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quarta-feira, maio 1, 2024
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Técnicas para produção de teca em sistemas ILPF

As técnicas inovadoras para produção de teca em sistemas ILPF promovem uma integração sustentável entre a agricultura e o cultivo florestal.

Cibelle Amaral Reis
cibelleareis@gmail.com

Daniela Minini
daniminini16@gmail.com 
Engenheiras florestais e mestras em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Kyvia Pontes Teixeira das Chagas
kyviapontes@gmail.com
Engenheira Florestal e doutora em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, denominada ILPF, é um sistema que integra a sustentabilidade e maximização de recursos, quando seu objetivo é intercalar culturas agrícolas, pastagens e áreas florestais em um mesmo espaço, contribuindo para a melhoria do solo, aumento da produtividade e diversificação de renda dos produtores rurais (Figura 1).

O ILPF pode ser uma ótima opção de segurança e rentabilidade, porém, é importante destacar que a sua lucratividade está atrelada aos cuidados necessários de manejo dos seus componentes, principalmente do componente arbóreo, desde a escolha das mudas, preparo do solo até a retirada das árvores do sistema.

Figura 1. Esquema de plantio de teca em ILPF
 Fonte: as autoras.

Por onde começar

O primeiro manejo para a implantação de um plantio deve ser o do solo, priorizando a sua correção e fertilização, visto que uma significativa parcela dos solos brasileiros apresenta intemperização pelo uso intensivo, resultando em níveis elevados de acidez e pobres de nutrientes.

O ILPF pode ser uma ótima opção de segurança e rentabilidade, desde que planejado com cuidado
Créditos: Embrapa

Em relação à teca, este preparo tem grande importância, pois a espécie é exigente quanto ao pH, teores de cálcio, fósforo e magnésio, e baixa tolerância ao alumínio. Em seguida, é necessário o controle prévio de formigas e da matocompetição, práticas que devem ser mantidas nos anos iniciais do plantio.

O controle da matocompetição precisa ser rigoroso e contínuo até os 22 meses nas proximidades das linhas de teca, pois possui efeitos significativos sobre o crescimento. Mudas clonais se desenvolvem mais rapidamente que as seminais, o que influenciará no período de inserção do gado no sistema sem danos às árvores, ao mesmo tempo que contribui positivamente para o conforto térmico do rebanho, ao fornecer sombreamento.

Dicas úteis

A recomendação é que animais mais jovens (até 220 kg) entrem nos pastos sombreados pela teca quando as árvores apresentarem diâmetro à altura do peito (DAP) entre 3,0 e 4,0 centímetros e 3,0 metros de altura.

Outro ponto muito importante que deve ser considerado no planejamento é a prevenção contra o risco de incêndios, já que as árvores de teca são suscetíveis ao fogo.

Logo após o plantio, é necessário realizar a retirada de brotos laterais (desbrota) quando as mudas emitem mais de um broto, eliminando a competição com o caule principal, evitando o comprometimento do crescimento, alinhamento e resistência do caule.

Essa prática deverá ser eventualmente realizada novamente três meses após a primeira desbrota. Visando uma madeira livre de nós e com bom crescimento do tronco, devem ser realizadas desramas periódicas nas árvores.

Ou seja, as desramas devem ser empregadas antes que os galhos atinjam grandes proporções e impactem negativamente o crescimento diamétrico do indivíduo e, consequentemente, a qualidade da madeira serrada.

Por sua vez, os desbastes seletivos ou sistemáticos são importantes para o aumento do valor agregado das árvores remanescentes e obtenção de qualidade de fuste e de madeira de teca, realizados geralmente entre seis a oito anos de idade.

Estes processos têm como objetivo a retirada das árvores com menor diâmetro, troncos torcidos, árvores quebradas, com algum tipo de ataque de pragas e doenças, bifurcados, com galhos grossos e defeituosos. A desrama e o desbaste são práticas essenciais para adequar a luminosidade no sub-bosque, que deve ser entre 50% e 60%.

Arranjo, espaçamento e densidade de plantio

A teca é considerada como uma espécie de crescimento rápido, tem boa aceitação no mercado, boa aclimatação ao território brasileiro, não apresenta toxicidade ao gado e nem alelopatia.

Já existe propagação vegetativa com sucesso, o que impacta positivamente na sua produção e crescimento, contribuindo para uma maior uniformização do plantio em campo. No Brasil, há mais de 90 mil hectares de teca, considerando sistemas ILPF e plantios homogêneos, sendo essa espécie uma das mais utilizadas como componente arbóreo, destacando-se especialmente na região centro-oeste do país.

– Integração com bubalinos

O Brasil é um dos mais relevantes produtores de teca de curta rotação no mundo em razão das condições edafoclimáticas propícias, apresentando baixo risco climático para sua implantação em quase todas as áreas do país, e dos avanços com clones de bom desempenho, aliados a práticas silviculturais de elevado nível tecnológico.

Isso é refletido, por exemplo, no SisILPF Teca, um software desenvolvido pela Embrapa Florestas que simula e permite testar todas as opções de manejo de teca em ILPF de acordo com as condições de clima e solo, dando suporte às atividades de manejo, análise econômica e planejamento florestal.

A teca é uma espécie de grande atratividade, sendo sua madeira considerada um produto de maior valor agregado (PMVA) em razão de seu efeito decorativo e qualidade, viabilizando seu emprego em diversos produtos dos mais distintos setores.

Adicionalmente, os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) têm se mostrado uma excelente alternativa para a renovação/reforma de pastagens degradadas em diversos graus, especialmente em áreas mecanizáveis com solo propício para cultivo agrícola.

Todos esses fatores impulsionam inúmeras pesquisas brasileiras, como é o caso da recente publicação “Teca (Tectona grandis L. f.) no Brasil”, idealizada e executada pela Embrapa Florestas e parceiros.

Estratégias

Sob um viés econômico, existem duas estratégias para o ILPF em termos de adição ou substituição de renda para os produtores no tocante à utilização de teca como componente arbóreo desse sistema.

A primeira estratégia é a adição de renda, que visa maximizar a área útil das árvores, onde a distância das linhas é igual ou maior que 16 metros, enquanto o espaçamento entre as árvores é igual ou maior a quatro metros, perfazendo, portanto, uma área útil de 64 metros quadrados para cada árvore.

Dessa forma, as árvores ocuparão aproximadamente 5% (ou até menos) da área total do terreno e estarão dispostas de maneira a reduzir a competição por recursos (água, luz e nutrientes).

Assim, esses plantios resultarão em ganhos de rendimento em diâmetro, redução dos custos de estabelecimento (menor quantidade de mudas) e manejo das árvores. O cultivo da teca com essa estratégia impactará minimamente na produtividade dos demais componentes que compõem o sistema ILPF, mantendo os serviços ecossistêmicos com adição/composição e diversificação de renda (poupança).

Por fim, esta estratégia é considerada conservadora diante das oscilações econômicas e perspectivas de mercado madeireiro.

Foco direcionado

Em sistemas de ILPF com foco na pecuária, a implantação de linhas simples facilita o manejo das árvores, pois garantirá um maior espaçamento entre linhas, proporcionando um manejo mais simples e eficiente, que exige menor investimento e menor tempo de execução e mão de obra.

Ao optar pela pecuária como componente principal, o produtor não fica dependente do mercado madeireiro, já que a árvore/madeira não é componente principal do sistema, sendo apenas uma adição (poupança).

A segunda estratégia para a condução do sistema ILPF é a de substituição de renda, onde as árvores de teca serão o componente principal do sistema. Os espaçamentos geralmente adotados entre as linhas duplas ou triplas são maiores ou iguais a 3,5 metros (em arranjo quincôncio) e maior ou igual a 4,0 metros entre as árvores.

Neste arranjo, o componente arbóreo interferirá significativamente na produção dos demais componentes, pois a área útil ocupada pelas árvores será maior ou igual a 15% (faixas) do terreno.

O foco desta estratégia são os produtos madeireiros diversos retirados em tempos diferentes do sistema, portanto, há a necessidade de desbastes ao longo do crescimento das árvores até o corte raso.

A prioridade estará na substituição da renda perdida pela inserção de maior volume de madeira no mercado. Esta estratégia é considerada como ousada e pouco eficiente, já que o mercado madeireiro, no momento, apresenta pouca resiliência comercial, portanto, é uma estratégia mais indicada para nichos de mercado já consolidados e com excelente logística.

Vantagens

O cultivo de árvores em quincôncio apresenta uma série de vantagens, incluindo um maior número de árvores por hectare, distribuição mais eficiente no terreno e menor sombra sobre a pastagem.

Essa organização das árvores no sistema ILPF previne que as copas das árvores se inclinem em direção às extremidades, o que reduz a competição. Ademais, a densidade do plantio pode influenciar na produção de biomassa dos demais componentes do ILPF, além de controlar a competição intra e interespecífica entre as espécies.

Ao se planejar um sistema ILPF com foco na pecuária e incorporação da teca como componente arbóreo, devem ser considerados aspectos relativos ao manejo e ambiência animal, circulação e emprego de mecanização, visando o melhor rendimento operacional, além de que todo o planejamento e operações devem ser realizados visando a conservação da água e do solo.

Ainda nesta etapa, deve-se considerar a implantação de mudas clonais de teca, já que o seu desenvolvimento permite a entrada de gado no sistema e no local do plantio mais cedo do que quando do uso de mudas seminais.

Madeira de teca
Crédito Shutterstock

Características

Em relação à ambiência animal, é válido ressaltar que a teca é uma espécie caducifólia, portanto, possui época de desfolha (período seco). Contudo, já se sabe que, quando implantadas em áreas com maior aptidão para teca, esse período sem sombra das árvores é menor.

Por outro lado, em locais que são mais restritos para o seu desenvolvimento, deve ser considerada a introdução de uma espécie arbórea perenifólia (como indivíduos do gênero Eucalyptus ou Khaya) consorciada a cada cinco linhas de teca para garantir o sombreamento para o rebanho.

Planejamento

As técnicas de manejo e planejamento aplicadas serão dependentes do objetivo do sistema: se a ênfase é no componente animal, o design e os tratos silviculturais aplicados serão mais simples e menos dispendiosos, e a densidade do plantio será menor, reduzindo os custos totais com as árvores.

Contudo, se a ênfase é no componente arbóreo, o design e o manejo aplicados para este componente serão mais dispendiosos, pois a densidade do plantio será maior, os tratos silviculturais serão mais numerosos e frequentes, sendo estes últimos voltados para garantir o melhor fuste e, consequentemente, uma melhor qualidade da madeira.

Benefícios ambientais e econômicos

A inserção de teca como componente arbóreo em sistemas ILPF traz benefícios tanto de cunho ambiental como econômico. Para o primeiro, há o potencial alívio de pressões sobre florestas nativas ao reduzir a necessidade de abertura de novas áreas.

Isso é bastante significativo em biomas como o Cerrado e a Amazônia, além de também potencialmente minimizar a insegurança alimentar no tocante à produção de alimentos versus biocombustíveis.

Quando esses sistemas são bem manejados, há menor perda de água e impactos negativos no solo, o que favorece a conservação e otimização da ciclagem de nutrientes, melhorando assim a qualidade do solo.

Além disso, há uma maior eficiência de utilização dos recursos (água, luz, nutrientes e capital investido) e otimização dos processos e dos fatores de produção pela configuração do sistema.

As interações positivas entre os elementos do ILPF resultam em maior produtividade agrícola e maior engorda animal, além do aumento da produção de produtos madeireiros e não madeireiros.

Isso contribui para um fluxo de caixa e rendimento líquido mais favoráveis, além de reduzir os riscos devido à diversificação das atividades. Ademais, essa sobreposição de recursos proporciona uma redução da sazonalidade da mão de obra e, consequentemente, do êxodo rural, ao viabilizar a geração de empregos diretos e indiretos.

Sem limites

O ILPF não possui limitação quanto às unidades de produção e sua área de implantação, sendo aplicável em propriedades de diversos tamanhos.

Esse sistema demanda menos agroquímicos, promovendo uma gestão mais sustentável, contribuindo para a manutenção da biodiversidade e da sustentabilidade na agropecuária. A utilização de fertilizantes nas culturas de grãos na ILPF resulta em economia e redução nos custos de produção, pois possibilita a correção da fertilidade do solo em pastagens e reduz a exposição aos preços oscilantes dos fertilizantes.

A pecuária nesse sistema tende a ser mais resistente às flutuações de preços e possui maior produtividade em comparação com o sistema convencional, já que há um efeito positivo do pasto sobre as culturas de grãos subsequentes, especialmente quando a adubação da pastagem é realizada durante a fase de pecuária.

Em suma, o conjunto de benefícios econômicos, ambientais e sociais, além do viés de sustentabilidade, garantem maior valorização para a propriedade, sendo a integração lavoura-pecuária-floresta uma opção promissora e sustentável para a pecuária.

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