Autora
Nilva Terezinha Teixeira – Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora de Nutrição de Plantas, Bioquímica e Produção Orgânica do Centro Universitário do Espírito Santo do Pinhal (Unipinhal)nilvatteixeira@yahoo.com.br
O alho é uma das hortaliças mais antigas: o seu emprego data do período Neolítico (5.000 a.). Na antiguidade a sua importância era equiparada à do sal. Hoje, estes poderosos bulbos vêm sendo extensivamente estudados pela ciência.
O alho é uma cultura extremamente importante. Seu emprego não é apenas culinário. É um antibiótico natural, estimulante de apetite, auxilia na digestão de alimentos, evita a acidez estomacal, ajuda a reduzir o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, asma e alguns tipos de câncer.
Na agricultura, as propriedades antifúngicas, bactericidas e inseticidas fazem com que o alho possa ser usado no controle de pragas e doenças, o que é praticado na agricultura orgânica.
No Brasil, o cultivo de alho emprega milhares de pessoas e movimenta bilhões, anualmente, na economia. nacional, sendo explorado, em grande parte, por pequenos e médios produtores. Por aqui, o consumo de alho apresenta aumento de 4% ao ano, enquanto a área plantada vem reduzindo e, por isso, há dependência de importações.
Obstáculos
Entre os problemas que acometem a cultura do alho, tem-se o superbrotamento, ou seja, o pseudoperfilhamento, que se caracteriza pelo surgimento de brotações laterais e alongamento das folhas de proteção dos bulbilhos.
As plantas ficam com aparência de touceiras e os bulbos ficam abertos, o que os inviabiliza para a comercialização. Tal problema pode ser decorrência de fotoperíodo curto e temperaturas baixas, excesso de irrigação e de adubação nitrogenada e o emprego de vernalização.
Sabe-se que em alhos nobres vernalizados a ocorrência do problema em questão é mais preocupante. A vernalização, que consiste em colocar os bulbos-sementes em baixas temperaturas por um determinado período e que visa a redução de exigências de fotoperíodo e a temperatura, estimula o acúmulo de citocininas e giberelinas, prejudicando o equilíbrio hormonal, o que pode ocasionar o superbrotamento.
Outro fator que pode causar o superbrotamento do alho, como se citou, é o excesso de água. Os produtores, para minimizar o problema, têm lançado mão de reduzir a irrigação, o que pode causar problemas à cultura, que é exigente em umidade.
Pseudoperfilhamento – entenda
Mas, qual a razão da redução de irrigação ajudar a evitar o pseudoperfilhamento? A fisiologia da planta responde. Quando as plantas estão expostas ao estresse hídrico, e também a outros agentes, ocorre, relativamente, grande produção de ácido abscísico (ABA) nas folhas, visando regular a abertura e fechamento estomático.
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Pesquisas indicam que o ABA está relacionado à formação dos bulbos em alho e as giberelinas seriam o fator responsável pelo superbrotamento. A maior síntese de ABA, em condições de estresse hídrico, possivelmente interfere no balanço hormonal das plantas, diminuindo a atividade das giberelinas e, assim, reduz a incidência de plantas com superbrotamento, elo de estabelecimento do equilíbrio hormonal das plantas.
Então, a redução de irrigação pode realmente ajudar na diminuição do superbrotamento. Porém, a cultura é exigente em água. Então, como resolver a questão? A inclusão de extratos de algas marinhas pode auxiliar.
A inclusão das algas marinhas no cultivo de plantas tem proporcionado efeitos positivos. Entre os efeitos benéficos proporcionados pela adição de algas marinhas no processo produtivo vegetal estão: a recuperação ou indução de resistência das plantas aos estresses abióticos e bióticos, entre os quais os causados pelo déficit hídrico, que pode ser causado pela redução de irrigação no cultivo do alho.
A explicação
As algas marinhas são fontes de várias vitaminas e de outras substâncias, como glicoproteínas, como o alginato e aminoácidos, como a prolina, são ricas em estimulantes naturais como: auxinas (hormônio do crescimento que governa a divisão celular), giberelina (que induz floração e alongamento celular), citocininas (hormônio da juventude, retardamento da senescência) e abscísico (ABA), em quantidades equilibradas.
É fonte de antioxidantes, substâncias produzidas a partir do metabolismo secundário das algas, que estimulam a proteção natural dos vegetais contra pragas e doenças. Tornam as plantas menos vulneráveis às variáveis abióticas, como temperatura, raios ultravioletas, salinidade, seca, etc.
Ainda, as algas melhoram a agregação do solo, minimizando a erosão e otimizando a aeração, aumentando a capacidade de retenção e de movimentação da água, desenvolvimento de raízes, além de fertilizá-lo. O seu elevado teor de hidrocoloides também permite às algas condicionarem propriedades do solo que permitem a liberação lenta de minerais e moléculas ativas e manter a umidade do solo de acordo com a necessidade das plantas.
Como as algas marinhas favorecem a divisão celular, por serem ricas em estimulantes naturais e nutrientes, seu emprego melhora o enraizamento dos vegetais, o que possibilita o melhor uso do solo, de água e de nutrientes. Assim, o enraizamento será mais abundante e eficiente.
Portanto, ao se cortar o fornecimento de água, o uso eficiente da mesma é importante, lembrando que os prejuízos causados às plantas pelo estresse são avaliados pela sobrevivência, crescimento e a produtividade ou processos assimilatórios, como a absorção de CO2 e nutrientes. E as algas marinhas, por seu rico conteúdo, podem aumentar a resistência inata das plantas.
Como se citou, as algas são seres muito ricos, por exemplo: têm alta concentração de alginato, um polissacarídeo que compõe a estrutura da parede celular das algas e que faz com que elas armazenem água nas células e permaneçam hidratadas por todo o período que passam expostas ao sol.
O alginato desempenha no solo o papel de reter água e agregar as partículas do solo, proporcionando um ambiente ideal para o desenvolvimento das raízes e absorção dos nutrientes. Ainda, tem-se que o aminoácido prolina, presente nas águas, também protege contra problemas causados por rico e déficit hídrico.
Na composição das algas há outros elementos chaves no processo: a presença da prolina, que é um aminoácido relacionado à resistência ao déficit hídrico e à composição equilibrada de bioestimulantes.
Manejo
Há produtos em pó e na forma líquida que podem ser empregados via solo e foliar. Doses dependem do produto escolhido. Há sugestões, para formulação líquida, de emprego de 1,5 até 4 L por via foliar e por fertirrigação. Outra recomendação é o uso, em aplicação foliar: de 75 – 150 g/hl e, por fertirrigação, adicionar 2 – 4 kg/ha.
Quanto às épocas, indica-se empregar durante o ciclo vegetativo, com intervalos de 10 a 15 dias. Entretanto, o uso deve ter a indicação de um técnico especializado. O ideal é não esperar o problema aparecer, porém, se há condição estressante, a melhor opção é o uso imediato.