Ageu da Silva Monteiro Freire – Engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais e doutorando em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR) – ageufreire@hotmail.com
Amanda Brito da Silva – amandab_silva12@hotmail.com
Joaquim Custódio Coutinho – joaquimcustodiocoutinho@gmail.com
Engenheiros florestais e mestres em Ciências Florestais – UFPR
Nas últimas décadas, a pressão por políticas ambientais impulsionou a busca pela substituição de combustíveis fósseis, como o petróleo, carvão mineral e gás natural. Esses tipos de combustíveis têm sua formação em milhões de anos, sendo ainda vantajoso por existirem em abundância, entretanto, são uma fonte esgotável.
Além disso, a utilização acarreta em prejuízos para o meio ambiente e a saúde humana, principalmente por causa da poluição do ar, da água e do solo. Com isso, os biocombustíveis veem sendo uma das principais alternativas para substituir os combustíveis fósseis, sendo renováveis e menos prejudiciais ao meio ambiente e à saúde humana, por reduzirem significativamente a emissão de gases poluentes.
Produzidos por meio de óleos de origem vegetal ou animal, as pesquisas cresceram nos últimos anos, buscando sempre aquelas com maior potencial. O Brasil apresenta uma grande diversidade de espécies na sua flora, muitas das quais possuem escassez de informações sobre seus aspectos químicos, biológicos e ecológicos. Entre essa biodiversidade, podemos descrever a palmeira macaúba como promissora, analisando as pesquisas sobre a espécie nos últimos anos.
Biocombustíveis no Brasil
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Os combustíveis renováveis são pesquisados desde o início do século XX no Brasil. A Petrobras, no ano de 2020, informou que está trabalhando com o aumento da porcentagem de biocombustíveis no diesel. Hoje, a porcentagem de conteúdo renovável é de 12% e até 2023 pretende-se aumentar a porcentagem para 15%.
De acordo com a estatal brasileira, esse tipo de combustível traz mais qualidade, competição e sustentabilidade para o segmento de combustíveis no país. Mas, o que é o diesel renovável? Nada mais é do que um biocombustível avançado, que reduz a emissão de poluentes e melhora o desenvolvimento dos motores.
Apesar de ser um produto inovador no Brasil, ele já é bastante consumido na Europa e nos Estados Unidos, representando uma média de 15% da produção total. Esse novo produto apresenta mais estabilidade térmica e oxidativa, como também reduz cerca de 15% das emissões de gases de efeito estufa, quando comparada ao biodiesel éster.
Em outras palavras, aumenta-se a vida útil de veículos e reduz-se, por consequência, o custo com transportes. E, por ser compatível com novos veículos, o lançamento de contaminantes metálicos é ausente e há redução de emissão de poluentes.
Para breve
A nova fase da legislação brasileira de emissões, a fase P8 do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), será introduzida no Brasil em 2022/23 e exigirá os mesmos limites de emissões usados nos Estados Unidos e Europa.
Em função dos contaminantes metálicos, há um limite máximo para o biodiesel éster no óleo diesel rodoviário na Europa (7%) e nos Estados Unidos (5%), como também para o óleo diesel comercializado para transportes.
Encontram-se muitas vantagens no uso dos biocombustíveis, podendo-se elencá-la como uma tecnologia que mais se desenvolve no mundo, sendo uma das áreas com grande expectativa de geração de empregos.
Os biocombustíveis reduzem ainda a nossa necessidade no uso de combustíveis fósseis, um dos principais elementos usados para o aumento da concentração de gases poluentes do efeito estufa na atmosfera, como também, pode estender a vida útil das máquinas, já que aumenta o tempo de troca do filtro do motor, e outras peças relacionadas à combustão.
Origem
Existem várias espécies vegetais aqui no Brasil das quais se pode produzir biocombustíveis, sendo as principais a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), a mamona (Ricinus communis), o dendê (Elaeis guineenses), o girassol (Helianthus annuus), o babaçu (Orbignya phalerata), o amendoim (Arachis hypogaea), o pinhão manso (Jatropha curcas) e a soja (Glycine max).
Além disso, a Embrapa indica a macaúba como potencial alternativa na produção de biocombustível, podendo ser melhor até do que a soja e o dendê.
Macaúba e seus benefícios
A família Arecaceae representa a família das palmeiras, principalmente no Brasil, sendo conhecidas pelo seu valor econômico no uso das diferentes partes das plantas. Entre essas palmeiras, está a macaúba, que pode ser conhecida por outros nomes populares, principalmente por estar localizada em vários Estados brasileiros e em países vizinhos.
Conforme as informações do programa Reflora, a espécie tem utilização em construções rurais e as folhas podem ser usadas para confecção de redes, linhas de pesca e cestos.
A palmeira pode atingir mais de 15 m de altura, podendo se adaptar a diferentes climas e solos. Além disso, os frutos apresentam alto teor de óleo, com potencial na indústria de biocombustíveis, de alimentos, farmacêutica e de cosméticos.
O potencial econômico da macaúba é advindo dos seus produtos, que são diversos. O principal produto que tem sido introduzido no mercado financeiro é o seu óleo para a produção de biocombustíveis, pois possui uma produção de 24 toneladas de frutos/ha, correspondendo ao número expressivo de 4,8 toneladas de óleo/ha.
Também pode ser usado nos setores medicinal, cosmético e alimentício (Cetec, 1983). Não menos importante, o tegumento dessa palmeira também é utilizado para a produção do carvão ativado (Silva et al., 1986).
Esta palmeira apresenta uma produtividade média geral de 114,1 kg/planta/ano, com 45,6 toneladas/hectare de cachos para uma densidade de cultivo de 400 plantas/hectare, isso para as regiões avaliadas.
O rendimento médio do óleo pode atingir 4,0 toneladas de óleo/hectare/ano da polpa e 0,8 tonelada de óleo/hectare/ano da amêndoa. Esses valores são superiores ao rendimento das oleaginosas mais utilizadas para extração de óleos, como a soja, a mamona, o girassol, o algodão e o amendoim, que apresentam produtividade média de 1,0 tonelada óleo/hectare/ano.
Nesse contexto, a macaúba se torna uma alternativa de grande potencial para produção sustentável de biocombustíveis (Pousa et al., 2007).
Importância socioeconômica
Outro fator muito importante da cultura da macaúba é sua importância socioeconômica, uma vez que faz parte do extrativismo familiar. Esse sistema de extrativismo rende baixa produtividade no cultivo dessa palmeira ou pelo cultivo de populações heterogêneas, o que causa dificuldades de manejo e colheita (Manfio et al., 2012; Motta et al., 2002; Wandeck e Justo, 1998).
Contudo, esses pequenos agricultores podem ser beneficiados com projetos para inclusão social e desenvolvimento da região por meio da geração de emprego e renda. Estes são os princípios básicos das ações direcionadas do biodiesel, a criação de rotas de tecnológicas e matérias-primas utilizadas para produção e consumo.
A macaúba é uma palmeira com grande potencial de uso, sendo empregada em diversos segmentos, como alimentares, cosméticos e energéticos, e não deixa resíduos inaproveitáveis (Lobato, 2014). Em contrapartida, por não possuir uma cadeia produtiva bem estruturada, como por exemplo a sazonalidade e maturação irregular dos frutos no cacho, isso resulta na baixa qualidade do óleo.
Outro fator importante a ser considerado é a exploração por extrativismo, o que gera uma irregularidade tanto na colheita quanto no armazenamento dos frutos. Tudo isso tem amplificado sua reduzida participação no mercado brasileiro de biodiesel (Nobre et al., 2014).
O Brasil é um dos principais países capaz de alcançar alternativas para substituir os combustíveis fósseis e a macaúba é uma espécie com potencial significativo na produção de biocombustíveis.
Viabilidade do cultivo
Algumas alternativas para viabilizar esse cultivo são:
• Criação de políticas governamentais para solidificar a produção comercial, ajudando a estabelecer seu uso de fins energéticos;
• Planejamento dos plantios de macaúbas, podendo ser associados a outras espécies;
• Investimento em mais pesquisas para esclarecer não só a importância dessa cultura, como também os mecanismos que envolvem sua produção e extração de óleo.