Fernanda Aparecida Nazário de Carvalho – Graduanda em Engenharia Florestal – Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) – fernandacarvalhonaz@gmail.com
Gildriano Soares de Oliveira – Engenheiro agrônomo e professor de Engenharia Florestal – IFMG – gilsoaresoliveira@yahoo.com.br
Gabriela Mayrinck Fontes Cupertino – Engenheira florestal e mestranda em Ciências Florestais – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – gabriela.mayrinck01@gmail.com
Ananias Francisco Dias Júnior – Engenheiro florestal, doutor em Ciências e professor do Departamento de Ciências Florestais e da Madeira – UFES – ananias.dias@ufes.br
A seringueira é uma espécie nativa da Amazônia (no Brasil, Peru, Bolívia e Venezuela), sendo conhecida mundialmente por ser a maior fonte de borracha natural, utilizada para fabricar diversos produtos. É por meio do látex, que é transformado em borracha, que se pode fabricar vários produtos com essa base, como o pneu, as luvas cirúrgicas e uma ampla gama de utilizações industriais e bélicas.
Ocupando cerca de 14 milhões de hectares de floresta plantada mundialmente, a seringueira (Hevea brasiliensis) é uma das espécies arbóreas nativas mais plantadas mundialmente. Essa grande extensão é justificada pela grande importância da espécie para os processos, tanto de produção quanto os ecológicos, como o reflorestamento permanente e o sequestro de carbono.
Critérios
Com uma série de benefícios econômicos e ambientais, a preocupação com o sucesso no plantio da espécie se faz necessária. Para que a cultura de seringueira tenha um bom desempenho em sua implantação, produção e utilização, devemos considerar algumas qualidades importantes, como: a rastreabilidade das sementes, de mudas e borbulha, qualidade genética; sanidade superior, sistema radicular com alto vigor e um pegamento mais eficiente quando as mudas são levadas a campo.
Sendo o substrato um dos condicionantes mais importantes para a obtenção dessas características, ele condiciona características físicas e químicas rentáveis, favorecendo o desempenho satisfatório das mudas.
Vale ressaltar a importância deste substrato ser abundante na região do plantio, fazendo com que, assim, seja economicamente viável ao produtor. Além disso, aproveitar os resíduos das atividades agropecuárias e agroindustriais para a composição de substratos tem sido uma solução viável para a muda e para a redução dos impactos ambientais, contribuindo economicamente com o produtor.
Cuidados com a instalação do viveiro
O ambiente ideal para a produção de mudas é o viveiro. E para que essas mudas tenham qualidade, é importante se atentar a alguns fatores. O viveiro poderá ser um ambiente semiprotegido (com sombrite), a pleno sol ou protegido por uma estufa, que é a situação mais indicada para regiões frias.
É importante, para que não ocorra nenhum dano físico ou fisiológico à planta, a bancada suspensa, tendo como altura mínima 40 cm acima do solo. Quando as mudas são produzidas e colocadas em contato direto com o solo, existem grandes riscos de que ocorra um atrito radicular, de modo a “arrebentar” a raiz, devido à possibilidade de sua aderência ao solo, entre outras situações, como o contato com as pragas existentes ali.
Tipos de propagação
A propagação da cultura da seringueira pode acontecer de maneira sexuada ou assexuada, sendo respectivamente via seminal e enxertia. Quando se trabalha com sementes, é de grande valia se atentar a todos os processos, que vão desde a coleta das sementes até o seu plantio.
As sementes de seringueira são recalcitrantes, ou seja, não toleram armazenamento, sem perder parte de seu percentual germinativo. Se coletadas de maneira adequada e colocadas para germinar no tempo imediato, apresentarão taxas de germinação superiores a 80%. As sementes coletadas e armazenadas no tempo de 30 dias podem perder até 50% de seu teor germinativo.
O método de enxertia é realizado comumente utilizando a técnica da borbulhia por placa, nomeado de acordo com a utilização das placas que são retiradas de hastes clonais, tendo casca de cor verde ou marrom.
Na enxertia verde ocorre o aproveitamento dos porta-enxertos mais juvenis, enquanto na enxertia marrom, que é a convencional, retiram-se as placas com gemas dormentes e de hastes maduras.
Qual tipo de substrato utilizar?
Para a produção dessas mudas e porta-enxerto, podem ser utilizados vários tipos de substratos, de diferentes texturas, que podem ser escolhidos considerando o manejo aderido ao viveiro. Mas, qual o melhor tipo de substrato que garante o melhor desempenho das mudas de seringueira?
Pesquisas afirmam que é recomendada a utilização de substratos que sejam à base de casca de pinus na mistura de 40% de textura grossa com 60% de textura fina ou um substrato de textura média, tanto para enchimento do tubete quanto para sacolas plásticas, estando sempre atento se o substrato não manifesta a presença de pragas e microrganismos do solo.
Em resumo, o substrato deve ser obtido de uma empresa registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Mas, existem substratos que podem causar efeito contrário nas mudas. Esse é o caso dos substratos compostos por fibra de coco. Esse tipo de substrato, normalmente, causa desequilíbrio nutricional na muda, devido a sua forte tendência de fixar cálcio e magnésio e liberar potássio.
Isso leva a planta a sinalizar com algumas respostas bioquímicas e fisiológicas, que podem ser observadas visualmente, como por exemplo, folhas finas, com pequenos buracos, marco típico da excludência de potássio.
Manejo
A implantação é mais simples do que se imagina. De modo geral, a semente deve ser enterrada, de maneira que fique apenas uma camada suscinta de substrato sobre a mesma.
Existem três maneiras mais eficientes de semeadura que podem ser adotadas. A primeira envolve colocar uma semente por tubete, aguardando 15 dias após sua germinação, para assim transplantar os porta-enxertos mais vigorosos para outro recipiente – as sacolas plásticas.
A segunda técnica requer a colocação de sementes no germinador, tipo cocho de bancada, com substrato. Aguardar 15 dias para realizar a seleção dos porta-enxertos de maior qualidade e vigor, e transferir para as sacolas plásticas.
Na terceira técnica colocam-se cerca de três sementes (considerando as taxas de germinação das mesmas), de modo direto nas sacolas plásticas. Após 40 dias de germinação, realizar o desbaste, utilizando o mesmo critério em que os porta-enxertos, com maior vigor, deverão estar nas sacolas plásticas.
Irrigação
Seu manejo requer bastante atenção quanto à irrigação. Os métodos mais comuns são a microaspersão e o chuveirinho, podendo também aderir ao gotejamento. É necessário que ocorra a irrigação todos os dias no verão, irrigando cerca de uma ou duas vezes.
Já no inverno é interessante que ocorra essa irrigação a cada dois dias. Um erro comum, que pode prejudicar a sua produção, é a utilização de água de represa, ou até mesmo de córrego, sem que a mesma seja tratada.
Recomenda-se que esse tratamento seja realizado com cloro 5 ppm, evitando assim a incidência de pragas de solo, sendo importante adicionar cerca de 300 mL de água por sacola plástica. Também é de grande importância realizar pulverizações com fungicida, quinzenalmente, como uma maneira de prevenção.
Em situações em que ocorrem pragas, é preciso aderir ao uso de inseticidas. Após 60 dias, para obter uma produção vigorosa, deve torna-se rotineiro aderir ao uso de fertirrigações, com intervalos de três dias, sendo as adubações foliares realizadas a cada quinzena.
É preciso atentar-se quando as plantas estiverem com cerca de 12 mm de diâmetro em sua casca. Esse momento também é propício para realização da enxertia, atendo-se à época recomendada, novembro. É válido ressaltar que, no tempo certo de levar a muda a campo, é importante ater-se ao preparo do solo, permitindo que haja um desenvolvimento ideal do sistema radicular e, posteriormente, a antecipação à produção do látex.
Custo-benefício
Os investimentos para uma produção de mudas de seringueira de qualidade não são baixos. O custo operacional efetivo fica em cerca de R$ 10.555,64; sendo que cerca de 67,2% destes custos são destinados à mão de obra.
Já o custo de produção da seringueira, somado aos preços dos fatores de produção variáveis, teve seu custo operacional total equivalente a R$ 12.457,18/ha e R$ 4,55/kg de coágulo produzido. De forma mais prática, terão que ser produzidos cerca de 2.737,84 kg de coágulo, para suprir os custos totais de produção.