Camila Queiroz da Silva Sanfim de SantAnna
Engenheira agrônoma – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)
agro.camilaqs@gmail.com
Paulo Henrique Santarosa
Engenheiro agrônomo – ESALQ/USP
santarosa.pauloh@gmail.com
A fruticultura tem uma grande importância no cenário do agronegócio brasileiro e nesse nicho a cultura da banana destaca-se em relação ao consumo e à produção. A banana é a fruta mais consumida no Brasil e, de acordo com a Embrapa (2022), o Brasil é o 2° maior produtor mundial desta cultura.
Muitos são os fatores que implicam no sucesso do manejo dessa cultura, desde a escolha da cultivar, com obtenção de mudas de procedência, até o local de plantio e o tipo de manejo adotado.
Nutrição
Especificamente quanto aos fatores nutricionais, a bananeira é uma cultura bastante exigente em disponibilidade de nutrientes para o seu crescimento e produção, sobretudo quanto aos macronutrientes potássio, nitrogênio, cálcio, magnésio, enxofre e fósforo e micronutrientes boro e zinco.
A saber, o cálcio é o terceiro nutriente mais importante para a cultura, atuando diretamente no crescimento e desenvolvimento de raízes.
A exigência nutricional desta cultura é distinta em função da variedade utilizada e do ciclo da planta. Quando ocorre o desequilíbrio da quantidade presente no solo e do exigido pela planta, acarretam alterações, que em seu estágio mais avançado são visuais, como tamanho de folhas, porte, coloração e processo de produção.
Deficiência
Os sintomas de deficiência são percebidos de diferentes formas quanto à disponibilidade de determinado nutriente. O Quadro 1 pontua esses sintomas observados nas folhas e nos cachos e frutos da bananeira.
Quadro 1. Sintomas de deficiências nutricionais mais comuns em folhas, cachos e frutos de bananeira.
Realidade brasileira
Os solos brasileiros, em geral, apresentam elevada acidez, o que implica em redução do pH e afeta a disponibilidade de nutrientes, prejudicando a absorção dos elementos benéficos e aumentando o alumínio tóxico.
A aplicação de carbonato de cálcio e de magnésio, que compõem o calcário, técnica conhecida como calagem, é uma das práticas agrícolas mais tradicionais para a correção da acidez e mitigação da disponibilidade dos elementos tóxicos para as plantas.
Como características principais, a calagem atua nos primeiros 20 centímetros de profundidade do solo e precisa ser incorporada ao mesmo, devido a sua solubilidade extremamente baixa, o que dificulta sua ação em maiores profundidades do perfil do solo.
Sulfato de cálcio
De maneira a potencializar os efeitos da calagem, possibilitando o fornecimento de alguns nutrientes, mormente cálcio e enxofre em maiores profundidades do solo devido a sua alta mobilidade, o uso do sulfato de cálcio, técnica conhecida como gessagem, funciona como um excelente condicionante do solo.
São notórias as vantagens do uso de sulfato de cálcio, que além deste, possui em sua composição enxofre, implicando no aumento do sistema radicular em profundidade e, consequentemente, na maior absorção de nutrientes e água, promovendo, assim, maior tolerância ao ataque de pragas, maior produtividade e maior tolerância aos períodos de estiagem, vez que nesses períodos a água armazena-se nas camadas mais profundas e o aprofundamento radicular permitirá a busca de água em subsuperfície.
A melhor estruturação do sistema radicular também promoverá um melhor suporte para a planta, sendo observado por alguns produtores que realizam a prática de gessagem a minimização do tombamento das plantas.
Destaca-se, também, a redução da saturação de alumínio em subsuperfície, pois o sulfato de cálcio, quando em contato com a água, reage com alumínio tóxico (Al+3) para as plantas, formando um sal não tóxico, o sulfato de alumínio – (Al2(SO4)3 – que é pouco absorvido pelas raízes.
Análise
Para uma recomendação correta de gessagem, é essencial que seja realizada a análise química do solo, a qual mensurará a quantidade de nutrientes e de elementos tóxicos para a planta.
A referida análise deve proceder nas camadas de 20 a 40 centímetros de profundidade, tendo como indicativo para sua aplicação os teores de alumínio, cálcio e enxofre encontrados no solo.
Recomenda-se o uso do gesso agrícola quando a análise de solo apresentar uma ou mais características, de acordo com o corroborado em literaturas, como teor de cálcio menor que 0,5 cmolc.dm-3; alumínio maior que 0,5 cmolc.dm-3; saturação por alumínio (m%) maior que 20%; e saturação por bases (V%) menor que 35%.
Há vertentes quanto à recomendação de aplicação, sendo que uma delas é que se realize um a três meses posteriores a aplicação da calagem e outra que se misture com o calcário, pois permitirá distribuição mais homogênea, maior facilidade na aplicação, além de economia na aplicação.
Na literatura, também se sugere que a época de aplicação vá de encontro ao objetivo, se for utilizado como nutriente, aplica-se no plantio junto com a adubação fosfatada. Se for aplicado como condicionante de solo, aplica-se a lanço na superfície, incorporado ou não.
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O custo de aplicação é variável, a depender do tipo de material e dosagem do produto a ser considerado. Erros de subdosagem podem implicar no aumento dos custos de produção sem conseguir obter benefícios na produtividade, assim como o excesso de gesso culmina na translocação de nutrientes para camadas mais profundas, não promovendo melhorias, mas sim causando deficiência nutricional na superfície, sobretudo quanto ao magnésio e potássio.
Desta forma, recomenda-se a consulta de um profissional capacitado para que seja feita a devida recomendação quanto à aplicação de fontes de cálcio e enxofre solúveis para obtenção do sucesso do cultivo do seu bananal.