Alessandra Marieli Vacari
Entomologista, docente e pesquisadora nos Programas de Pós-graduação em Ciência Animal e Ciências – Universidade de Franca (Unifran)
alessandra.vacari@unifran.edu.br
Guilherme Gonçalves
guilherme.goncalves@syngenta.com
Agda Braghini
agdabraguine@hotmail.com
Mestrandos em Ciências – Unifran
A produção e comercialização de café é uma das principais atividades comerciais globais, mas o rendimento das culturas depende de vários fatores, entre eles a saúde das plantas. Neste artigo é abordado a viabilidade da utilização de drones de pulverização para o controle de pragas e doenças em cafeeiro.
O rápido desenvolvimento da tecnologia da informação, juntamente com tecnologias avançadas de comunicação sem fio, revolucionou o uso de veículos aéreos não tripulados (VANTs) ou drones em muitas indústrias.
Na agricultura, devido às alterações climáticas e ao crescimento da população global, que causam exigências e riscos sem precedentes no abastecimento alimentar, as tecnologias agrícolas inteligentes e automáticas são necessidades críticas.
Pequenos grandes notáveis
Os drones oferecem uma ampla gama de aplicações para transformar práticas agrícolas tradicionais em Agricultura 4.0, integrando tecnologia avançada para otimizar a produtividade, sustentabilidade e eficiência agronômica.
Os drones agrícolas podem oferecer vantagens multifuncionais, ao possibilitar o desenvolvimento de aplicações inovadoras. Os drones agrícolas integram-se com vários sensores, chips de computação de alto desempenho e novas técnicas para ajudar os agricultores em uma variedade de tarefas.
Por exemplo, os drones podem ser usados para identificar diferentes zonas de culturas que requerem manutenção e manejos variados por meio da detecção em tempo real, ajudando os agricultores a tomar decisões importantes e precisas prontamente.
Além disso, os drones também são a tecnologia chave para alcançar a Agricultura 4.0, que se concentra em aproveitar e integrar a Internet das Coisas (IoT), Big Data, Inteligência Artificial e Robótica para melhorar, acelerar e otimizar vários processos em toda a produção agrícola ou cadeia de abastecimento.
O futuro é tecnológico
A área destinada à cafeicultura no Brasil em 2023, para o café arábica e conilon, totaliza 2,24 milhes de hectares. Entretanto, o aumento da produção de café para atender à crescente demanda mundial tem representado um desafio significativo para os produtores de café.
O rendimento das lavouras de café é influenciado por diversos fatores, como as mudanças climáticas, o desenvolvimento genético e nutricional, a disponibilidade de água e a eficácia das práticas de proteção fitossanitária.
No que diz respeito à proteção da saúde das plantas, tem havido avanços consideráveis no desenvolvimento de tecnologias que aumentam a seletividade e a eficácia dos defensivos agrícolas.
No entanto, a tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários, associada a esses avanços, não acompanhou o mesmo ritmo. Especificamente no contexto das lavouras de café, as aplicações de agrotóxicos frequentemente têm se mostrado ineficazes.
Gestão das pulverizações
A tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários em culturas de café deve ser cuidadosamente gerenciada para evitar perdas de produtos em áreas não-alvo. Portanto, é crucial considerar a posição do alvo, a arquitetura das plantas de café, as condições climáticas, o posicionamento dos bicos, bem como a regulagem e calibração dos pulverizadores.
Outro fator importante relacionado à tecnologia de aplicação é que os volumes de calda geralmente utilizados nas lavouras de café podem variar de 400 a 800 L ha-1, atingindo, em alguns casos, até 1.000 L ha-1, criando uma demanda muito grande e desnecessária de água, além de reduzir consideravelmente a capacidade operacional dos pulverizadores empregados nessa atividade.
Outro fator relacionado à cafeicultura é que existem áreas plantadas em maiores altitudes, o que pode dificultar ou até mesmo impedir a entrada de máquinas e tratores. Devido a todas essas questões abordadas, a utilização de drones se destaca por proporcionar soluções no manejo de pragas e doenças na cafeicultura.
Pesquisas
Estudos conduzidos no Brasil têm avaliado o controle fitossanitário em lavouras de café utilizando drones. Um deles avaliou a eficiência da deposição de gotas de calda em lavouras de café cultivadas em região serrana, associada à eficácia do controle de doenças fúngicas.
Como demonstrado no estudo, o drone pulverizador aplica o produto fitossanitário com um volume de calda reduzido, a uma taxa de 10 L/ha, evitando desperdícios. Em condições climáticas adequadas para a aplicação, as chances de perda do produto devido ao escorrimento e à deriva são mínimas, visto que a densidade das gotas é menor em comparação com o pulverizador tratorizado.
Além disso, o drone dispensa a necessidade de profissionais altamente capacitados para operar equipamentos convencionais de aplicação, especialmente em áreas de topografia complexa, como as montanhas.
Os resultados mostram que o controle de doenças fúngicas por meio de aplicações de fungicidas utilizando drone é eficiente para lavouras de café de montanha.
Mais resultados
Outro estudo verificou a deposição e penetração das gotas nos diferentes terços da planta de café utilizando drone em três volumes de calda 5, 10 e 15 L ha-1. O volume de calda não influenciou a porcentagem de cobertura, a amplitude relativa e nem a densidade de gotas depositadas no alvo, no entanto, melhor penetração das gotas foi observada quando foi utilizado maior volume de calda (15 L ha-1).
Controle biológico
Outro fator importante é a utilização de drones para aplicação de agentes de controle biológico na cafeicultura. No Brasil, a espécie Chrysoperla externa (Neuroptera: Chrysopidae), predador generalista, foi registrada no MAPA para comercialização.
Existem quatro empresas brasileiras que já conseguiram a liberação do registro, sendo o primeiro registro obtido em novembro de 2021. Atualmente, os predadores crisopídeos são liberados no Brasil em grandes culturas, como em cafeeiro, em aproximadamente 150.000 hectares por ano.
Entretanto, outras empresas já solicitaram o registro no MAPA e os predadores poderão ser comercializados abrangendo outras culturas, sendo que a maior parte das liberações atualmente ocorrem em cafeeiro, o que proporcionará o aumento da área tratada.
Custo envolvido
O valor de mercado é próximo de R$ 150,00 o hectare, com liberação de 1.000 ovos por hectare, incluindo os predadores e a liberação com drone. Pesquisas recentes conduzidas na Universidade de Franca pela equipe coordenada pela Profa. Dra. Alessandra Marieli Vacari indicaram resultados positivos no controle de bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Lepidoptera: Lyionetiidae), utilizando predadores da família Chrysopidae (Neuroptera), tanto em laboratório como em campo.
Para que ocorra a produção alimentar estável e contínua, deve-se facilitar a adoção de tecnologias agrícolas, como a pulverização por meio de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) ou drones, para mitigar a escassez de mão de obra e assegurar a segurança alimentar, aliada à produção sustentável.