Rilner Alves Flores
Doutor e professor adjunto do Setor de Solos da Escola de Agronomia – Universidade Federal de Goiás (EA/UFG)
rilner@ufg.br
A exigência nutricional do tomate é dependente da variedade que está sendo cultivada, uma vez que temos materiais mais eficientes quanto ao uso de nutrientes e outras mais exigentes, demandando um maior volume de nutrientes disponíveis para sua absorção e, consequentemente, conversão em biomassa e produção de frutos.
Por exemplo, um híbrido de tomate acumula cerca de 8.000 kg de matéria seca por hectare plantado e, ao fim do seu ciclo (± 110 dias após o transplantio), apresenta como consumo médio 170, 34 e 310 kg ha-1 de N, P e K, respectivamente (Fontes, 2000).
De modo semelhante, Ferreira (2005) relata a ordem de extração de nutrientes pelo tomate para processamento da seguinte forma: N>K>Ca>S>P>Mg>Cu>Mn>Fe>Zn>B. Neste estudo não foram avaliados a extração de outros micronutrientes, tais como Cl, Mo e Ni. Ainda segundo esses autores, para cada tonelada de frutos colhidos são acumulados, em média, 3,0 kg de N; 0,5 kg de P; 5 kg de K; 0,8 kg de Ca; 0,2 kg de Mg; 0,7 kg de S; 5 g de B; 25 g de Zn; 10 g de Cu; 25 g de Mn e 25 g de Fe.
Em outro estudo realizado por Haag et al. (1978), verificaram as seguintes exigências nutricionais para micronutrientes: 290, 607, 619, 1539, 821 e 1588 g/ha de B, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn, respectivamente. Fayad et al. (2002) avaliaram a marcha de absorção de nutrientes no tomateiro para indústria, e observaram uma extração nas seguintes proporções: 3415, 2173, 1967 e 500 g/ha de Cu, Mn, Fe e Zn, respectivamente.
As diferenças nas exigências nutricionais entre esses dois estudos estão relacionadas, também, com a produção de frutos obtidos, sendo para o primeiro uma produção média de 50 t/ha de frutos, enquanto que no segundo trabalho, a produção de frutos maduros foi de 115,4 t/ha.
Portanto, o ideal é que se tenha o conhecimento sobre a marcha de absorção de nutrientes para cada variedade disponível. Caso esta informação não esteja disponível, um estudo com o híbrido a ser cultivado é indicado, principalmente com o propósito de ajustes no programa de adubação a ser realizado visando maiores índices de eficiência quanto ao aproveitamento do nutriente aplicado.
Como deve ser o manejo nutricional
O princípio básico do manejo nutricional inicia-se pela análise prévia do solo, para o conhecimento sobre os teores de nutrientes disponíveis, bem como da exigência nutricional da cultura para a expressão do seu potencial genético.
Com essas informações é possível determinar a necessidade de correção do solo, bem como da adubação visando altos índices produtivos. Contudo, o incremento na qualidade da adubação passa pelo conhecimento da interação adubação-genótipo-ambiente (Cecílio Filho e Nowaki, 2016).
Como a produção do tomate para processamento industrial é regionalizada, os produtores e técnicos devem unir esforços na avaliação de cultivares mais adequadas a cada região e sua resposta ao ambiente. Para se ter noção, estudos realizados por Oliveira et al. (2009) com 29 linhagens de tomate para processamento foram observados diferentes respostas em função do maior fornecimento de nutrientes.
Como conclusão deste trabalho, os autores classificaram as linhagens em quatro grupos: 1 – linhagens eficientes na absorção de nutrientes e responsivos à adubação; 2 – linhagens eficientes na absorção de nutrientes e não responsivos à adubação; 3 – linhagens não eficientes na absorção de nutrientes e responsivos à adubação; e 4 – linhagens não eficientes na absorção de nutrientes e não responsivos à adubação.
Em resumo, não existe uma receita/recomendação que contemple todas as linhagens disponíveis, todas as condições do ambiente e tipos de solos, o que deve ser feito é um estudo e monitoramento em cada situação de cultivo.
Marcha de absorção de nutrientes
O estudo da marcha de absorção dos nutrientes dá uma informação muito importante, indicando os períodos de maior exigência dos mesmos. Conhecidas essas épocas, tem-se um guia para a adubação no que tange aos momentos em que se deve empregar um ou outro nutriente.
Cada espécie, variedade ou cultivar apresenta a sua própria marcha de absorção e este conhecimento poderá aumentar a eficiência quanto ao adequado manejo nutricional voltado para a maior expressão do potencial genético da cultura em produtividade.
Em relação aos processos de absorção de nutrientes, existem duas formas, uma via radicular e outra via foliar. No que diz respeito à absorção via radicular, esta poderá acontecer após o contato entre o elemento químico (nutriente) e a raiz, a qual pode acontecer de três formas: interceptação radicular (quando a raiz chega até o nutriente), difusão (quando um nutriente se move no solo de uma região menos concentrada para uma de alta concentração) e fluxo de massa (quando o nutriente é absorvido em função da taxa transpiratória da planta).
O processo de absorção de nutrientes via radicular é regulado por fatores internos e externos das plantas. Os fatores internos são: potencial genético da planta, estado iônico interno da planta, teor de carboidratos presente nas plantas, intensidade transpiratória da planta e a idade das plantas (raiz).
Já os fatores internos são: formas preferenciais de absorção dos nutrientes presente no solo, km da planta (concentração mínima necessária para que ocorra 50% da velocidade máxima de absorção dos nutrientes pela planta), pH do solo, porosidade (aeração do solo – fluxo de O2), umidade e temperatura do solo, bem como a atuação do ambiente rizosférico (exudatos radiculares, exoenzimas, microrganismos não patogênicos e fungos micorrízicos) e a interação entre os nutrientes (sinergismos ou antagonismo).
Já em relação à absorção via foliar, esta é semelhante à absorção radicular, diferindo-se pela presença da cutícula na folha. Do mesmo modo, existem fatores externos e internos à planta que influenciam a eficiência da absorção foliar. Os fatores internos são: umidade da cutícula, superfície da folha (abertura e fechamento dos estômatos), idade da folha (maior desenvolvimento da cutícula com o aumento da idade), estado iônico interno da folha (quanto maior a concentração interna, maior será a dificuldade na absorção de novos elementos) e fator genético.
Já os fatores externos são: ângulo de contato da folha, temperatura e umidade do ar (combinação de baixa umidade e altas temperaturas promovem rápido secamento da solução, podendo promover o efeito “herbicida”, porque os sais dos nutrientes se concentram e necrosam a planta), composição da solução (formas de nutrientes aplicadas e íons acompanhantes podem influenciar a velocidade de absorção), pH da solução e luminosidade no momento da aplicação.
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Hora de tomar atitude
A tomada de decisão sobre a forma de fornecimento de nutriente deve considerar, principalmente, a exigência da cultura, a marcha de absorção, bem como a mobilidade dos nutrientes na planta (via floema).
As principais vantagens da adubação foliar são: correções das deficiências a curto prazo, alto índice de uso pelas plantas dos nutrientes aplicados, possibilidade de contornar as restrições de absorção de nutrientes via radicular (seja por deficiência no solo ou interação entre nutrientes), doses totais de micronutrientes geralmente são menores que via solo e a possibilidade de aplicação de micronutrientes com outros tratamentos químicos (sendo necessário a verificação da compatibilidade).
Já as limitações quanto ao uso da adubação foliar são: não ocorrer efeito residual ou é menor que as aplicações via radicular; as aplicações no início do crescimento da cultura podem não ser efetivas (pouca área foliar); custos de aplicação por pulverização, principalmente quando não associado aos tratamentos químicos e necessários mais de uma aplicação e a possibilidade de incompatibilidade com agroquímicos ou antagonismos entre nutrientes.
No que diz respeito ao uso de macro e micronutrientes via adubação foliar, deve-se atentar para: macronutrientes – alta exigência nutricional, pouca área foliar no início da cultura, problemas de fitotoxidez em folhas, formas de P e K pouco se adaptam à aplicação foliar (já existem produtos disponíveis no mercado) e custos de operação (necessidade de mais de uma pulverização para atender a demanda da cultura; micronutrientes – necessário verificar a exigência e mobilidade do nutriente na planta (via floema), as aplicações devem ser frequentes (principalmente para nutrientes imóveis ou pouco móveis), associação às pulverizações com defensivos (para otimizar o custo de produção), controle do pH da solução e regulagem da dosagem a ser aplicada (faixa muito estreita entre o nível crítico por deficiência e o nível crítico por excesso).
Nutrientes fundamentais
Todos os nutrientes são fundamentais! Isto se deve ao fato de eles atenderem o critério de essencialidade para serem considerados nutrientes, ou seja, o elemento químico deve participar de um composto ou de uma reação química, sem o qual a planta não vive (Arnon e Stout, 1939).
Do mesmo modo, segundo a Lei do Mínimo estabelecida por Liebig (1862), se apenas um dos elementos necessários para a nutrição das plantas falta, a planta sofrerá, a despeito de todos os outros elementos necessários para a produção vegetal estarem presentes em quantidades suficientes.
Assim, os elementos químicos considerados nutrientes para as plantas aceitos na comunidade científica são: N, P, K, Ca, Mg, S (macronutrientes) e B, Zn, Mn, Fe, Cu, Cl, Mo e Ni (micronutrientes).
A dosagem necessária
Antes da definição da dosagem necessária a ser aplicada para a produção do tomate para processamento, é necessária uma análise prévia do solo para ter conhecimento dos teores de micronutrientes disponíveis no solo.
Procedimentos para a coleta do solo e a escolha de um laboratório certificado são fundamentais para o adequado diagnóstico da fertilidade do solo atual. Com os resultados, é necessário definir o diagnóstico dos teores de micronutrientes disponíveis no solo, o qual pode ser por meio dos boletins disponíveis na literatura.
Frequência
Em relação à adubação com micronutrientes, a mesma poderá ser feita uma única vez durante o ciclo da cultura, juntamente com a adubação de base no momento do plantio. Isto porque a maioria dos micronutrientes apresenta restrições quanto à sua mobilidade na planta, o que provoca a necessidade, na maioria das vezes, de mais de uma pulverização para atender a demanda (exigência) da cultura.
Contudo, faz-se necessário o monitoramento nutricional das lavouras durante todo o ciclo, seja por diagnóstico visual de sintomatologias de desordem nutricional por deficiência e/ou excesso, ou por meio da análise química foliar no momento indicado para a cultura, afim de quantificar os teores nutricionais e, consequentemente, a necessidade de complementação da adubação realizada via solo.
Na literatura disponível, a indicação da adubação com micronutriente é feita via sulco de plantio, no entanto, ao mesmo tempo, em função do surgimento de sintomas de carências são indicadas pulverizações, que podem ser semanais até o desaparecimento dos sintomas, conforme relatado por Bastos et al. (2013), os quais indicam aplicações semanais de 0,33 g/L de Zn (1,5 g/L de sulfato de zinco) com o surgimento de deficiências de Zn nas plantas.
Avanços
Vários são os avanços sobre o fornecimento de micronutrientes para as culturas, dentre elas o tomate para processamento. As maiores dificuldades quanto ao fornecimento adequado de micronutrientes no solo sempre foi o maior desafio, uma vez que as doses são consideradas baixas em comparação às quantidades aplicadas para macronutrientes.
Com o avanço das tecnologias de mistura de grânulos e/ou recobrimentos dos fertilizantes contendo os micronutrientes, a uniformização da aplicação de micronutrientes no solo avançou bastante em qualidade. De modo semelhante, o mercado dos fertilizantes foliares também avançou, com a ampliação de tecnologias que promovem maior eficiência e velocidade de absorção da solução aplicada.
No entanto, toda tecnologia tem custo, e cabe ao produtor fazer as contas sobre qual é o manejo que irá lhe proporcionar a maior relação benefício/custo.
Cabe ressaltar que, todo micronutriente é essencial para que a planta complete seu ciclo de vida, e caso a disponibilidade para a planta (via solo ou via foliar) não atenda a demanda exigida pela cultura, esta não irá expressar todo o seu potencial genético.
Neste sentido, o produtor precisará fazer uma avaliação completa sobre o estoque de nutrientes disponível no solo e a exigência nutricional do cultivar/híbrido a ser plantado. Com esta informação, o produtor deverá realizar um levantamento sobre as fontes disponíveis, quantidades a serem aplicadas e custos dos fertilizantes, além das formas de aplicações (seja na base juntamente com a adubação de plantio ou via foliar). Somente com essas informações será possível analisar de forma mais fidedigna sobre a relação benefício/custo.