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segunda-feira, maio 6, 2024
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Plantas de cobertura: utilização racional em lavouras cafeeiras

Crédito: Cézar Francisco

Alisson André Vicente Campos
alissonavcampos@yahoo.com.br
Giovani Belutti Voltolini
giovanibelutti77@hotmail.com 
Engenheiros agrônomos, doutorandos em Fitotecnia (UFLA) e pesquisadores – Fronterra
Caio Eduardo Lazarini Garcia
caiolazarini@fronterra.com.br
Luiz Gustavo Rabelo
luizgustavo@fronterra.com.br
Engenheiros agrônomos, consultores Fronterra e Educampo

O uso de adubos verdes/plantas de cobertura em lavouras cafeeiras vai gradativamente ganhando mais interesse por parte dos produtores de café em virtude dos benefícios causados por esta prática quanto à melhoria na fertilidade do solo, nutrição do cafeeiro, diminuição no tempo de capina e economia de adubos minerais.

Tendência

A adubação verde é uma prática recorrente na agricultura que consiste no cultivo de espécies vegetais para fornecer nutrientes para a lavoura, após a mineralização dos resíduos vegetais das plantas de cobertura.

Para os cultivos perenes, como o cafeeiro, a adoção da adubação verde é realizada na forma de consórcio na entrelinha da cultura. As gramíneas são as espécies mais utilizadas para a ciclagem de nutrientes na cafeicultura, porém, a mineralização da sua palhada é mais lenta em função da alta relação C/N (30 – 40).

Já as plantas leguminosas (Fabaceae) são as mais indicadas para a adubação verde, por apresentarem capacidade de fixação biológica de nitrogênio atmosférico.

Benefícios em lavouras de café

As plantas de cobertura são eficientes na proteção do solo, tanto as plantas vivas quanto após seu corte, na forma de cobertura morta. As raízes das plantas, após serem cortadas, permitem melhor infiltração da água, atuando como bioporos.

O manejo ecológico da braquiária auxilia na supressão de plantas daninhas na linha de plantio, tanto como uma barreira física quanto pela produção de substâncias alelopáticas. As plantas de cobertura têm um papel importante no aumento de populações de insetos predadores e parasitoides do bicho-mineiro no cafeeiro.

Crédito: Piraí Sementes

Estudos têm mostrado o aumento de Chrysoperla externa em entrelinhas do cafeeiro, com maior presença em locais onde há mais plantas em florescimento.

Fertilidade do solo

As plantas de cobertura são muito utilizadas na cafeicultura, provendo uma série de vantagens. Cada vez seu potencial vem sendo mais explorado para aprimorar a qualidade do solo.

Neste intuito, podemos citar o aumento da atividade de fungos micorrízicos arbusculares, que promovem incremento na absorção de fósforo, podendo responder por até 80% na absorção realizada pelas raízes.

Outros benefícios são o aumento de matéria orgânica, CTC, elevação do pH e redução do alumínio, além estruturação do solo com síntese de moléculas agregantes.

Impacto na nutrição

A adubação é um dos principais componentes do custo de produção na cafeicultura, assim como muitas culturas, respondendo por mais de 35% do custo. Atualmente, o mercado de fertilizantes vem apresentando escassez na oferta de produtos, resultando na elevação dos preços dos adubos.

Nesse sentido, a adubação verde pode ser uma alternativa interessante na redução da necessidade de fertilizantes minerais, pelo aporte de nutrientes, além de agregar a qualidade do solo.

Em relação à questão da fertilidade, a Crotalaria juncea possui potencial de fixação de N de até 350 kg.ha.ano-1, com uma produção de 10 a 15 t ha-1 de matéria seca, correspondendo a 41 kg de P2O5 e 217 kg de K2O.

Crédito: Arquivo

Dentre as Poaceaes, a mais comum utilizada na cafeicultura, a braquiária (Urochloa decumbens) pode fornecer  197 kg.ha.ano-1 de N, com uma produção de 12 a 16 t ha-1 de matéria seca, correspondendo a 13 kg de P2O5, 273 kg de K2O, 57 kg de Ca2+ e 43 kg de Mg2+.  Entretanto, o uso de um mix de cobertura tem sido um manejo mais adequado, por proporcionar a vantagem de cada característica das plantas utilizadas no consórcio.

Benefícios

As plantas de cobertura promovem uma série de benefícios que vão além da adubação verde. A própria cobertura do solo em si já traz enormes ganhos para a qualidade do solo, evitando impactos das gotas da chuva, causando erosão, a manutenção da temperatura, evitando que o solo atinja temperatura elevadas, retenção de umidade no solo e reduzindo a evaporação.

As gramíneas normalmente apresentam alta relação C/N, permitindo um maior residual de palhada, ficando mais tempo no agroecossistema, sendo responsáveis pelo aporte de carbono no solo.

As raízes do nabo forrageiro, guandu e crotalária são pivotantes, com crescimento robusto e potencial enorme para a descompactação do solo, facilitando a infiltração da água no solo. Além disso, também possibilitam a redução da população de nematoides dos gêneros Prathylencus e Melodoigyne.

Manejo

A implantação dependerá do tipo de planta, se é recomendada para plantio de verão ou inverno. Assim, é importante identificar a melhor época para completar seu ciclo, pois plantios mais ao final da janela de semeadura resultam em menor produção de biomassa.

A semeadura pode ser realizada com semeadoras a lanço ou em linha, dependendo da espécie da planta. O crescimento inicial mais rápido das plantas de cobertura é indicado para locais com histórico de plantas daninhas de difícil controle.

As plantas de cobertura são cortadas após o florescimento, por ser o período em que há melhor distribuição dos nutrientes na planta. Outra importante estratégia do manejo nesse estádio se dá para que não ocorra a emergência de sementes na linha de plantio do cafeeiro que causem competição e reduções de crescimento e/ou produtividade.

A altura do corte da planta influencia diretamente na rebrota das plantas de cobertura, sobretudo as de ciclo perene. As plantas anuais, tanto cultivadas de forma solteira ou em consórcio (mix de plantas), devem ser semeadas novamente após o ciclo.

O corte após a colheita das sementes pode ser uma opção para a redução do custo, porém, as sementes que caírem próximo à linha de plantio podem competir com o cafeeiro.

Os implementos mais usuais para o manejo das plantas de cobertura são a trincha, roçadora e rolo faca. Quanto mais fragmentos forem realizados os cortes, mais rápido será a decomposição das plantas, acelerando a ciclagem dos nutrientes. O rolo-faca possibilita maior tempo de residual da palhada em comparação com a trincha e roçadora.

Crédito: Paulo Trani

Custo-benefício de plantas de cobertura

O custo de formação de plantas de cobertura na entrelinha do cafeeiro depende das espécies que serão utilizadas, se será um sistema solteiro ou em consórcio, e qual manejo será realizado.

De forma geral, o custo de implantação de mix de coberturas para a cafeicultura está em torno de R$ 117,00 a R$ 385,50 ha-1, somente com as sementes. Entretanto, os benefícios com a cobertura proporcionam melhor agregação da estrutura do solo, matéria orgânica, CTC e aumento da atividade biológica.

Algumas plantas de cobertura, principalmente as leguminosas, podem incorporar ao solo até 200 kg N ha-1 por ciclo, que, fazendo um comparativo, representa 4,5 sacos de ureia.

Erros comuns

Dentre os cuidados com o uso de plantas de cobertura, devemos atentar quanto ao uso de espécies no período correto, plantas de inverno ou verão, para melhor recomendação conforme a janela de plantio.

Outro cuidado com as plantas de cobertura é o risco de serem plantadas muito próximas ao cafeeiro, podendo competir por recursos com água e nutrientes. Plantas de cobertura que têm hábito de crescimento trepador também devem ser bem manejadas para que não subam no cafeeiro e dificultem tratos culturais, como pulverizações de fungicidas ou a colheita.

Novidades

Atualmente, o uso de um mix de plantas de cobertura vem crescendo, em decorrência das vantagens que cada uma agrega ao sistema. As famílias de plantas mais comuns nos mix são as leguminosas, poaceas, brássicas e polygonaceas.

Desta forma, o manejo pode promover palhada com maior residual, aporte de nutrientes, redução da população de nematoides e descompactação solo.

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