênero Piper apresenta mais de 1.000 espécies, distribuídas pelas regiões tropicais e subtropicais do mundo. No entanto, a principal espécie explorada economicamente é a Piper nigrum L. (pimenta-do-reino) originária da Índia.
Inicialmente era consumida na Ásia e, posteriormente, na Europa “a preço de ouro”, principalmente pelos portugueses. Chegou no Brasil no século XVII, no Estado da Bahia, sendo levada, em seguida, para os Estados da Paraíba, do Maranhão e do Pará.
Sua exploração econômica, porém, somente veio a ocorrer a partir do ano de 1933, quando imigrantes japoneses, que se destinavam ao Estado do Pará, trouxeram algumas mudas da cultivar Cingapura (Kuching) e as implantaram em Tomé-Açu. Passaram-se vários anos e a pimenta-do-reino conquistou destaque no Brasil, especificamente no Estado do Pará.
No Estado do Espírito Santo, mesmo sem um registro oficial da data de introdução da pimenteira-do-reino, há relatos de plantio de uma cultivar denominada “pimenta-da-terra” ou “pimenta do Espírito Santo”. Por volta de 1974, a cultivar Cingapura foi levada para o Espírito Santo com mudas vindas do Estado do Pará.
Versatilidade
A pimenta-do-reino é amplamente conhecida pelo seu uso na culinária, por atribuir sabor e aroma aos alimentos, sendo um condimento indispensável no preparo de alimentos industrializados (salame, salsicha, mortadela, fiambre, presunto, paio).
Além do seu consumo como alimento, por possuir propriedades terapêuticas, atribuídas aos componentes bioativos abundantemente presentes em seus frutos, a pimenta-do-reino também é utilizada na indústria farmacêutica, para produção de drogas capazes de auxiliar no tratamento ou combate a doenças.
Produção x preço
A produção e o preço da pimenta-do-reino seguem, no mundo, ciclos de altas e baixas. Nos últimos anos, houve um aumento significativo da produção mundial em função de uma crescente demanda no consumo, determinando um movimento de elevação nos preços desta especiaria, no período de 2010 a 2015.
Na sequência, com a regularização da oferta sobre a demanda, observou-se um movimento inverso nos preços. Nota-se que tal comportamento, queda e subida dos preços, foi recorrente ao longo dos anos, determinado pelas oscilações na demanda mundial por esta especiaria.
Observa-se, assim, que havendo alterações na demanda, para cima ou para baixo, haverá alterações nos preços, na mesma ordem, determinando esse processo cíclico nos preços.
De acordo com dados do IPC (2018), na década de 1970 a 1980 a produção mundial de pimenta-do-reino concentrava-se em três países, porém, a partir da década de 1990 o Vietnã passou a se destacar na produção da especiaria, tornando-se o maior produtor a partir de 2003.
De 2015 a 2016 houve acréscimos significativos na produção mundial, superando a queda registrada em 2014, passando de 359 mil para 431 mil toneladas por ano em 2016, exibindo um crescimento de 20,05%; e, para 488,5 mil toneladas por ano em 2017, apresentando novo crescimento de mais 13,34%.
Observou-se, neste período, uma elevação nos preços, pois a formação de estoques ocorria ainda abaixo do crescimento da demanda. Na sequência, com um crescimento no estoque mundial, determinado principalmente pela expansão da produção vietnamita, atualmente respondendo por aproximadamente 40% da produção mundial, equilibrando-se estoque e demanda, observou-se sensível declínio nos preços praticados pelo mercado.
Observa-se que os principais países produtores de pimenta-do-reino são Vietnã, com 170 mil toneladas, seguido da Indonésia, com 75 mil toneladas produzidas em 2016. Estes números correspondem a mais de 50% de todo volume produzido, tendo em vista que a produção mundial nesse período foi superior a 431 mil toneladas.
Produção brasileira e principais regiões produtoras
Historicamente, o Brasil é tido como o primeiro país do hemisfério ocidental a produzir pimenta-do-reino em escala comercial e se encontra, hoje, entre os principais países produtores, alcançando uma produção em 2017 da ordem de 75 mil toneladas.
Segundo dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – LSPA, divulgados pelo IBGE (2018), os principais Estados brasileiros produtores de pimenta-do-reino são o Pará, que foi o maior produtor até 2016; e, o Espírito Santo, que em 2017 assumiu a liderança, tornando-se pela primeira vez o maior produtor de pimenta-do-reino do Brasil.
Vale salientar que esse fato está diretamente relacionado com a produtividade obtida pelo Espírito Santo na safra de 2017, de 3.874 quilos por hectare, enquanto a média nacional, no mesmo período, foi de 2.784 quilos por hectare. Estes números são reflexos do maior aparato tecnológico empregado nas lavouras capixabas, onde aproximadamente 80% da área plantada com esta cultura dispõem de sistema de irrigação e são bem adubadas e manejadas.
Com relação aos dados da produção brasileira de pimenta-do-reino, confrontando-se as informações publicadas pela International Pepper Community (IPC) com as informações do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgadas pelo IBGE, constata-se uma expressiva divergência.
Embora não caiba aos autores, neste texto, especular sobre a consistência destes dados, pode-se inferir que esta divergência esteja associada à abordagem sobre “produção” de cada uma destas instituições, considerando que o IBGE (LSPA) trata da produção total (consumo interno e exportação) e a International Pepper Community (IPC) da produção realmente exportada.
Importância
A pipericultura brasileira tem assumido grande importância social e econômica. Em geral, no Brasil, a maioria das áreas de plantio com a pimenteira-do-reino são de pequenos produtores, cultivadas em regime de complementação de renda.
Em 2016, o montante movimentado com as exportações de pimenta-do-reino alcançou valores da ordem de US$ 346 milhões. Socialmente, do cultivo da pimenteira-do-reino é reconhecido por requerer elevada taxa de mão de obra no campo, implicando em maior distribuição de renda, promovendo elevação na qualidade de vida no campo e redução no êxodo rural.