Jurandi Teodoro Gugel
Engenheiro agrônomo e analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural – Epagri/Cepa
jurandigugel@epagri.sc.gov.br
Leandro Hahn
Engenheiro agrônomo, doutor e pesquisador – Epagri/Estação Experimental de Caçador – SC
leandrohahn@epagri.sc.gov.br
Em 2022, a quantidade de alho importado pelo Brasil teve nova redução comparativamente aos anos anteriores. O volume foi o menor dos últimos quatro anos. Contribuíram para isso o aumento da produção nacional, a conjuntura mundial, que ainda não recuperou as posições do mercado anteriores à pandemia, o que elevou o custo do frete internacional e, por fim, o câmbio favorável com o real desvalorizado em relação ao dólar.
Este último fator tornou o produto nacional mais competitivo no mercado interno. Segundo dados do SISCOMX, do Ministério da Economia, em 2022 o Brasil importou 119,59 mil toneladas, equivalente a pouco mais de 996 mil caixas de 10 kg/mês, redução de 5,09% em relação a 2021.
O comportamento das importações foi semelhante ao ano anterior, e apenas nos meses de março, agosto, novembro e dezembro o volume importado foi superior ao mês correspondente do ano anterior e fechando o ano, novamente, com o menor volume importado da hortaliça desde 2006 (SISCOMEX).
Importações
Em 2022, a Argentina foi o país que forneceu o maior volume de alho ao Brasil, com pouco mais de 87 mil toneladas, significando 73,03% do total importado.
Em segundo lugar, a China, com 22,40 mil toneladas, contribui com 18,72%. Os dois países totalizaram mais de 91,75% do alho importado pelo Brasil no ano. O valor da importação superou os US$ 143 milhões no ano.
Em relação ao preço médio (FOB), houve recuperação no preço internacional, quando comparado ao ano anterior, passando de US$ 1,08/kg para US$ 1,2/kg, aumento de 11,11%. Dessa forma, a manutenção da taxa antidumping ao alho chinês colaborou significativamente para que a produção nacional se mantivesse competitiva e viável para os produtores brasileiros.
Tabela 1. Principais países fornecedores de alho para o Brasil em 2022.
Países | Valor FOB (US$ mil) | Volume (t) | Valor médio FOB (US$/kg) |
Argentina | 110.101,50 | 87.392,40 | 1,3 |
China | 21.363,27 | 22.401,6 | 1,0 |
Chile | 5.953,76 | 3.604,0 | 1,7 |
Espanha | 4.872,82 | 4.818,3 | 1,0 |
Egito | 1.316,48 | 1.326,0 | 1,0 |
Peru | 113,27 | 98,6 | 1,1 |
EUA | 52,80 | 24,0 | 2,2 |
Total | 143.773,90 | 119.665,0 | 1,2 |
Fonte: Comexstat/MDICS: janeiro/2023.
Consumo
Destaca-se no comportamento das importações que o volume internalizado cresce no final de cada ano e no primeiro semestre do ano seguinte, o que, no geral, dificulta a competitividade da produção da região sul do País.
De acordo com informações de mercado, a questão de logística para o comércio internacional, do pós-pandemia, ainda não normalizou, dessa forma, a expectativa é de que os custos para a importação de alho se mantenham em patamares elevados em benefício da produção nacional.
Embora no ano passado o Brasil tivesse o menor volume de importação de alho dos últimos tempos, nos meses de novembro e dezembro o volume importado foi superior aos mesmos meses do ano de 2021, puxado principalmente pela entrada de alho argentino.
Essa situação prejudica sobremaneira a produção do Sul do País. Para efeito comparativo, em dezembro de 2021 a cotação (FOB) foi de US$ 1,40/kg e em dezembro de 2022, a cotação passou para US$ 1,22/kg, redução de 12,85% no período.
Custo de produção e rentabilidade
Descrevemos o custo de produção e a rentabilidade do alho para as três principais regiões produtoras do Brasil – o Estado de Minas Gerais, baseado nos produtores da região de São Gotardo; Goiás, baseado nos produtores da região de Cristalina, e Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tomando como base a região de Frei Rogério.
De acordo com os dados da Conab (2023), para a safra 2022, o custo de produção para São Gotardo, Cristalina e Frei Rogério foram de R$ 223 mil, R$ 200 mil e R$ 105 mil/ha, respectivamente.
Considerando uma produtividade de 16,5; 14,5 e 9,0 t/ha, respectivamente para São Gotardo, Cristalina e Frei Rogério, o custo de produção para uma caixa de alho de 10 kg foi de R$ 129,5; R$ 138,00 e R$ 116,80, respectivamente, para as três regiões.
Ainda que o custo de produção na região de São Gotardo tenha sido o mais elevado, a rentabilidade foi maior naquela região em comparação com Cristalina, devido à maior produtividade obtida na região.
Para os dois Estados do Sul, em relação à safra 2021, o aumento do custo de produção foi de cerca de 20%. O maior aumento do custo de produção de produção foi registrado para São Gotardo, quase 50%, e aumento intermediário para a região de Cristalina, 33%. O aumento no preço dos fertilizantes foi o item que mais impactou o custo de produção na última safra.
Para as três regiões produtoras de alho, os itens que mais impactam o custo são os bulbos para semente (cerca de 25%), a mão de obra (cerca de 20%) e os fertilizantes (cerca de 20%).
A rentabilidade da safra 2022 é considerada boa para o alho produzido na região do Centro-oeste. Pode-se considerar que a rentabilidade não foi tão positiva como na safra de 2021, principalmente pelo expressivo aumento do custo de produção e uma produtividade menor por conta do clima menos favorável.
Nos dois Estados do Sul, com o início da comercialização da safra no mês de janeiro de 2023, a perspectiva de rentabilidade até o momento não é muito otimista. Ainda que a produtividade e qualidade do alho na presente safra sejam maiores que da safra anterior, o significativo aumento do custo de produção e a competição do alho argentino importado num custo até acima do custo de produção do país vizinho têm derrubado os preços do alho.
A expectativa é que nos meses de março e abril os preços melhorem.
Perspectivas
Considerando a importância da cultura para Santa Catarina, bem como o que pode ser vislumbrado com a mudança de governo no Estado, a adequação à Portaria do Mapa n°435/2022 deve contribuir para a melhoria da competitividade da cultura no Estado.
Registramos as demandas pautadas pela cadeia produtiva via Câmara Técnica do Alho do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural, realizada em 15/12/2021, que sugerem:
- Maior rigor do Estado na fiscalização nas fronteiras, quando da entrada do produto importado, exigindo o cumprimento das normas do Mercosul;
- maior envolvimento da estrutura do Estado na construção e divulgação da Indicação Geográfica (IG) do alho-roxo do planalto catarinense;
- Melhorias e manutenção das estações meteorológicas da região produtora de alho;
- Apoio da Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural (SAR) à pesquisa sobre a cultura, com financiamentos para a produção e a aquisição de sementes de qualidade superior e livres de vírus;
- Estruturação do programa de apoio à infraestrutura de produção das propriedades produtoras, especialmente na armazenagem de água para a irrigação. A pauta apresentada pela Câmara Setorial é o piso de um conjunto de iniciativas e ações que a cadeia produtiva espera para manter uma produção economicamente competitiva e viável no Estado.