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terça-feira, outubro 15, 2024
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Mix de plantas de cobertura

Kleso Silva Franco Júnior
Engenheiro agrônomo e doutor em Agricultura Sustentável e professor – Fundação Educacional de Machado
klesojr@gmail.com

A cafeicultura brasileira evoluiu muito desde seu início, principalmente em relação à seleção e melhoramento genético, destacando-se o começo, com a cultivar típica, até as cultivares atuais.
Tal fato permitiu avanços expressivos no potencial produtivo, adaptabilidade e qualidade, consolidando o País como o mais importante produtor mundial de café.
Além da genética, os avanços também foram em relação ao estande de plantas, manejos, como controles de pragas, doenças e plantas daninhas, nutrição e pós-colheita.

Tetos produtivos

Hoje, observamos que os patamares de produtividade têm esbarrado em dois principais problemas: o solo, principalmente em relação à compactação e às mudanças climáticas.
Neste contexto, precisamos estar atentos não só aos manejos do cafeeiro, mas dando uma atenção especial ao sistema de produção, o que envolve a cultura comercial, o solo, a água, o clima e a interação entre estes.
Para tal, o solo é um dos pontos que até pouco tempo era visto somente como fornecedor de nutrientes e suporte para as plantas, mas atualmente é considerado um dos mais importantes atributos do sistema produtivo, tanto nos aspectos biológicos como químicos e físicos.
Outro ponto muito importante na atualidade é a sustentabilidade de uma forma verdadeira, não somente como conceito, mas realmente de forma aplicável aos sistemas de produção.
Assim sendo, para que tenhamos uma lavoura produtiva e sustentável, é importante atentarmos desde a implantação, a fim de promover as correções da acidez do solo, redução dos teores de elementos tóxicos, equilíbrio das bases (Ca, Mg, K) e níveis de fósforo e micronutrientes no solo, além de condicionar a parte física que permita o bom desenvolvimento radicular da cultura comercial, melhoria das condições de atividades biológicas, além dos níveis de matéria orgânica (MO).

O que tem sido feito?

Milheto é opção de cobertura nas entrelinhas do café
Foto: Shutterstock

Um dos aspectos que tem sido muito tecnicamente usados são a atenção para o solo na camada de 0 – 20 cm para as lavouras comerciais. Porém, sabemos que a planta do cafeeiro explora camadas muito mais profundas.
Isso nos provoca a pensar e promover praticas que permitam uma melhor condição física do solo, seja ela a boa distribuição de macro e microporos, redução de compactação do solo, melhor infiltração e armazenamento de água, além da melhor agregação das partículas do solo, proporcionando assim uma maior exploração do sistema radicular da planta.
Se pensarmos num modelo de cafeicultura que busca altas produtividades e com bases sustentáveis, o conceito de “construção de um sistema de produção mais eficiente”, a meu ver, é o mais adequado, pois leva em consideração a melhoria do sistema solo-água-planta.
Isso significa não só regenerar, mas realmente construir um sistema que permita boas produtividades com sustentabilidade. Por isso, prefiro este termo “construir sistemas mais sustentáveis e produtivos”.

Desafios

O desafio da agricultura moderna é melhorar a fertilidade do solo em todo seu perfil, não só na camada de 0 – 20 cm, promovendo a exploração das raízes do cafeeiro a buscar água e nutrientes em camadas mais profundas, podendo assim suportar melhor adversidades climáticas, como déficits hídricos.
Neste ponto, o solo deve ser manejado para que possa ser melhorada não só a camada superficial, mas também as mais profundas, sendo o uso de culturas de cobertura nas entrelinhas do cafeeiro uma prática que tem sido muito adotada pelos cafeicultores, com inúmeros benefícios.
Em relação aos atributos químicos, podemos destacar a ciclagem de nutrientes, em que se faz a varrição, levando para a entrelinha resíduos de fertilizantes, corretivos e material orgânico, muitas vezes dificultando, por questões de logística, o retorno deste material para a projeção da copa do cafeeiro.
Este material, rico em nutrientes, resulta em lixiviação de nutrientes. Assim, o uso das plantas de cobertura torna possível explorar camadas de solo em diferentes profundidades no cafeeiro, podendo utilizar estes nutrientes e promover sua ciclagem quando estas são manejadas.
Além deste benefício, a biomassa destas plantas que ficam sobre o solo e também em forma de raízes, após manejadas, passam por processos de decomposição, transformando em matéria orgânica ‘sustâncias húmicas’.
Destaca-se, aqui, a oportunidade de produção e acúmulo de MO em diferentes camadas de solo.

Agregação do solo

Em relação aos atributos físicos, as raízes das espécies de cobertura promovem uma maior agregação do solo, exploram camadas mais profundas, e quando estas plantas são manejadas, suas raízes se decompõem, deixando canalículos no solo, que são porosidades, as quais permitem a melhor movimentação de água e aeração no solo.
Algumas espécies, pela característica do seu sistema radicular, têm a capacidade de explorar as camadas mais profundas e até mesmo promover uma descompactação natural do perfil.
Outro ponto importante diz respeito à cobertura do solo, que atua como uma barreira física, a fim de diminuir o impacto das gotas de chuva, promovendo uma infiltração mais lenta de água no solo, protegendo contra insolação, melhorando o armazenamento de água e ainda protegendo o solo, minimizando a germinação e estabelecimento de plantas daninhas.

Atributos biológicos

Em relação aos atributos biológicos, podemos destacar o efeito que algumas espécies têm em produzir exudatos radiculares que atuam como atrativos para microrganismos de solo, como bactérias solubilizadoras de fósforo, micorrizas, efeitos alelopáticos sobre sementes de plantas daninhas, etc.
Algumas espécies têm a característica de se associar com microrganismos fixadores de nitrogênio atmosférico, outras de atuar como componentes na redução da população de patógenos de solo, como os nematoides.
Além destes aspectos, algumas plantas, quando florescem, são atrativas para insetos que atuam como inimigos naturais (ex. crisopídeos) para algumas pragas do cafeeiro.
Assim sendo, este manejo com plantas de cobertura tem inúmeros benefícios. Cabe destacar que cada espécie tem uma característica, época ideal de plantio, ciclo produtivo e cuidados.

Qual escolher?

Para uma boa indicação sobre a melhor espécie a adotar, é imprescindível um bom acompanhamento técnico. O profissional poderá diagnosticar a espécie mais indicada, seus cuidados e os principais benefícios por esta proporcionados.

Algumas espécies e suas características:

Recomendações

Baseado nestes dados apresentados na tabela em relação às características das espécies, recomenda-se o uso de duas ou mais espécies num mesmo plantio, técnica conhecida como coquetel ou mix de plantas de cobertura.
A associação dessas plantas tem como princípio que cada uma expresse seu benefício e ainda melhore a biodiversidade do sistema, assim proporcionando um sistema mais equilibrado para o cultivo.
O manejo de um ciclo com trigo mourisco + Crotalaria juncea + milheto nas entrelinhas do cafeeiro produziu 13,56 ton/ha de biomassa verde, o que proporcionou a elevação de 33 mg/dm3 de K e 0,7 cmolc/dm3 de Ca na camada de 0 – 20 cm em relação ao solo sem cultivo de cobertura.
Mix composto por trigo mourisco + Crotalaria breviflora + Crotalaria ochroleuca + mucuna anã + guandu anão + milheto ADR- 300 + feijão caupi resultaram em um acréscimo na produtividade do cafeeiro de 7,4 sacas/ha.

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