Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo – Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
givago_agro@hotmail.com
Ao se analisar os critérios necessários à escolha da variedade de manga mais indicada ao cultivo, é importante que sejam definidos dois conceitos básicos: variedade e cultivar.
Embora sejam utilizados comumente para designar o mesmo sentido, há diferenças entre os dois termos. O termo “variedade” se refere ao grupo de indivíduos que apresentam semelhanças fenotípicas em várias características, as quais apresentam uniformidade e estabilidade. Sendo assim, estas características o diferenciam de outros grupos ou variedades.
Já o termo “cultivar” se refere às variedades que estão sendo cultivadas, indicando o grupo de indivíduos que apresenta uniformidade quanto às características fenotípicas.
Grupos
No caso da mangueira, as variedades são divididas em dois grandes grupos principais: o grupo Indiano e o grupo Indochinês ou Filipínico. O grupo Indiano inclui as variedades que são monoembriônicas, ou seja, aquelas que apresentam apenas um embrião por semente.
As principais características das variedades desse grupo são o forte aroma, a coloração de casca que varia de róseo a vermelho intenso, e suscetibilidade à antracnose, doença causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides. As principais variedades produtoras de frutos que são comercializados no país e no mundo pertencem a este grupo.
As variedades do grupo Indochinês, também chamadas Filipínicas, são poliembriônicas, ou seja, apresentam o desenvolvimento de vários embriões a partir de uma única semente, além de endocarpos (caroço) longos e achatados.
São pouco aromáticas, e a coloração da casca varia geralmente entre verde-amarelada quando em estágios de maturação mais avançados, sendo também medianamente resistentes à antracnose, ou seja, mais resistentes que aquelas do grupo Indiano.
Comercialmente, não apresentam grande relevância em cultivos comerciais, se destinando apenas à produção de porta-enxertos, por induzirem maior vigor à muda.
Escolha
A introdução de novas variedades pode ser dar por duas formas – por variedades provenientes de outra região ou por resultados de melhoramento genético. Na escolha da variedade ideal, que atenda as finalidades almejadas pelos produtores, é importante considerar que há variedades que se diferenciam quanto à aptidão e características, havendo variedade indicadas para a indústria, para mesa ou para consumo in natura, e ainda aquelas de ampla aptidão, que podem ser consumidas tanto pela indústria como ao natural.
A escolha da variedade de manga a ser cultivada deve estar relacionada com as preferências do mercado consumidor, o potencial produtivo para uma dada região, as limitações fitossanitárias e de pós-colheita da variedade, e principalmente a tendência em médio prazo do tipo de fruto a ser comercializado.
No Brasil, a cultivar Tommy Atkins responde por 80% da produção de manga. Contudo, a prevalência de uma única cultivar nos plantios traz riscos à produção, como a ocorrência de pragas e doenças que podem inviabilizar a produção, podendo se tornar inviável também caso haja qualquer mudança na preferência do mercado consumidor, além de limitar o mercado.
Assim, a escolha da variedade é considerada um dos fatores econômicos mais importantes para o estabelecimento competitivo da mangicultura.
Preferências do mercado
O predomínio da variedade Tommy Atkins se deve ao fato desta cultivar apresentar maior tolerância a pragas e doenças e por seu maior índice de conservação no período pós-colheita.
Além disso, possui coloração avermelhada de casca, o que constitui um requisito básico para a exportação. Contudo, a mesma não é aromática e possui presença de fibras considerada média.
Genética
Existem também variedades brasileiras que foram originadas de programas de melhoramento genético, como:
Embrapa 142, oriunda do cruzamento entre as variedades Mallika e Van Dyke.
Beta, resultado do cruzamento entre ‘Amrapali’ e ‘Winter’.
IAC Espada Vermelha, que descende da variedade Carabao.
Lita, originada do cruzamento entre ‘Amrapali’ e ‘Tommy Atkins’.
Natalina, seleção de polinização aberta.
Roxa Embrapa 141, também oriunda de cruzamento entre ‘Amrapali’ e ‘Tommy Atkins’.
Potencial produtivo
São indicadas características como a aparência externa, o sabor, o odor, o teor de fibras, a textura, o valor nutritivo, o tamanho, a massa e a forma como sendo aquelas que podem servir de suporte para a avaliação da qualidade de manga.
Contudo, essas características podem variar muito, conforme a variedade e o local de cultivo, além de ocorrerem alterações apreciáveis durante o processo de amadurecimento dos frutos.
Pontos de atenção
Em termos de preferência, o produtor deve estar atento que pode haver mudanças na preferência do mercado consumidor, o que pode limitar o mercado consumidor e diminuir os lucros de produção.
Neste sentido, é importante ressaltar que a maioria dos trabalhos de melhoramento que visam a obtenção de novas variedades de mangueira apresentam:
• Produção regular;
• Plantas com hábito anão de crescimento;
• Frutos atrativos e de bom tamanho (350 – 400 g) e alta qualidade para consumo;
• Resistência às principais pragas e doenças;
• Frutos livres de amolecimento de polpa e com longa vida em prateleira.
Contudo, devido a mudanças na dinâmica de mercado ao longo dos últimos anos e atualmente, não somente as mangas para consumo fresco mas também para processamento tornaram-se obrigatórias nos mercados interno e externo, obrigando a seleção de cultivares com dupla finalidade para atender a ambos os segmentos de produção.
É bom lembrar que, em culturas perenes, assim como a mangueira, o produtor deve se atentar a alguns cuidados especiais na escolha da cultivar a ser plantada. A produção rentável, ou seja, que amortiza os custos de produção e traz retorno aos produtores só tem início a partir do terceiro ano, assim, até o terceiro ano de cultivo as plantas acarretaram mais gastos que retorno financeiro.
Características das cultivares
Tommy Atkins: frutos médios a grandes, pesando entre 400 a 700 g, coloração amarela a vermelha-brilhante, superfície lisa, casca grossa e resistente; polpa amarelo-escura, de excelente sabor, doce (17% de açúcares) e pouca fibra. Relativamente resistente à antracnose e ao transporte, mas bastante suscetível ao colapso-interno-do-fruto, que vem a ser uma desordem fisiológica que ocasiona o do amolecimento da polpa.
Haden: frutos médios a grandes, pesando entre 400 a 600 g, coloração amarelo-rosada de casca e polpa sucosa, sem fibras, doce (17% de açúcares), de coloração laranja-amarelada. Cultivar precoce à meia-estação e desenvolvimento vegetativo acentuado. Considerada de elevada alternância de produção e suscetível à antracnose e à seca-da-mangueira, doença causada pelo fungo Ceratocystis fimbriata.
Keitt: frutos grandes, pesando entre 600 a 900 g, coloração amarelo-esverdeada, com laivos fracos avermelhados de casca. Polpa de coloração amarela intensa, sem fibras, sucosa. A planta é muito produtiva, com hábito de crescimento típico, ramos longos e abertos. Quanto à época de maturação, é tardia. É relativamente resistente à antracnose e ao transporte.
Kent: frutos grandes, pesando entre 600 a 750 g, formato oval, casca de coloração verde-claro amarelada, tornando-se avermelhada ao amadurecer e sendo de maturação tardia. Polpa de coloração amarelo-alaranjada, doce, sem fibra, aromática e sucosa. A planta é vigorosa e produtiva.
Palmer: frutos médios a grandes, pesando entre 400 a 600 g. Quando imaturos, apresentam casca de cor verde-arroxeada e ao amadurecer tornam-se corados de vermelho-escuro. A polpa é amarelada, firme e com pouca ou nenhuma fibra. A relação polpa/fruto é de 0,7, com polpa firme, teor médio de fibras e casca fina. Apresenta copa aberta e suscetível à antracnose, mas com pouco colapso interno. O teor de Brix é 19%, o que favorece para o seu sabor superior em comparação a outras de menor Brix.
Espada: frutos médios, pesando entre 200 a 400 g. Coloração verde intenso ou amarelo-esverdeado, formato alongado com base côncava, casca lisa e espessa. A polpa muito fibrosa, coloração amarelada e representa 60% do peso do fruto. Possui Brix variando de 17% a 21%. Apresenta lugar de destaque no mercado interno, além de ser muito utilizada como porta-enxerto. A ‘Espada’ é a mais antiga e comum no país.
Rosa: frutos médios, pesando até 350 g. Coloração amarelo a rosa avermelhado de casca, formato alongado e cordiforme e a casca é espessa e lisa. Polpa de coloração amarelo-ouro, com Brix de 14 a 16% e moderadamente suculenta, fibrosa e de sabor médio. Apresenta semente poliembriônica. É uma das cultivares de maior importância no Nordeste e muito conhecida no Brasil.
Bourbon: fruto pesando em torno de 300 g, com porção apical estreita e encurvada, difundida em São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Ubá: fruto de formato alongado-oval, pesando entre 100 e 150 g e polpa muito utilizada na indústria em Minas Gerais.