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Solarização no controle da raiz rosada da cebolinha verde

Autores

Leandro Luiz MarcuzzoPhD em Fitopatologia e professor – Instituto Federal Catarinense – IFC/Campus Rio do Sulleandro.marcuzzo@ifc.edu.br

Jaqueline Carvalho Graduanda em Agronomia – IFC/Campus Rio do Sul

Cebolinha – Crédito: Shutterstock

Na maioria das pequenas propriedades agrícolas do País com mão de obra familiar, a produção de condimentos é uma importante fonte de renda e sustentabilidade. Entre esses condimentos, a cebolinha verde, conhecida como “cheiro-verde”, é de fácil aceitação pelo consumidor e vem sendo cultivada em maior escala para o abastecimento de agroindústrias e principalmente na comercialização in natura em feiras e supermercados (Ferreira et al.,1993).

Ferreira & Casimiro (2011), analisando a importância da sustentabilidade da pequena propriedade com mão de obra familiar, consideram a cebolinha-verde uma importante cultura que contribui para a qualidade de vida, já que o valor agregado proporciona uma condição de continuidade na propriedade.

Problema de raiz

Dentre as doenças da cultura e também ocorrendo na cebola, a raiz rosada causada por Setophoma terrestris (sin. Phoma terrestris; Pyrenochaeta terrestris) está amplamente disseminada nos países onde se cultiva cebolinha, causando redução da produtividade, pois afeta diretamente o sistema radicular.

No Brasil, a primeira ocorrência foi relatada por Chaves & Erickson, em 1960 em cebola no Estado de Minas Gerais. Phoma terrestris é um patógeno de baixa especificidade que habita o solo e, na maioria das vezes, a cebolinha verde é cultivada em sistema agroecológico, o que leva à sua ocorrência (Lenz, 2005).

A doença incide em todos os estádios do desenvolvimento da planta e o sintoma característico é a coloração rosada parda e marrom causada pelo enrugamento dos tecidos e morte da raiz. A coloração rosada é decorrente do pigmento micelial do fungo presente na raiz infectada.

Após a morte da raiz, a planta passa por um estádio de redução do suprimento de água e nutrientes, o que provoca um menor desenvolvimento vegetativo. As plantas são facilmente arrancadas do solo devido ao apodrecimento das raízes.

No entanto, a coloração rosada e o apodrecimento de raízes não é padrão do patógeno e pode ser confundida com ataque de Fusarium spp., porém, esse forma um crescimento micelial branco na coroa do bulbo.

A diagnose correta do ataque de P. terrestris é confirmada por pequenas pontuações enegrecidas na raiz, que indicam a presença de pcnídios ou primórdios de picnídios. A tonalidade rosada pode não parecer em plantas jovens e ser inibida se a planta tem intenso crescimento vegetativo.

A solarização do solo refere-se a uma técnica de tratamento que ocorre em solo umedecido, o qual é coberto por um filme plástico transparente e exposto à luz do sol nos meses com alta radiação (Souza, 1994). Segundo DeVay (1991). Durante a solarização a temperatura do solo atinge níveis que são letais a muitos fitopatógenos, além de provocar complexas alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas no solo.

Hartz et al. (1989) constataram a eficiência da solarização no controle da raiz rosada e para outras doenças radiculares em cebola (Katan et al. 1980). Mediante essa informação, o objetivo deste trabalho foi avaliar o controle da raiz rosada em cebolinha verde pela solarização nas condições do Alto Vale do Itajaí (SC).

Detalhes

O experimento foi realizado em propriedade agrícola com histórico natural da doença na cultura de cebolinha verde localizada no município de Lontras (SC) (latitude de 27º10’S, longitude de 49º30’W e altitude de 360 metros). Em três áreas de 4,4 m2 (2,2 x 2,0 m) cada, com o solo previamente preparado e umedecido foi colocado um plástico transparente (100µ), enterrado nas bordaduras, que ficou durante 30, 45 e 60 dias para solarização (S) e outras três áreas com mesma dimensão da S, porém, sem a cobertura plástica foi utilizada para o solo não solarizado (NS).

Foi avaliada a temperatura do solo diariamente às 15 horas com um termômetro de solo enterrado a 10 cm de profundidade no centro da área do S e NS. Após cada período de solarização foram transplantadas na região central (1,25×1,00m) de cada área, mudas do cultivar Konatsu, suscetível à doença (Marcuzzo & Carvalho, 2014), com espaçamento entre plantas de 15 x 25 cm, totalizando 50 plantas compostas de cinco filas de 10 plantas.

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Avaliou-se a porcentagem de incidência de raízes infectadas, o peso (g) e o comprimento médio das raízes (cm) em 10 plantas aleatórias nas filas centrais aos 85 dias após o transplantio.

Os valores médios obtidos de cada variável foram submetidos ao teste T para comparar o efeito em cada período de S e NS. Constatou-se que a temperatura máxima obtida em S foi de 33°C nos dias 01; 02; 03 e 23 de janeiro de 2013, enquanto em NS, no mesmo período, obtiveram-se as temperaturas de 27; 28; 27 e 25°C.

A temperatura média obtida durante dos 60 dias no S foi de 27,6°C e no NS de 24,8°C. A temperatura no S refletiu diretamente na faixa ótima de desenvolvimento da doença, que é de 28 a 35°C (Wordell filho et at. Manejo fitossanitário na cultura da cebola, 226p. 2006), fazendo que o percentual de raízes infectadas em S fossem superiores, no entanto, não diferiram do NS nas três épocas de avaliação (Tabela 1).

O nível de incidência em S no período de 30 dias foi superior, comparado aos demais tratamentos, pois neste período obtiveram-se temperaturas ótimas para o desenvolvimento da doença. Quanto ao peso de raízes, não diferiram aos 30 e 60 dias, mas aos 45 dias houve uma diferença superior do NS de 2,2 g em relação ao S, enquanto que para o comprimento de raízes teve diferença superior de NS em relação a S de 4,7 cm para os 30 dias e de 4,6 cm aos 45 dias (Tabela 1).

Isso se atribui que a temperatura em S favoreceu o desenvolvimento da doença e, consequentemente, resultou em menor peso e comprimento de raízes. Porém, com o incremento natural da doença em NS, não houve diferença significativa quando comparado a S aos 60 dias para o peso e comprimento de raízes (Tabela 1).

Ben-Yephet (1988) evidencia que o sucesso da solarização é afetado pelo comprimento do dia e intensidade dos raios solares, o que faz com que altere a temperatura para o controle dos patógenos do solo (Katan, 1981). Na região do Alto Vale do Itajaí (SC) são comuns dias nublados e com alta umidade, o que fez com que a temperatura no solo não se acumulasse mesmo no período de alta intensidade solar, que é no verão.

Isso foi verificado em outros trabalhos conduzidos no Estado e também no Rio Grande do Sul, mas na região sudeste tem funcionado para patógenos de solo.

Resultados

Mediante os resultados obtidos, conclui-se que a solarização é ineficiente para o controle de raiz rosada em cebolinha verde em função das condições climáticas na região do Alto Vale do Itajaí, servindo de base que esse método não tem controle se for utilizado na cultura da cebola na entressafra, já que na região há mais de 15.000 hectares com a cultura e esta doença é amplamente disseminada nas lavouras.

Tabela 1. Porcentagem de severidade de raiz rosada em cebolinha verde e seus parâmetros de avaliação em solo solarizado e não solarizado

Tratamento (%) Raízes infectadas Peso de raiz (g) Comprimento de raiz (Cm)
30 dias 45 dias 60 dias 30 dias 45 dias 60 dias 30 dias 45 dias 60 dias
Solarizado 60,097ns 52,84 ns 53,96 ns 8,5ns 5,3b 7,96,ns 9,7 b   8,3 b 11,3ns
Não solarizado 53,842 44,10 45,75 9,0 7,5a 6,4 14,4 a 12,9 a 11,4
CV(%) 14,62 17,37 17,86 32,16 26,2 32,52 17,94 35,61 29,58

Médias diferem pelo teste de T; C.V (%) = coeficiente de variação; ns = não significativo.

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