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Silício no controle de míldio em pepino

Se você está com problemas para controlar o míldio em pepino, o silício é uma opção natural

Fernando Simoni Bacilieri
Engenheiro agrônomo, doutor e professor – UNOPAR – Ponta Grossa (PR)
ferbacilieri@zipmail.com.br
Roberta Camargos de Oliveira
Engenheira agrônoma, doutora e pós-doutoranda em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
robertacamargoss@gmail.com

A demanda por pepino (Cucumis sativus L.) aumentou nos últimos anos. Esta hortaliça do tipo fruto está cada vez mais valorizada na mesa do brasileiro, devido as suas propriedades naturais e compostos bioativos importantes para a saúde humana, sendo um alimento rico em fibra e de baixo teor calórico.
As variedades brasileiras de pepino são divididas em três tipos principais, que são: aodai, caipira e partenocarpo (“japonês”). Os pepinos partenocárpicos têm sido os mais apreciados, e com isso, apresentam crescente expansão no mercado.
É o tipo predominante em cultivos de regiões que possuem consumidores com nível de exigência mais elevado e em condições de cultivo onde há maiores investimentos em técnicas e manejos.

Detalhes importantes

O silício forma uma barreira física e restringe a penetração de hifas fúngicas
Créditos: Shutterstock

O pepino é uma planta herbácea, anual e de hábito de crescimento indeterminado. O caule flexível da planta não suporta o peso dos frutos, portanto, a planta exige suporte físico para impedir o contato dos frutos com o solo e garantir melhor qualidade de frutos.
O tutoramento das plantas também é importante para melhorar a distribuição espacial da planta, tornando a arquitetura da planta capaz de aproveitar melhor a incidência solar e permitir trocas de gases, interferindo na ambiência e, em consequência, na incidência e manejo de fatores como as pragas e doenças.

Fitossanidade

Os fatores ambientais e a nutrição das plantas interferem diretamente na incidência e proliferação de patógenos. A maior disponibilidade de água, maior densidade de plantas, menor captação da radiação solar, menor ventilação, maior retenção de água livre na superfície da folha e monocultivo contribuem para a formação das condições ambientais ideais para o desenvolvimento das doenças.
As doenças podem ser um grande problema no cultivo de cucurbitáceas, como o pepino. Há diversas doenças registradas na literatura, sendo causadas principalmente por fungos, bactérias, vírus e nematoides (doenças bióticas).

O míldio

Uma doença considerada devastadora no cultivo do pepino, em vários países, é o míldio, causado pelo oomyceto Pseudoperonospora cubensis.
Os sintomas provocados pelo míldio são mais destrutivos em função da temperatura e umidade foliar. As estruturas deste patógeno são dispersas pelo ar e gotas de água e, encontrando superfície com umidade (molhamento foliar), podem germinar e instalar a doença na planta hospedeira.
O míldio das cucurbitáceas é exclusivo dessa família de plantas, o que torna a rotação de culturas uma técnica importante para reduzir a taxa de inóculo de uma área. Por outro lado, é importante observar o histórico da área para a presença deste patógeno na área, pois as plantas de cucurbitáceas em contato com o patógeno podem ser infectadas em todos os estádios de desenvolvimento.
Os sintomas iniciais da doença podem ser observados na face superior das folhas na forma de pequenas manchas cloróticas ou amareladas, que se desenvolvem aleatoriamente no limbo e aumentam em frequência e tamanho com a multiplicação dos patógenos.
As folhas mais velhas são as primeiras a apresentar os sintomas da doença, que vai se espalhando para as mais novas.

Prejuízos

As perdas geradas pela evolução da doença podem ser diretas e indiretas – primeiramente perde-se a área foliar, que realiza a fotossíntese e gera as reservas dos frutos. Sem as folhas, os frutos ficam sem a proteção mecânica.
Com a radiação solar incidindo diretamente sobre eles, ocorre a redução na qualidade final e queda no preço de venda.

Controle

O material genético escolhido para ser cultivado é um importante aspecto quando se trata do controle de míldio em cucurbitáceas. A utilização de fungicidas sistêmicos, como fenilamidas e estrobirulinas, são efetivos tanto se usados como preventivos, como também curativos.
No entanto, sabe-se que a resistência é facilmente quebrada pelo surgimento de novas populações de P. cubensis.
A nutrição de plantas causa grande impacto na manutenção da saúde das plantas, tornando-as mais resistentes e tolerantes a fatores desfavoráveis do ambiente. Os nutrientes apresentam efeitos específicos e interativos em todos os aspectos do crescimento e desenvolvimento da planta.
A disponibilidade, absorção, transporte e utilização são variáveis de acordo com os elementos químicos.

Ação do silício

O silício (Si) está relacionado ao controle de doenças, pela formação de uma barreira física que pode restringir a penetração de hifas fúngicas, ou pode induzir o acúmulo de compostos antifúngicos.
Com isso, a nutrição vegetal é fundamental para uma agricultura mais sustentável, com redução na população dos patógenos e o uso de defensivos, em consequência, redução dos custos.
O Si é o segundo elemento mais abundante na crosta terrestre. É consagrado como elemento benéfico devido aos resultados positivos da sua presença no desenvolvimento de algumas espécies e por não ter evidências comprovadas de atender aos critérios de essencialidade para todas as espécies vegetais.
Vários compostos à base de Si têm boas propriedades de umectação, sendo empregado como adjuvante agrícola (espalhante).

Absorção do Si

As plantas absorvem Si como ácido silícico ou ácido mono silícico [Si (OH)4 H4SiO4] pelas raízes laterais e por mecanismos diversos: ativos, passivos e rejeição. Na absorção ativa, a absorção de Si é mais rápida do que a absorção de água; na absorção passiva, a absorção de Si é semelhante à absorção de água e na absorção rejeitiva, a absorção de Si é mais lenta que a absorção de água.
A quantidade de Si absorvido pelas espécies é muito diferente, depende das características do sistema radicular, que determina a capacidade das raízes de absorver, translocar e acumular nos tecidos.
Plantas que absorvem e acumulam em seus tecidos quantidades entre 10 a 100 g kg-1 de Si em peso seco são consideradas acumuladoras, sendo a maioria monocotiledôneas. Plantas que apresentam teor entre 5,0 e 10 g kg-1 de Si em peso seco são consideradas com capacidade intermediária de acúmulo (também em sua maioria monocotiledôneas).
As plantas que apresentam baixos teores de acúmulo (inferior a 5,0 g kg-1 de Si em peso seco) são dicotiledôneas. As cucurbitáceas (pepino) acumulam em torno de 2,0 a 4,0 g kg-1 de Si em peso seco.
O Si interfere no crescimento e rendimento, pela melhoria das propriedades mecânicas (estatura, penetração do solo pelas raízes, exposição das folhas à luz, resistência ao acamamento), redução da transpiração e resistência ao estresse hídrico, resistência à salinidade e a toxicidades de metais.
O Si está relacionado à ligação de proteínas, compostos fenólicos (lignina, polifenóis condensados), lipídios e polissacarídeos (celulose, substâncias pécticas). Absorvido pelas células da raiz, ele é translocado para a parte aérea, onde, nas folhas, é direcionado para formação das células epidérmicas.
Uma vez incorporado nas células epidérmicas das folhas, fica imóvel e não pode mais ser remobilizado para outras partes das plantas (órgãos em crescimento). A deposição na epiderme foliar é conhecida como hipótese da barreira mecânica e relaciona-se à resistência das plantas a estresses bióticos e abióticos.

Como ele age contra patógenos

A relação do Si com os patógenos também conta com a ativação/desativação e regulação genética, capaz de sintetizar proteínas sinalizadoras envolvidas nas interações patógeno-hospedeiro.
As primeiras verificações desta ligação foram observadas na década de 90, sendo uma das primeiras relações estabelecidas entre oídio e Pythium com Si, no cultivo de pepino.
Outros patógenos avaliados na cultura do pepino sob a aplicação de Si também apresentaram supressão no desenvolvimento. Os pesquisadores relacionaram, então, que o Si tinha um papel além do puramente barreira física.
Com investigações a nível bioquímico, detectaram o estímulo à produção de compostos associada à resistência do pepino a patógenos (fitoalexinas), levando à hipótese do desencadeamento de mecanismos de defesa em resposta ao ataque de fungos, na presença de fertilização com Si.
As aplicações de Si podem interferir nos equilíbrios hormonais das plantas e induzir a produção de ácido salicílico, ácido jasmônico e etileno, potencializando respostas de defesa da planta e ativando proteínas específicas que sinalizam componentes-chave para lidar com os estresses da planta às condições do ambiente.
O modo de ação que o Si participa na transdução de sinal pode ocorrer com interações com o fósforo (P), dependendo da espécie da planta, e metais catiônicos, como o manganês (Mn) e o ferro (Fe), que atuam especialmente na estrutura das enzimas.
No solo, o Si se associa ao alumínio (Al) e Mn, reduzindo a disponibilidade destes elementos para absorção e danos ao sistema radicular.

Mais que benefícios

A adição de fertilizantes contendo Si incorporam ao solo os benefícios: melhoria da agregação do solo e retenção de água, pela ligação entre as partículas do solo, formando pontes de sílica. A concentração de Si na solução do solo com pH inferior a 9 varia entre 0,1 a 0,6 mM.
Entre as fontes naturais, Wollastonita é uma das fontes mais acessíveis de suplementação de Si. É um metasilicato de cálcio (CaSiO3) com alto teor de cálcio (Ca- 34,3%) e Si (24,3%) e pequenas quantidades de Al, (Fe), Mn, magnésio (Mg), potássio (K) e sódio (Na).
Outras fontes incluem: calcita, diopsídio, granada, quartzo, escórias e silicato de potássio. A quantidade, o tempo e a duração da liberação de Si é dependente do pH e do teor de argila e matéria orgânica do solo.
Portanto, a recomendação da quantidade a ser aplicada deve considerar estes fatores e a sensibilidade da planta (quanto pode acumular, sem danos). Após a aplicação, ao longo do tempo ocorrem perdas do elemento por lixiviação (solo arenoso) e adsorção (solo argiloso).
Já a aplicação foliar com soluções que contenham Si oferece a facilidade de aplicação e manipulação da dose, sem alterar o pH do solo. Na literatura, há pesquisas com Si aplicado via fertirrigação, que levantam hipóteses da relação dele não só com o aumento da resistência mecânica contra fatores bióticos (insetos), como também produção e liberação de compostos voláteis, que interagem com o ambiente e podem atrair os predadores ou parasitoides da espécie presente na área.

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