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Estufas: cultivo de pepino japonês

Divulgação

Rafael Campagnol
Doutor em Fitotecnia e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
rcampagnol@ufmt.br
Ricardo Toshiharu Matsuzaki
Mestre em Fitotecnia – ESALQ/USP
Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor em Fitotecnia e professor – Universidade Federal de Mato Grosso
Elisamara Caldeira do Nascimento
Talita de Santana Matos
Doutoras em Agronomia/Ciência do Solo – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Segundo a Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM), foram comercializadas aproximadamente 34,3 milhões sementes de pepino japonês. Considerando uma densidade populacional média de 25 mil plantas por hectare, a área cultivada com esse tipo de hortaliça foi em torno de 1,37 mil hectares.

As principais áreas de produção de pepino japonês em estufa estão localizadas nos Estados de São Paulo (principalmente nas regiões sudoeste, centro e centro-oeste do Estado), Paraná (região norte e próximo de Curitiba) e Minas Gerais (principalmente a região metropolitana de Belo Horizonte).

Apesar das regiões se destacarem no cultivo de pepino em estufa, há várias outras áreas de cultivo protegido de pepino distribuídas nos Estados de Goiás, Rio de Janeiro, Espírito Santo e próximo dos grandes centros urbanos do Brasil. Regiões onde há colônias japonesas geralmente cultivam pepino, inclusive em estufas.

Entenda melhor

A expressão ‘cultivo protegido’ ou ‘cultivo em ambiente protegido’ tem sido utilizada com um significado bastante amplo, englobando um conjunto de práticas e tecnologias utilizadas pelos produtores para um cultivo mais seguro de diversas espécies vegetais, das quais as hortaliças fazem parte.

Por definição, cultivo em ambiente protegido é aquele onde se faz o controle, total ou parcial, de um ou mais fatores edafoclimáticos, como, por exemplo, temperatura, umidade relativa do ar e do solo, luminosidade, ventilação, incidência de chuvas, dentre outros. Ou seja, são todas as práticas e tecnologias que proporcionam a condução mais segura e protegida das plantas.

Apesar de ter um significado bem amplo e abrangendo outras práticas e tecnologias, como o uso de telados e a cobertura do solo com mulching plástico, por exemplo, na maioria das vezes o cultivo em ambiente protegido se refere ao cultivo de plantas feito em casa-de-vegetação ou, como é amplamente conhecido, cultivo em estufas agrícolas.

Vantagens

Uma das principais vantagens desse sistema de produção é a maior proteção quanto aos fatores adversos do clima, principalmente a incidência de chuva, o que evita o molhamento das folhas das plantas e, consequentemente, reduz os danos causados por doenças foliares.

O pepino é uma das culturas mais beneficiadas pelo cultivo em estufa. Esse sistema de produção permite a produção de frutos durante o ano todo, reduz os problemas fitossanitários e permite que o produtor aumente o período de colheita das plantas, consequentemente, a sua produtividade. Além disso, os frutos produzidos geralmente apresentam melhor qualidade e adquirem melhores preços de comercialização.

Em cultivos de pepino realizados em estufa, a irrigação geralmente é feita via gotejamento, o que aumenta a eficiência do uso da água e permite a realização da fertirrigação, ou seja, a aplicação de fertilizantes juntamente com a água. Essa prática, por sua vez, aumenta a eficiência do uso dos fertilizantes e proporciona uma melhor nutrição das plantas.

A maior parte dos pepinos tipo japonês cultivados no Brasil é partenocárpico, ou seja, não exigem que as flores sejam polinizadas para desenvolver os frutos. Em cultivos realizados em estufas isso pode ser vantajoso, principalmente quando se usa telas para impedir a entrada de insetos-praga, o que também barra os insetos polinizadores de pepino.

Plantas de pepino partenocárpicos, quando não polinizados, geram frutos de melhor qualidade, sem semente, que são mais finos e, geralmente, menos tortos. Quando as flores desse tipo de pepino são polinizadas ocorre a formação de sementes, o que aumenta o calibre do fruto e prejudica a sua qualidade.

Contudo, em alguns casos, o fechamento das laterais da estufa pode ser mais prejudicial do que a benéfico. As telas laterais podem, dependendo do seu tipo (abertura da malha) e da altura do pé-direito da estufa, reduzir a ventilação e prejudicar a remoção do ar quente do seu interior, afetando o desenvolvimento das plantas. 

Produtividade

A produtividade por planta de pepino japonês em estufa varia entre 10 até 20 kg/m2, sendo as maiores produtividades atingidas em cultivos bem manejados, com plantas enxertadas, sadias e bem nutridas.

A produtividade de pepino japonês em estufa é influenciada por vários fatores. A seguir serão apresentados aqueles que, segundo alguns produtores, são os mais frequentes ou mais graves.

Falta de luminosidade: isso pode ocorrer devido ao plantio demasiadamente adensado, filme plástico sujo que cobre a estufa, período prolongado com baixa luminosidade e manejo inadequado das plantas (excesso de folhas e ramos). A nutrição desbalanceada, principalmente o excesso de nitrogênio, pode promover o crescimento excessivo das plantas e, como efeito, reduzir a luminosidade no interior do dossel.

Temperatura inadequada: de maneira geral, as cucurbitáceas são plantas que se adaptam melhor ao clima quente. Períodos com temperaturas baixa (menor que 16ºC) podem reduzir o crescimento das plantas e sua produtividade. Em cultivos realizados em estufas, esse efeito pode ser minimizado pelo manejo adequado das cortinas laterais. O fechamento da lateral da estufa pode promover o aquecimento do ar no seu interior. Contudo, essa prática deve ser bem avaliada, pois o aquecimento excessivo (temperaturas superiores a 35ºC) pode causar o abortamento de flores e frutos e aumentar a quantidade de frutos de baixa qualidade (tortos e cinturados).

Redução da ventilação no interior da estufa: isso pode ocorrer devido ao fechamento das laterais da estufa com telas muito fechadas (tela antiafídeos, por exemplo), ou quando o manejo das cortinas laterais é feito de forma inadequada. A falta de ventilação pode, além de elevar muito a temperatura do ar, aumentar a umidade e reduzir a concentração de CO2 próximo às folhas. Isso poderá aumentar a incidência de doenças e reduzir a produtividade de frutos.

Incidência de pragas e doenças: esse é um fator que já vem sendo enfrentando há muito tempo pelos produtores de pepino, principalmente aqueles que cultivam em campo aberto. Em estufa, esses problemas são menores, mas ainda exigem a atenção dos produtores. A falta de conhecimento, principalmente na identificação precoce do problema e na definição das medidas adequadas de prevenção e controle, ainda é frequente entre os produtores, o que tem limitado a produtividade das plantas.

O uso de mudas enxertadas, que é comum no cultivo de pepino, reduz muito os problemas com patógenos, principalmente de solo. No caso de nematoides, o benefício proporcionado pela enxertia se deve ao maior desenvolvimento do sistema radicular, uma vez que porta-enxertos comerciais resistentes a nematoides são escassos no Brasil.

A escolha de híbridos com resistência genética é muito importante no controle de importantes doenças, como míldio, oídio, mancha de corinéspora, fusário e algumas viroses.

Vários outros fatores prejudiciais à produção de pepino em estufa também são apontados, como nutrição desbalanceada, irrigação excessiva e falta de atenção ou conhecimento sobre o manejo das hastes das plantas.

A enxertia

O cultivo de pepino em estufa inicia-se com a produção das mudas. A maioria das mudas de pepino japonês cultivado em estufa é enxertada. A enxertia, dependendo da combinação entre enxerto e porta-enxerto, proporcionará benefícios como resistência ou tolerância a doenças, nematoides, salinidade e baixas temperaturas do solo, maior desenvolvimento do sistema radicular e aumento do potencial produtivo das plantas.

Além disso, alguns porta-enxertos reduzem a cerosidade dos frutos, deixando-os mais brilhantes e bonitos, o que é de grande importância para o pepino japonês.

A produção de mudas enxertadas requer ambiente adequando e mão de obra especializada. São semeados dois materiais genéticos diferentes (geralmente híbridos), um será o enxerto e o outro o porta-enxerto. Dependendo do vigor dos materiais usados, as datas de semeadura poderão ser diferentes. Quando as mudas atingirem tamanho adequado, é feita a enxertia, o que leva entre 25 a 30 dias após a semeadura para estarem prontas para o transplante.

O estande de plantas

Na estufa de produção, as mudas podem ser transplantadas no solo ou em recipientes com substrato. A distribuição das plantas na área depende do porte e tipo de crescimento do híbrido escolhido, que podem ter maior dominância apical ou maior desenvolvimento das brotações laterais.

O entendimento do padrão de crescimento do híbrido que está sendo cultivado é de grande importância para a definição da distribuição das plantas e da forma de condução das hastes.

A distribuição das plantas pode ser em linhas simples, com espaçamento em torno de 1,2 m, ou em linhas duplas, com distância entrelinhas em torno de 0,8 m e entrelinhas duplas de 1,4 m.

O espaçamento entre uma planta e outra na linha pode variar de 0,4 a 0,8 m, dependendo do híbrido cultivado e da forma de condução das hastes das plantas. Geralmente utiliza-se uma densidade de 1,5 a 4,0 plantas/m2.

Quando as plantas são conduzidas de forma controlada, ou seja, é feita a poda das hastes frequentemente, mantendo todas as plantas com o mesmo porte vegetativo, a densidade de plantas geralmente é maior. Quando as plantas são conduzidas com crescimento livre, ou seja, sem poda das hastes ou com poda indefinida, a densidade de plantas é menor.

Independente da forma de condução das hastes, todas elas devem ser tutoradas no sentido vertical. Isso pode ser feito de diversas formas, com fitilhos plásticos, arames, malhas ou bambus. O uso de fitilhos plásticos tem se destacado entre os produtores, pois são práticos, fácies de serem encontrados e relativamente baratos.

As hastes das plantas devem ser enroladas ou amarradas nos tutores com frequência, pois crescem rapidamente, principalmente no verão. A altura de condução das plantas pode variar de 1,8 a 2,5 m.

Irrigação

O pepino é uma cultura exigente em água, por isso a umidade do solo deve ser mantida próxima à capacidade de campo. A irrigação das plantas deve ser feita, preferencialmente, via gotejamento.

A irrigação localizada, além de aumentar a eficiência do uso da água pelas plantas, evita o molhamento das folhas, reduzindo, assim, a incidência de doenças foliares. A frequência de irrigação deve ser de duas a cinco vezes ao dia, dependendo da forma do cultivo (solo ou substrato) e das condições climáticas no interior da estufa.

O manejo adequado da irrigação é fundamental para evitar a salinização do solo, o que pode limitar a produtividade das plantas, uma vez que o pepino é considerado uma cultura moderadamente sensível a salinidade.

Colheita

Depois do transplantio das mudas, o pepineiro passa por um período de crescimento vegetativo antes de iniciar a produção de frutos. Os primeiros frutos são colhidos entre 25 a 30 dias após o transplante das mudas (DAT) em cultivos feitos no verão e entre 35 a 45 DAT para aqueles feitos no inverno.

As colheitas devem ser frequentes, muitas vezes diárias (principalmente no verão), devido ao rápido crescimento dos frutos. Para se obter produtividades médias semelhantes, em torno de 600 cx por 1.000 m2, o período de colheita será de 60 a 80 dias no verão e de 90 a 120 dias no inverno.

Custo x benefício

De maneira geral, o cultivo de pepino apresenta um bom custo-benefício. As maiores rentabilidades, entretanto, são obtidas por produtores que possuem bom conhecimento técnico, sabem como manejar a cultura e as condições ambientais no interior da estufa, e fazem uma boa gestão do seu negócio.

O custo de produção varia entre R$ 0,80 a R$ 1,20/kg de fruto produzido, considerando uma produtividade média de 500 a 600 caixas por 1.000 m2 de estufa. O preço de comercialização no atacado de uma caixa de 20 kg de pepino japonês pode variar muito, podendo ser comercializada entre R$ 10,00 a R$ 20,00 em períodos de grande oferta do produto, e entre R$ 40,00 a R$ 80,00, em épocas de menor oferta.

Vale ressaltar que os valores de comercialização dessa hortaliça são afetados por diversos fatores, como por exemplo, época do ano, quantidade de frutos ofertados no mercado, região de produção e de venda, qualidade do produto, dentre outros. No inverno, os preços geralmente são mais elevados, pois é um período menos favorável ao cultivo dessa hortaliça, o que afeta a oferta de frutos. Frutos muito grandes e defeituosos (tortos e cinturados) também possuem um menor valor de comercialização.

*Agradecimento especial ao engenheiro agrônomo Ohad Salzstein, produtor e especialista em cultivo de pepino, pelas informações fornecidas.

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