Carlos Antônio dos Santos
Engenheiro agrônomo e doutor em Fitotecnia/Produção Vegetal – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
carlosantoniods@ufrrj.br
Laura Carine Candido Diniz Cruz
Engenheira agrônoma e mestranda em Fitotecnia – UFRRJ
Margarida Goréte Ferreira do Carmo
Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e professora – UFRRJ
A couve-flor (Brassica oleracea var. botrytis) é uma planta exigente em fertilidade do solo, temperatura e em cuidados durante o ciclo, pontos estes que devem ser considerados para a correta implementação da lavoura visando a produção de inflorescências, ou “cabeças” de alta qualidade.
Com isso, é essencial a realização de planejamento criterioso e com bastante antecedência em relação ao plantio. Neste planejamento devem constar itens como escolha da área, avaliação de fertilidade e de necessidade de correção de acidez e da adubação de plantio, disponibilidade de água e métodos de irrigação, definição da época de plantio e, em paralelo, da(s) cultivare(s) que melhor se adeque(m) às condições climáticas previstas para o referido local e período.
Além destes itens, deve-se pensar também no preparo do solo e na produção das mudas.
Por onde começar
Para o planejamento da safra de inverno que se aproxima, devem ser priorizadas cultivares mais exigentes em frio para cultivos em regiões tipicamente mais frias e/ou em áreas de maior altitude.
Para regiões mais quentes, ou que não têm inverno rigoroso, também é possível produzir couve-flor no inverno, desde que se utilizem cultivares menos exigentes em frio, ou seja, de meia-estação ou de verão.
Ciclo
A couve-flor apresenta ciclo médio a curto e grande capacidade de extração de nutrientes, requerendo, assim, cuidados especiais quanto ao manejo da fertilidade do solo. Apresenta melhor desempenho em solos férteis, mais argilosos, de boa drenagem, profundos e com elevado teor de matéria orgânica.
Dentre os parâmetros de fertilidade recomendados para a couve-flor estão: pH próximo à neutralidade (pH=6,5), com alta saturação por bases (V =80%), e teores de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) superiores a 3,0 cmolc dm-3.
Esta espécie também é pouco tolerante ao alumínio tóxico (Al3+), que pode comprometer o desenvolvimento das raízes e limitar a absorção de água e de nutrientes, prejudicando, assim, o desenvolvimento da planta.
Calagem
Como a maioria dos solos brasileiros não apresenta estas características, a calagem passa a ser uma grande aliada do produtor na melhoria destas condições de solo. O primeiro passo para a realização da calagem do solo é a coleta de amostras de solo da área e o envio para laboratório credenciado para identificação dos atributos de fertilidade.
Estas informações irão nortear a necessidade de calagem e, posteriormente, o manejo de adubação da cultura. O produtor necessitará de suporte técnico durante estas etapas.
Outro ponto que merece ser destacado é que a aplicação de calcário no solo requer um período mínimo de dois a três meses para a correta reação do corretivo no solo. Logo, é aconselhável que o produtor planeje o cultivo com antecedência.
Histórico da área
Além da fertilidade do solo, é importante também considerar o histórico de uso da área e evitar aqueles locais onde foram cultivadas a própria couve-flor e outras culturas da mesma família, como o repolho, brócolis ou couve de folhas, em anos anteriores.
A rotação de culturas é essencial para reduzir a ocorrência de problemas fitossanitários, como exemplo a doença hérnia-das-crucíferas (Plasmodiophora brassicae).
Condições climáticas
A couve-flor é uma espécie bienal, originária de clima temperado, que requer frio para fazer a passagem da etapa vegetativa para a reprodutiva, ou seja, para que ocorra a indução floral, e assim início de formação das inflorescências, ou cabeças.
O requerimento de frio para florescimento, porém, varia conforme a cultivar. A faixa ótima de produção de couve-flor é de 15 a 22 ºC, temperatura esta que permite a produção das cultivares de inverno.
Estas cultivares podem não produzir inflorescência quando submetidas a temperaturas acima de 25ºC. No entanto, temperaturas próximas a 0ºC causam injúrias por congelamento no ápice dos ramos e prejudicam a formação das inflorescências.
Inovações tecnológicas
A tendência crescente no cultivo da couve-flor é a substituição de variedades antigas e tradicionais por híbridos. Atualmente, tem sido possível o cultivo de couve-flor praticamente durante o ano todo em algumas regiões, graças ao desenvolvimento de híbridos precoces e mais tolerantes ao calor.
As cultivares disponíveis no mercado podem ser classificadas como de “inverno”, de “meia-estação” e de “verão”. Na escolha da cultivar, deve ser levadas em consideração as características climáticas da região e a época em que será realizado o cultivo.
Tendo em vista a sensibilidade e a dependência da couve-flor em relação à temperatura, em regiões onde não existem informações sobre a cultura é prudente a realização de ensaios prévios com diferentes opções de cultivares e épocas de plantio.
A escolha de cultivar(es) mais adaptada(s) às condições locais é essencial para o sucesso no empreendimento. Atualmente, estão disponíveis no mercado cultivares de inverno com boa adaptabilidade, uniformidade e qualidade das inflorescências produzidas.
Próximos passos
A partir da escolha da cultivar mais adequada, faz-se necessário a aquisição das sementes e produção das mudas, que podem ser feitas por viveiristas locais. As mudas de couve-flor são usualmente produzidas em bandejas sanitizadas, de isopor ou plástico rígido e com 128 ou 200 células, preenchidas com substrato de boa procedência.
A qualidade das mudas de couve-flor pode ser percebida pelo vigor, uniformidade, tamanho – duas a quatro folhas definitivas. Devem apresentar posição ereta e estarem sadias, ou seja, sem lesões foliares, amarelecimento ou outras deformidades.
Além disso, o sistema radicular deve estar íntegro no substrato e sem nenhum tipo de podridão ou anomalia.
As mudas devem ser transplantadas diretamente para as covas ou sulcos, previamente adubados, e observando o espaçamento de 0,8 a 1,0 m entre linhas e 0,4 a 0,5 m entre plantas. O espaçamento pode variar conforme a cultivar e com as condições locais.
Por exemplo, plantas das cultivares de inverno são mais tardias, em média 120 dias e, consequentemente produzem inflorescências (cabeças) maiores que as cultivares de meia estação e de verão.
Adubação
O manejo da adubação na couve-flor deve ser feito com base nos resultados da análise de fertilidade do solo. Nessa etapa, o produtor necessitará de auxílio de profissional técnico habilitado.
O fósforo (P) é aplicado todo na adubação de plantio, enquanto N e K são parcelados na adubação de plantio e em cobertura. A couve-flor é uma planta responsiva à adubação orgânica, podendo ser utilizados materiais orgânicos estabilizados e de boa qualidade, substituindo integralmente ou parcialmente os adubos minerais.
Outro cuidado a ser destacado é a adubação com micronutrientes. O adequado suprimento de boro (B) e molibdênio (Mo) previne anomalias fisiológicas e o apodrecimento das inflorescências.
Irrigação
No manejo da couve-flor de inverno, alguns cuidados devem ser tomados, como o adequado suprimento de água via irrigação, visto ser essa época de menor precipitação na maioria das regiões.
A irrigação por gotejamento é o sistema mais eficiente de uso da água, no entanto, pode apresentar investimentos mais elevados, quando comparados ao sistema por aspersão.
Invasoras
O controle de plantas invasoras deve ser priorizado nas primeiras semanas após o transplantio, pois é o período crítico da planta para o seu pleno crescimento. Já o controle de pragas e doenças deve ser feito de forma preventiva.
Em caso de falhas, existem alguns produtos químicos registrado no MAPA para a cultura que devem ser usados com critério e observação das recomendações técnicas.
Colheita
A colheita deve ser realizada nos horários mais frescos do dia, quando as cabeças estiverem compactas, com botões florais unidos. Ao colher, deve-se cortar o colo da planta, deixando algumas folhas externas.
A manutenção das folhas envoltas à cabeça da couve-flor é importante para facilitar o transporte e evitar a ocorrência de injúrias durante esta etapa.
O transporte e armazenamento em temperaturas próximas a 5ºC reduz a taxa respiratória e perda de água e, consequentemente, aumenta a sua durabilidade. A utilização de embalagens em filme plástico também tem sido considerada em algumas redes de supermercados para o aumento da longevidade pós-colheita da couve-flor.
Custo da produção
Informações divulgadas pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (EMATER-DF) revelam que os custos de produção de couve-flor irrigada por aspersão, no primeiro semestre de 2022, apresentou custo total de produção de R$ 39.971,83 por hectare, considerando-se 23.000 plantas por hectare, com perdas médias estimadas de 20%.
Já na couve-flor irrigada por gotejamento, o custo de produção foi de R$ 40. 046,53 por hectare, considerando-se 21.600 plantas por hectare, com perdas médias estimadas de 20%.
Estes custos, no entanto, podem variar em função do nível tecnológico adotado pelos produtores e as particularidades das diferentes áreas de produção.
Condições no inverno
O cultivo de couve-flor no inverno é facilitado devido às condições climáticas serem favoráveis à maior parte das cultivares disponíveis no mercado. No entanto, o êxito no empreendimento depende da escolha de materiais adaptados às condições locais, correto manejo da fertilidade do solo e da cultura.
A produção e o consumo de couve-flor têm se expandido no Brasil nos últimos anos, demonstrando ser uma hortaliça interessante e com mercado aquecido, em função do aumento da demanda por alimentos saudáveis.