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Selênio na soja: atuação na mitigação de estresses

Foto: Shutterstock

Fabrício Custódio de Moura Gonçalves
Engenheiro agrônomo, biólogo, doutor em Horticultura e professor – Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
fabriciocustodiodemouragoncalves@urc.uespi.br

O estresse é uma reação adversa às condições ambientais desfavoráveis ao pleno crescimento e desenvolvimento das plantas, resultando em perdas de produtividade. Nessas situações, ocorre um processo de aumento excessivo dos radicais livres dentro das plantas, os quais causam danos às células e são responsáveis por perdas de até 65% do potencial produtivo das culturas.

Entre as alternativas de combate a essas respostas fisiológicas negativas está a nutrição mineral. Inserimos determinados nutrientes ou elementos benéficos, que vão desempenhar funções específicas dentro da planta, e podemos manejar a concentração, a forma e desenvolver técnicas que vão mitigar esses efeitos negativos do estresse.

O selênio

Atualmente, pesquisas têm testado o uso do selênio (Se), um elemento já utilizado em outras culturas como parte da biofortificação agronômica, que visa combater a deficiência nutricional em humanos, conhecida como fome oculta.

Na soja, os estudos envolvendo o selênio ainda são incipientes. Ao aplicarmos o selênio na planta, ele melhora o metabolismo, podendo aumentar a concentração de clorofilas, combater radicais livres, ativar enzimas, entre outras.

A aplicação desse elemento benéfico, além de fortalecer a planta para as condições de estresse climático, também promove esses outros benefícios, fazendo com que a absorção de outros nutrientes melhore e contribua para uma boa safra.

Associação ao zinco e magnésio

O zinco (Zn) é um micronutriente essencial para o crescimento e reprodução de plantas, pois participa de inúmeros processos metabólicos (síntese de proteínas, carboidratos, hormônios, entre outros), sendo a soja uma das culturas suscetíveis à deficiência de Zn.

Outra característica importante do zinco é que a sua disponibilidade é afetada pelo pH do solo, sendo mais disponível em solos mais ácidos. Isso significa que a calagem excessiva pode provocar deficiência de zinco, no entanto, em solos com pH ácido a deficiência de Zn pode aparecer depois da aplicação de adubos fosfatados solúveis.

O magnésio participa dos processos metabólicos, como a formação de ATP nos cloroplastos para permitir que a planta realize fotossíntese. O nutriente também atua na síntese proteica, formação de clorofila, carregamento do floema, separação e utilização de fotoassimilados, além de contribuir com o desenvolvimento do sistema radicular.

A maior parte do magnésio absorvido pelas plantas de soja permanece nos caules e folhas. Em geral, a cultura da soja necessita de 1,5 a 3,5 g de magnésio/kg de massa seca para condições de desenvolvimento que propiciam qualidade e alta produtividade.

A mobilidade do nutriente permite que ele seja transportado de folhas mais velhas para tecidos novos e pontos de crescimento, favorecendo o sistema radicular e auxiliando na formação de raízes. O magnésio também auxilia no acúmulo de sacarose das folhas para fora, ou seja, amplia o acréscimo de açúcar para outros tecidos de reserva.

Foto: Shutterstock

São poucos os trabalhos que relatam interação entre o zinco e o magnésio. Trabalhando com a parte aérea de trigo, observou-se decréscimo no teor de zinco, relacionado à elevação dos níveis de magnésio na solução nutritiva que, de certa forma, está de acordo com os resultados deste estudo, no caule do feijoeiro, cultivar Carioca, em que houve tendência de diminuição nos teores de zinco, quando 97,2 mg L-1 foram utilizados.

Em contrapartida, pesquisas mostram que a presença de selênio colabora para a translocação de quantidades apreciáveis do elemento Zn das folhas velhas para órgãos de crescimento e raízes, até mesmo quando as mesmas espécies estão em condições de deficiência.

Manejo

A recomendação é que o produto seja aplicado via foliar na soja, na dose de 1,0 kg/ha, no início do desenvolvimento das vagens, conhecida como canivetinho. O estádio reprodutivo é um dos momentos em que a planta está mais suscetível aos estresses do ambiente, devido ao seu elevado gasto energético para produção de flores e vagens.

Resultados de pesquisas têm mostrado um incremento de produtividade da ordem de 3,7% (cerca de 2,47 sc/ha).

A tecnologia com aplicação via foliar na soja atua em três linhas de defesa, trazendo redução no estresse oxidativo:

– Prevenção: atua no sistema fotoprotetor (aumento da produção de carotenoides), dissipando o excesso de energia;

– Ataque direto aos radicais livres que causam danos às células (selênio e zinco atuam na formação de enzimas antioxidantes);

– Promove maior eficiência no processo de transporte dos fotoassimilados produzidos na fotossíntese.

Custo

Em geral, a aplicação de tecnologia à base de selênio tem baixo custo relativo, apresenta facilidade operacional e maior eficiência de uso do fertilizante, eleva a uniformidade na distribuição e disponibilidade de nutrientes na fase inicial de crescimento das plantas.

A aplicação de selênio na cultura da soja tem apresentado excelentes resultados, elevando os níveis nutricionais, principalmente desse elemento, cerca de duas a cinco vezes no grão. Isso significa que os produtores que fizerem aplicação foliar do produto estarão colocando no mercado uma soja ainda mais saudável.

Erros e acertos

De acordo com Turakainem et al. (2005), o selênio tem a propriedade de promover um reforço na capacidade das plantas de combater o estresse oxidativo causado por radicais livres do oxigênio.

Por outro lado, a presença de altas concentrações na planta causa toxidez e ativa reações oxidativas. Nessa situação, as plantas se defendem do excesso de selênio produzindo compostos voláteis. No solo, esse elemento é encontrado principalmente como selenato e selenito, embora possam existir, também, selênio elementar, seleneto e formas orgânicas de selênio.

Importante destacar que nas plantas o selênio apresenta propriedades químicas semelhantes às do enxofre, estando presente em aminoácidos sulfurados como selenometionina e selenocisteína.

As plantas apresentam capacidades diferenciadas de absorção e acumulação de Se do solo, sendo classificados como acumuladoras e não acumuladoras de Se. Em plantas não acumuladoras, como é o caso da soja, o limite de concentração desse elemento é  de no máximo 6 µg-1, ainda que cultivado em solos seleníferos, ou seja, na soja os maiores erros estão relacionados à fonte e concentração adotada de selênio.

Pesquisas realizada por Martinez et al. (2009) mostram que a aplicação exclusivamente via foliar de selênio, para todas as doses testadas, influenciou negativamente a altura da planta, altura do primeiro legume, número de sementes por legume e a produtividade da cultura da soja, cultivar Conquista. 

Produtividade

Apesar de não ser essencial às plantas, o selênio pode conferir diversos benefícios fisiológicos aos vegetais, incluindo aumentos no crescimento e atraso na senescência. Não obstante, a presença de selênio parece promover diminuição dos danos causados por vários estresses, como deficiência hídrica, metais pesados, como, por exemplo, cádmio, temperatura, além de auxiliar na proteção contra infecções causadas por fungos e herbívoros e tolerância ao estresse foto-oxidativo.

Adicionalmente, o selênio participa do sítio ativo da enzima antioxidante peroxidase da glutationa, destacando sua importância na defesa contra espécies reativas de oxigênio (EROs) (Hasanuzzaman; Fujita, 2011).

Não somente a peroxidase da glutationa, mas também as enzimas dismutase do superóxido (SOD), peroxidase do ascorbato (APX) e catalase parecem ter a sua ação beneficiada pela presença de selênio.

Nesse contexto, o selênio também age como cofator na rota biossintética da redutase da glutationa, potencializando, dessa forma, o processo de detoxificação de EROs.

Pesquisas

Resultados de pesquisas mostram que em regiões de baixa altitude e altas temperaturas, sujeitas a veranicos, como o Vale do Araguaia, o estresse na fase de enchimento de grãos pode diminuir a produtividade da soja.

Tecnologia usada por meio de aplicação foliar com selênio ajuda a planta a enfrentar esse período, ou seja, mantendo a sua produção e ainda aumenta os níveis desse elemento à cultura, o que faz com que chegue à mesa dos consumidores um alimento mais completo.

Novidades

O conteúdo de selênio nos solos é altamente variável, encontrando-se valores como 0,005 mg kg-1 em certas áreas da China até valores como 8.000 mg kg-1 em solos seleníferos na Rússia.

É importante mencionar também que cerca de 1,0 bilhão de pessoas vive em regiões com solos deficientes em selênio. Em conjunto, essas informações indicam que tanto a toxidade quanto a deficiência do selênio apresentam-se como problemas de ocorrência mundial.

Estudos indicam a necessidade da suplementação dos fertilizantes com selênio. Em 1998, o Ministério de Agricultura e Florestas Finlandês aumentou o nível de suplementação de selênio nos fertilizantes devido à baixa concentração desse elemento no solo, nos fertilizantes e nos alimentos.

No Brasil, trabalhos com esse elemento são escassos, existindo ainda um indicativo de baixo consumo, portanto, é importante manter-se atento à possibilidade de deficiências de selênio na população brasileira, particularmente nos grupos de baixo poder aquisitivo, que não consomem produtos de origem animal com frequência.

São necessários estudos mais específicos para sua introdução nos alimentos, na tentativa de serem definidas algumas estratégias, como doses, formas de aplicação, bem como o conteúdo desse elemento nos alimentos, animais e humanos, proporcionando um consumo adequado desse nutriente.

Assim, a biofortificação via selênio já é adotada em alguns países por meio de políticas governamentais que incentivam produtores a aplicar determinados nutrientes para melhorar a qualidade dos alimentos que a população consome. É o caso da Índia e da Nigéria, por exemplo, além de contribuir para a segurança alimentar e saúde humana.

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