Fernanda Lourenço Dipple
Engenheira agrônoma, mestre em Ambiente e Sistemas de Produção e professora – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
fernanda.dipple@unemat.br
O gênero Azospirillum é um dos mais conhecidos no mundo entre as bactérias promotoras de crescimento vegetal, sendo que estudos mostraram efeitos positivos em diversas espécies. Na cana, o maior número de folhas proporcionado por Azospirillum permite uma maior captação da radiação solar e da taxa fotossintética, levando ao maior acúmulo de matéria seca.
O uso de inoculantes com bactérias promotoras de crescimento (BPC), as fixadoras biológicas de nitrogênio (FBN) em soja é de conhecimento popular na agricultura brasileira, com a descoberta das bactérias da espécie dos Azospirillum sp. promovendo a fixação biológica de nitrogênio em eudicotiledôneas (na soja com a coinoculação de Bradyrhizobium sp. mais Azospirillum sp.) e monocotiledôneas, como o milho.
Desde então, cresceram os estudos aprofundados dos benefícios e compatibilidades com outras culturas, como a cana-de-açúcar.
Azospirillum x crescimento vegetal
O mercado de produtos biológicos está crescente no agronegócio brasileiro, devido à especificidade e segurança na saúde da planta, como no controle de doenças e pragas. As espécies de Azospirillum são bactérias, gram-negativas, que foram descobertas colonizando desde o rizoplano e em simbiose com as raízes, colmo, bem como a parte aérea de diversas culturas, como a cana-de-açúcar, e em diversos tipos de solo.
A utilização de forma aumentativa destas bactérias replica o que a natureza faz, pois os microrganismos têm papel prioritário na decomposição dos resíduos vegetais e na liberação dos macro e micronutrientes no solo.
Essa simbiose é uma via de mão dupla, em que as plantas fornecem nutrientes para as bactérias, enquanto a bactéria Azospirillum promove benefícios diretos e indiretos às plantas, como a fixação biológica de nitrogênio, solubilização do fósforo em solução pelo ácido orgânico glucônico (produzido pelas bactérias), promove a síntese de fitohormônios, como auxinas, citocininas e giberelinas que aumentam o desenvolvimento e proteção do sistema radicular das plantas, além de alterações positivas em metabólitos secundários, que ajudam a planta a tolerar estresses hídricos, além de promover resistência ao ataque de patógenos.
Além destes benefícios, o uso de Azospirillum pode reduzir custos de produção, pelo menor consumo de adubos nitrogenados, bem como aumento da produtividade.
Benefícios para a cana-de-açúcar
Existem diversas pesquisas com uso de Azopirillum em cana-de-açúcar promovendo benefícios, dentre eles:
Aumentar positivamente a microbiota do solo;
Realizar a fixação biológica de nitrogênio;
Redução do uso de fertilizantes nitrogenados químicos;
Diversas formas de aplicação, como inoculação e aérea;
Possibilidade de aumentar o desenvolvimento e crescimento das raízes;
Produção de fitohormônios e aumento de atividade fotossintética;
Maior expansão foliar e biomassa de plantas;
Melhor condutância estomática, tolerância à seca e salinidade;
Proporcionar solubilização e liberação de fósforo em solução;
Aumento da absorção de macro e micronutrientes;
Aumento na resistência a patógenos;
Maior produtividade.
Captação de radiação solar
O nitrogênio é um dos elementos químicos fundamentais para estabelecer e proporcionar altos rendimentos às culturas, por ser constituinte de todos os aminoácidos, enzimas e processos bioquímicos.
Outro ponto de destaque que é um adubo de alto valor agregado interferindo diretamente no custo de produção, que pode ser substituído em até 40% com o uso de Azospirillum na cana-de-açúcar.
Além da FBN, essas bactérias melhoram o aproveitamento, absorção de nutrientes e de água, o que, em monocotiledôneas, promove maior efetividade fotossintética.
Plantas com sistemas radiculares mais desenvolvidos, maior taxa fotossintética e disponibilidade de nutrientes em solução possuem mais capacidade de respostas a adversidades e possibilidade de aumentar os rendimentos dos colmos e parte aérea.
Recomendações
Ressalta-se que, para a cana-de-açúcar, os estudos ainda são recentes, porém, outros são necessários para definição do momento ideal de aplicação desse bioproduto na cultura.
As bactérias do gênero Azospirillum são diazotróficas endofíticas facultativas e a aplicação via foliar torna-se uma alternativa de inoculação, que além de evitar possíveis incompatibilidades com determinados tipos de agroquímicos, tem a finalidade de melhorar o estabelecimento destas bactérias, já que elas podem se translocar, penetrar via estômato e colonizar as raízes via xilema.
Existe apenas um inoculante comercial para a cultura da cana-de-açúcar no Brasil oriundo da espécie Nitrospirillum amazonense cepa BR 11145. A utilização de Azospirillum em cana-de-açúcar é feita basicamente a nível de pesquisa. Existem estudos com cepas de A. brasilense Ab-V5 e Ab-V6, com resultados promissores.
Fique de olho
Primeiramente, é importante que o produto apresente o número de registro no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Outro ponto é que se tratam de microrganismos, portanto, observe o tempo de aplicação e a recomendação do fabricante, bem como ao prazo de validade do produto após aberto.
A conservação do inoculante deve ser em local protegido do sol e arejado. Até a utilização, as temperaturas não devem ser superiores a 30ºC. Não ultrapassar a dose no sulco ou foliar.
Pesquisas
Trabalho publicado em março de 2023 na European Journal of Agronomy mostrou que a inoculação da cana-de-açúcar com Azospirillum brasilense cepa Ab-V5 aumentou a produtividade de colmos e de açúcar (entre 10 e 20%, dependendo a dose utilizada do inoculante) em comparação ao tratamento controle, quando o biofertilizante foi aplicado tanto no sulco de plantio quanto no tratamento da soqueira (via drench), ou via foliar no estádio de perfilhamento.
Outros estudos demostraram que a aplicação de inoculante contendo Azospirillum brasilense durante a fase de crescimento inicial das plantas tem efeito benéfico no desenvolvimento da cana-de-açúcar somente quando associado com altas doses de nitrogênio em cobertura.
Também foi observado que a aplicação de Azospirillum incrementou fósforo em genótipos de cana-de-açúcar. Porém, a utilização de inoculação com BPC e FBN promove muitos benefícios diretos à saúde das plantas e do solo, sendo uma alternativa a diversas culturas.
