Ronaldo Machado Junior – ronaldo.juniior@ufv.br – Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutorando em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Herika Paula Pessoa – Engenheira agrônoma, mestra e doutoranda em Fitotecnia – UFV – herika.paula@ufv.br
A cebola (Allium cepa) é a terceira hortaliça de maior importância econômica no Brasil, superada apenas pela batata e tomate. Ela pode ser consumida de diferentes maneiras, in natura, em conservas, desidratada e como condimento. O consumo de cebola per capita no Brasil atualmente é de aproximadamente 4,7 kg por ano.
O volume de cebola consumido pelo brasileiro está em pleno crescimento a partir da década 1980, devido a mudanças alimentares da população. A busca por uma melhor qualidade de vida, tendo como base uma dieta mais saudável, contribuiu de forma determinante para a promoção de um marketing positivo para essa hortaliça.
Pesquisas sobre as propriedades nutricionais de algumas hortaliças evidenciam a cebola como um dos principais integrantes do grupo alimentar denominado “nutracêuticos”, ou grupo de alimentos funcionais. Com efeito, esses resultados também promoveram a expansão do consumo dessa hortaliça.
O impulsionamento da demanda naturalmente proporcionou ambiente comercial favorável para expansão da produção e do mercado da cebola nas diferentes regiões produtoras do Brasil.
Profissionalismo
Para conseguir atender a demanda, os produtores de cebola têm se tecnificado cada vez mais e incorporado diferentes tecnologias à sua lavoura para alcançar altas produtividades. Um dos principais fatores que influenciam a produtividade e desenvolvimento da cebola é a nutrição da planta. Os solos brasileiros são, em sua maioria, naturalmente ácidos e pouco férteis, apresentando restrições ao desenvolvimento da cebola.
Além dessa acidez natural, o cultivo do solo promove uma acidificação contínua pelo uso de determinados adubos. Portanto, o uso de corretivos da acidez e de adubos é de grande importância para a produção. Convém enfatizar que o tipo e a quantidade de calcário e adubos devem ser definidos com base na análise de solo da área que se vai cultivar.
A determinação da quantidade de nutrientes e sua aplicação na forma e momento mais adequados para as espécies vegetais são influenciadas pelas características da planta, do solo e do ambiente de cultivo. Além das características botânicas da cebola, deve-se conhecer a função dos nutrientes, os sintomas de deficiência e toxidez, as formas de absorção e transporte destes, a curva de crescimento, a disponibilidade e eficiência de recuperação de cada nutriente adicionado no solo, para se calcular a necessidade de calagem e adubação.
Atenção
Os macronutrientes nitrogênio (N) e o potássio (K) merecem certa atenção nesta cultura, sendo K o nutriente mais importante, seguido pelo N. Várias pesquisas constataram interação significativa entre nitrogênio e potássio na produtividade de culturas formadoras de órgãos de reserva subterrâneos.
Assim, tais elementos devem ser aplicados no plantio e em cobertura, parcelados, na forma sólida ou juntamente com a água de irrigação, em fertirrigação. Já o fósforo, enxofre e os micronutrientes são aplicados de uma única vez e de forma localizada, no plantio.
O potássio atua nos processos osmóticos, na síntese de proteínas e na manutenção de sua estabilidade, na abertura e fechamento dos estômatos, na permeabilidade da membrana e no controle do pH da célula. Ele aumenta a tolerância a doenças e propicia melhor formação do bulbo e maior conservação pós-colheita, sendo essencial o balanço K:N para o bom desenvolvimento e qualidade da cebola.
Sua deficiência se caracteriza pelo murchamento das folhas; as mais velhas apresentam coloração amarelada, progredindo para o secamento das pontas, reduzindo também o desenvolvimento dos bulbos.
Pesquisas
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Estudos indicam que a cultura extrai cerca de 190 kg de K2O/ha, sendo que a adubação potássica deve ser aplicada até 30% na semeadura e o restante parcelado de três a seis aplicações ao longo do ciclo. É necessário adicionar 20% à quantidade calculada para compensar perdas. Importante lembrar que é necessário ter cuidado com a interação com Ca e Mg, uma vez que a aplicação inadequada de K pode causar competição entre os nutrientes.
O acúmulo de nutrientes, em especial de N e de K, é intenso, com início de formação dos bulbos. Assim, antecedendo essa fase e até o surgimento dos bulbos classe 02 é importante fornecer boa parte da adubação de cobertura, especialmente com N e K;
Alguns cebolicultores têm realizado as adubações nitrogenadas e potássicas (para solos pobres em K) baseando-se na produtividade esperada e aplicando 1,83 kg de N e 2,02 kg de K2O por tonelada de cebola. Em solos ricos em K, a adubação potássica é reduzida para 1,25 kg de K2O por tonelada de cebola.
Relatos de produtores indicam que a utilização de aminoácidos no processo de fertilização da cultura também pode incorrer em aumento de produtividade. Esse aumento está relacionado a um possível aumento no fornecimento de energia e melhora na capacidade do carreamento de fotoassimilados.
A teoria é que a utilização de aminoácidos pode melhorar a absorção, transporte e assimilação de K pelas plantas. Sendo assim, além de melhorar a ação do nutriente na planta, os aminoácidos trabalham na redução de perdas de fertilizante, uma vez que potencializam a absorção.
De maneira simplista, a influência do K no enchimento de bulbos da cebola se dá, especialmente, pela regulação osmótica. Aumentar a disponibilidade desse nutriente durante a fase de enchimento de bulbo significa promover melhor entrada de água e fotoassimilados e, por consequência, causar melhorias no enchimento de bulbos.
Os aminoácidos, por sua vez, ao melhorar a capacidade da planta em absorver o nutriente potássio, maximiza esses efeitos, proporcionando um enchimento de bulbo mais eficiente.
Resultados de pesquisas apontam que em condições experimentais controladas, a dupla potássio + aminoácidos pode trazer ainda outros benefícios para a cebola, incluindo maior rusticidade para tolerar condições de estresse. A aplicação de aminoácidos nessas pesquisas promoveu ainda uma maior estabilidade das membranas celulares, e atuaram como sinalizadores, promovendo a indução de resistência contra agentes abióticos e bióticos.
Custo-benefício
Com relação ao custo-benefício, considerando que a aplicação do complexo potássio + aminoácidos pode aumentar a eficiência de absorção do potássio, haverá redução nas perdas de fertilizante, e aumento da eficiência de utilização desse nutriente, o que, em nível de produção, significará bulbos com melhor enchimento e maior peso.
Isso é positivo para o produtor, por aumentar seu volume produzido e para o consumidor, pela produção de bulbos com melhor qualidade.