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sexta-feira, maio 3, 2024
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Potencial de produção de saponinas

Alguns estudos mostram que as saponinas provenientes das folhas da espécie têm potencial na formulação de vacinas, efeito semelhante ao da espécie chilena.

Christopher Thomas Blum
Engenheiro florestal, doutor e professor – Universidade Federal do Paraná (UFPR)
ctblum.ufpr@gmail.com 
Ageu da Silva Monteiro Freire
Engenheiro florestal e doutorando em Engenharia Florestal – UFPR
ageufreire@hotmail.com
Pedro Henrique Gonzalez de Cademartori
Engenheiro industrial madeireiro, PhD e professor – UFPR
pedroc@ufpr.br
Jaçanan Eloisa de Freitas Milani
Engenheira florestal, doutora e professora – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
jacanan.milani@gmail.com

O Brasil é um país tropical com elevada biodiversidade distribuída por um amplo território. Os produtos florestais não madeireiros, como expressa o nome, são todos aqueles advindos da floresta além da madeira, como folhas, frutos, flores, sementes, casca, resinas e óleos, entre outros.

Créditos: Ageu da Silva Monteiro Freire

Parte desses produtos são usualmente utilizados na medicina popular, sendo bem conhecidos pela população.

Saponinas

Muitas propriedades medicinais das plantas provêm de metabólitos secundários, que são compostos produzidos naturalmente por elas.

Isso vem em resposta a variações nas condições edafoclimáticas, atração de polinizadores ou dispersores de sementes e competição com outras plantas, assim como contra outros estresses, como o ataque de herbívoros e patógenos.

Tais substâncias podem ter composição química estratégica para aplicação medicinal e farmacológica, o que já foi comprovado por muitas pesquisas realizadas nas últimas décadas, demonstrando eficácia na formação de medicamentos.

Dentre estes compostos, podem ser citadas as saponinas, produzidas por algumas espécies de plantas, com aplicação na formulação de vacinas, medicamentos, indústria de cosméticos e alimentícia.

Por isso, é necessário avaliar os métodos de extração desses compostos, visto que, em muitos casos, a planta pode ser prejudicada devido à exploração demasiado intensiva ou até mesmo predatória, sendo necessário estabelecer protocolos de exploração sustentável.

Produção de saponinas em espécies de Quillaja

As saponinas podem ter diferentes aplicações para uso humano. No mundo, uma mais utilizadas para a produção comercial é Quillaja saponaria Molina, espécie arbórea originária do Chile.

Seu nome científico é derivado do termo indígena “quillai”, que significa “lavar o rosto”, devido à formação de espuma que a planta produz. Sobre o uso comercial das saponinas, em nível empresarial vêm sendo realizadas nas últimas décadas pesquisas com a biomassa de Quillaja saponaria no Chile.

Lá, atualmente, existem plantações para maximizar a produção e reduzir a pressão sobre populações em florestas naturais, tornando a produção de saponinas mais sustentável.

A partir dos extratos das cascas de Q. saponaria é obtido o QS-21, uma fração de saponinas utilizada na formulação de vacinas nos maiores laboratórios do mundo, além de ter seu potencial estudado em novas aplicações, como na oncologia, doenças infecciosas e outras patologias.

Viabilidade

A exploração das cascas é economicamente viável em árvores com mais de 25 anos, sendo que o Chile exportava uma média de 800 a 1.000 toneladas de cascas por ano de Q. saponaria, acarretando a derrubada e descascamento de cerca de 60.000 árvores todos os anos, gerando impactos ambientais negativos.

Somente no final da década de 90 um novo processo de produção foi desenvolvido, com utilização de toda biomassa de Q. saponaria, o que reduziu a necessidade de derrubada de árvores.

Tal produção foi ampliada por meio de parceria entre o instituições do setor acadêmico e empresarial, apoiada por um aporte de US$ 2 milhões por meio de programa governamental do Chile para estimular plantações, bem como novos usos de extratos da espécie.

Atualmente, são reconhecidas aplicações na agricultura, produção animal, indústria alimentícia e formulação de vacinas e cosméticos. No Chile, há protocolos para plantios e manejo sustentável de Q. saponaria, como o livro “Buenas Prácticas de Recolección Sustentable para Productos Forestales no Madereros: Quillay {Quillaja saponaria Mol.}”, sendo descritas todas as informações da espécie, como valor cultural, distribuição, ciclo reprodutivo, práticas de manejo em habitat natural, produção de mudas e métodos de coleta de sua biomassa.

Em solo brasileiro

No Brasil, há a ocorrência de Quillaja lancifolia D.Don, cujo nome popular mais conhecido é “saboneteira”. Há registros desta arbórea em São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, assim como nos países vizinhos Uruguai, Argentina e Paraguai.

Essa espécie possui características semelhantes à Q. saponaria, podendo, portanto, também ser promissora na produção comercial de saponinas, uma vez que já existem estudos que mostram seu alto teor de saponinas, de baixa toxicidade e com potenciais efeitos adjuvantes em vacinas.

Potencial na produção de saponinas

A espécie Q. lancifolia está ameaçada de extinção e tem ocorrência naturalmente esparsa e irregular nas florestas nativas, sendo prejudicada por ações humanas, como desmatamento para urbanização e atividades agropecuárias.

Por outro lado, estudos vêm demonstrando que a espécie possui alto teor de saponinas nas folhas, o que representa um potencial vantajoso para o uso sustentável, já que evita a necessidade de se causar danos na casca das árvores, o que em geral ocasiona lesões que prejudicam a planta.

Além disso, alguns estudos mostram que as saponinas provenientes das folhas da espécie têm potencial na formulação de vacinas, efeito semelhante ao da espécie chilena.

Com relação às características silviculturais da espécie, em estudo pretérito realizado no município de Irati (PR), verificou-se que aos cinco anos a espécie apresentava 37,6% de sobrevivência e altura média de 2,1 m, com 0,42 m de incremento anual na altura.

Neste estudo, foi apontada ainda a sua resistência à geada, mas, por outro lado, alto índice de ataques de insetos que afetaram seu desenvolvimento. A espécie também apresenta alta taxa de germinação de sementes e de sobrevivência de mudas provenientes de semeadura direta de sementes.

Em estudo

Atualmente, os presentes autores vêm realizando estudos silviculturais sobre Q. lancifolia. Após cinco anos foi observado que o plantio da espécie por mudas originadas de sementes pode ser viável e a produção de saponinas nas folhas pode ser mais vantajosa do que nas cascas.

Contudo, ainda são necessários estudos com maior aprofundamento no que diz respeito à aplicação destas saponinas, exigindo investimentos em pesquisas na área química, medicinal e farmacêutica, além de estudos silviculturais por períodos mais longos.  

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