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Quiabo bordô atende alta gastronomia

Autoras

Veridiana Zocoler de MendonçaEngenheira agrônoma e doutora em Agronomia – Unespveridianazm@yahoo.com.br

Aline Mendes de Sousa GouveiaEngenheira agrônoma, doutora e professora – Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (UNIFIO) aline.gouveia@unifio.edu.br

Quiabo bordô – Crédito: Isla

O quiabo (Abelmoschus esculentum, anteriormente Hibiscus esculentus) pertence à família Malvaceae. Planta de ciclo vegetativo rápido, fácil cultivo, alta rentabilidade e, devido ao amplo leque de utilidades, tem demandado crescente aumento de produção.

É uma hortaliça amplamente utilizada na culinária brasileira, com alto valor alimentício, sendo importante fonte de vitaminas A e C e sais minerais como cálcio, ferro, fósforo, além de qualidades medicinais e terapêuticas reconhecidas.

Diferencial do quiabo bordô

Vegetais com coloração do vermelho ao azul intenso, como o quiabo bordô, possuem um pigmento chamado antocianina, sendo uma das principais classes dos flavonoides que contribuem significativamente com ação antioxidante. São pigmentos amplamente distribuídos em vegetais e exercem efeito protetor e preventivo no organismo humano. Seu potencial antioxidante pode chegar ao dobro dos antioxidantes comerciais, como a vitamina E.

Assim, alimentos com significativa ação antioxidante, além de possuírem a função nutricional para o corpo, oferecem outros benefícios, por conterem substâncias bioativas que atuam como promotoras da saúde e estão associadas à diminuição dos riscos de desenvolvimento de doenças crônicas.

Genética

A escolha de materiais vegetais mais produtivos e uniformes também deve estar associada às características de genótipos que permitam maior qualidade nutricional. Dessa forma, novas cultivares vêm transformando o mercado consumidor, devido à demanda por cultivares mais atrativas, de cores e texturas diferenciadas, que possuem apelo nutricional para uma população interessada em alimentação saudável.

Contudo, permitem a elaboração de pratos mais refinados, da alta gastronomia, sendo encontrados nas principais redes de restaurantes, principalmente em grandes centros urbanos.

Pelo Brasil afora

São os pequenos e médios produtores os responsáveis por quase toda a produção da cultura. A produtividade é variável, geralmente em torno de 20 t ha-1, com possibilidade de atingir 40 t ha-1 quando o período de colheita é prolongado.

A produção mundial de quiabo foi de 9,8 mil toneladas, numa área aproximada de dois mil hectares, em 2018 (Faostat). A Ásia é responsável por 69,5% da produção mundial, seguida do continente africano, com 29,7% e das Américas, com 0,8%. No ranking dos países, a Índia é o principal produtor, com média de 4,5 mil toneladas, seguido pela Nigéria, com 1,2 mil toneladas.

No Brasil, é cultivado principalmente nas regiões nordeste e sudeste. O quiabeiro é amplamente cultivado no Estado de São Paulo. Segundo dados de 2012 do IEA/CDRS (CATI), houve cultivo em 148 municípios, sendo os maiores em área cultivada: Piacatu (220 ha), Promissão (120 ha), Mogi Guaçu (110 ha) e Araçatuba (100 ha). As regiões administrativas de maior expressão foram Araçatuba (33,9%), Campinas (27,6%) e Sorocaba (11,4%).

Segundo a Seção de Economia e Desenvolvimento da própria CEAGESP, a sazonalidade da comercialização do quiabo ocorre com maior expressão nos meses de abril a dezembro, sendo o mês de março considerado moderado e os meses de janeiro e fevereiro com baixa comercialização.

Os principais municípios que enviam quiabo para o Entreposto da Capital Paulista da Ceagesp são: Itaberá-SP (16%), Piacatu -SP (13,6%) e Gabriel Monteiro-SP (10%). Em 2017 foram comercializadas 12.513 toneladas de quiabo. Entre os meses de abril e maio de 2020, conforme dados disponibilizados pelo Programa Brasileiro de Modernização do Mercado de Hortigranjeiro – Prohort – da CEAGESP, a média de preço foi de R$ 4,90/kg, variando de R$ 1,98/kg a R$ 8,00/kg, preços dos Estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul, respectivamente.

Manejo

A cultura do quiabeiro desenvolve-se bem em vários tipos de solo, mas é importante que os mesmos tenham boa drenagem. Em solos arenosos, menos férteis, com baixo teor de matéria orgânica, é importante que se faça uma adubação orgânica em toda a área de cultivo, cerca de 30 dias antes do plantio.

Pode-se utilizar de 10 a 20 t/ha de esterco de curral ou de composto orgânico, ambos bem decompostos, ou ainda, 2,5 a 5,0 t/ha de esterco de galinha curtido ou húmus de minhoca. As quantidades recomendadas de fertilizantes orgânicos variam conforme as características de cultivo: clima da região, época de plantio, ciclo da cultura, níveis de matéria orgânica, textura do solo, utilização ou não de irrigação na cultura, entre outros.

Contudo, deve-se atentar para o fato de que o uso excessivo de adubos orgânicos poderá acarretar em desenvolvimento vegetativo exuberante, dificultando as colheitas e o controle fitossanitário, entres outros aspectos.

Por ser uma cultura pouco tolerante à acidez elevada do solo, a calagem torna-se importante para manter o pH em torno de 6,0 a 6,8, sendo recomendada a análise do solo para esta operação. A adubação e a nutrição mineral são fatores essenciais para ganhos na quantidade e qualidade do produto, desde que aplicadas corretamente, de modo a atingir elevada eficiência, minimizar o custo de produção e reduzir os danos ambientais. Consequentemente, há garantia de melhor retorno aos produtores.

Nutrição

A adubação química é realizada principalmente em função de aplicações dos macronutrientes N e P, visto que a cultura do quiabo apresenta boas respostas de crescimento e desenvolvimento, mediante aplicações em doses corretas.

A maior demanda por N é no período entre 30 e 90 dias após a semeadura. Na adubação mineral de cobertura pode-se aplicar de 20 a 80 kg/ha de N e 15 a 60 kg/ha de K2O durante o ciclo da cultura. As coberturas (20 kg/ha de N e 15 kg/ha de K2O cada) iniciam-se aos 20 dias após a emergência das plantas, podendo ser repetidas a cada 30 dias, dependendo do desenvolvimento do quiabeiro.

Deve-se evitar a aplicação de nitrogênio em plantas vigorosas, procurando-se, com isso, manter um balanço adequado entre a área foliar e a quantidade de frutos em produção. É importante ressaltar a necessidade de análise de solo para melhor adequar as demandas nutricionais da cultura.

Tratos culturais

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O quiabeiro desenvolve-se bem em temperaturas quentes, entre 18 e 35ºC, tolerando clima ameno, porém, é intolerante ao frio, que retarda ou mesmo impede a germinação e a emergência, prejudicando o crescimento, a floração e a frutificação, consequentemente, diminuindo a produtividade da cultura.

A semeadura, em canteiros definitivos, vai de setembro a janeiro, no entanto, em regiões mais quentes pode ocorrer durante o ano todo. O espaçamento normalmente é 0,90 a 1,20 m entrelinhas x 0,15 a 0,40 m entre plantas, com 1,0 a 2,0 plantas/cova.

Em relação ao fornecimento de água, no plantio por semeadura direta, no período normal de chuvas, de novembro a fevereiro, a irrigação pode até ser dispensada, mas sua utilização pode garantir boa produtividade. No plantio de mudas, que deverão apresentar de três a quatro folhas definitivas, é necessário irrigar. A maior exigência por água ocorre durante o período de rápido crescimento e desenvolvimento das plantas.

Fitossanidade

As plantas do quiabeiro são rústicas e pouco suscetíveis ao ataque de pragas e doenças, sendo as principais: ácaros, lagarta-rosca, vaquinha, oídio, murcha-de-verticílio e podridão-mole. O controle deve ser feito com defensivos agrícolas, bem como a rotação de culturas na área, de preferência com melancia, batata e feijão-vagem, o que, além de contribuir para a quebra do ciclo da praga ou patógeno, traz outra opção de renda.

O quiabo geralmente apresenta germinação e crescimento inicial lentos e é cultivado com espaçamentos elevados, o que contribui para o aumento do período crítico de prevenção à interferência de plantas daninhas. Portanto, nos cultivos em que as plantas daninhas não são manejadas adequadamente, ocorrerá interferência no processo produtivo, pois pode haver competição pelos recursos do meio, principalmente por água, luz e nutrientes e, consequentemente, queda de produção.

A primeira etapa para um manejo adequado de plantas daninhas em uma lavoura envolve a identificação das espécies presentes na área para então realizar a escolha de qual o melhor manejo a ser adotado, seja ele cultural, mecânico, físico, biológico, químico ou integrado. A capina manual é amplamente adotada pelos pequenos produtores.

Colheita

A colheita ocorre de 60 a 80 dias após o plantio, com período de colheita de 70 a 90 dias e demanda mão de obra, uma vez que é manual, devendo ser feita diariamente ou em dias alternados, para melhor padronização de frutos colhidos.

Ao contrário de muitas hortaliças em que os frutos são consumidos quando atingem seu máximo desenvolvimento fisiológico, os frutos do quiabeiro devem ser consumidos quando apresentam-se tenros e com a ponta facilmente quebrada pelos dedos da mão, pois à medida que os frutos crescem e se desenvolvem, o teor de fibras também aumenta, tornando-se, em determinado ponto, inadequados para o consumo in natura.

Em regiões de clima favorável, pode-se realizar a poda a fim de conseguir um período de colheita extra. Ao término do período usual de colheita, o quiabeiro pode ser podado, corte em bisel, na altura em que aparecem os brotos, a aproximadamente 50 cm do colo da planta.


Classificação

Segundo dados do Centro de Qualidade em Horticultura de São Paulo da CEAGESP, o quiabo brasileiro pode ser classificado, como subgrupo, de acordo com seu formato, em cilíndrico ou quinado, em verde ou roxo e classe, que diz respeito ao comprimento, normalmente de 6 a 15 cm.

Mercados exigentes preferem frutos cilíndricos, com cerca de 10 a 14 cm de comprimento, não aceitando frutos tortos. Frutos tortuosos, murchos, encaroçados, sem pedúnculo ou pedúnculo maior que 1,0 cm, coloração não uniforme e podridões são considerados defeitos variando de leve a grave.

O quiabo é um produto altamente perecível, com curto período de conservação pós-colheita. Após a colheita, continua com o metabolismo respiratório ativo, devido às reações de amadurecimento, síntese de etileno, transpiração e transformações químicas que ocorrem normalmente no fruto.

Portanto, para prolongar o período de armazenagem, é necessário o uso de técnicas apropriadas na pós-colheita que mantenham a qualidade e reduzam as perdas, como o uso de embalagens adequadas e refrigeração.


Inovações tecnológicas

Na busca por modelos de produção mais sustentáveis, há estudos para adoção de sistema plantio direto na produção de quiabo com cultivo intercalado de plantas de cobertura para formação de palhada.

Um estudo apontou que, no verão, a maior produtividade da cultura do quiabeiro foi obtida na cobertura com palhada de sorgo forrageiro. O diâmetro e o comprimento dos frutos não diferiram entre as diferentes plantas de cobertura (sorgo forrageiro, milho, crotalária, crotalária + sorgo forrageiro, milho + crotalária, milho + sorgo, crotalária + milho + sorgo e vegetação natural).

Já no inverno, a maior produtividade de quiabo foi obtida no cultivo sob palhada de crotalária com 23,98 t ha-1. Para as características número, diâmetro, comprimento de frutos e diâmetro do caule e altura da planta não houve diferença do cultivo sob as palhadas de sorgo forrageiro, milho, crotalária, crotalária + sorgo forrageiro, milho + crotalária, milho + sorgo, crotalária + milho + sorgo e vegetação natural.

Vale a pena?

O cultivo do quiabo apresenta baixo custo de produção e menores possibilidades de ocorrência de problemas fitossanitários em comparação com outras culturas, tais como o tomate e morango, contribuindo para o menor gasto com defensivos agrícolas durante o ciclo da cultura.

Tais características evidenciam o seu potencial para incorporação em pequenas unidades produtivas. Estima-se que 30% do custo de produção sejam correspondentes aos insumos e 70% à mão de obra e máquinas.

Empresas produtoras de sementes do quiabo bordô afirmam que esta é uma variedade altamente produtiva e possui ótima uniformidade de plantas e frutos, contribuindo com maior rentabilidade. Ademais, variedades diferenciadas das tradicionais, seja devido à coloração, formato, textura ou sabor, apresentam cotação de mercado mais alta, o que também garante maior retorno financeiro ao produtor.


Inovação genéticaAmanda Inoue

Coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento – Isla Sementes

O Quiabo Carcará é uma variedade exclusiva da Isla Sementes e foi pensado e desenvolvido para a alta gastronomia, com frutos de bom sabor e textura. As principais diferenças entre o quiabo bordô e o quiabo Santa Cruz, o mais produzido no Brasil, são: a coloração do roxo brilhante do quiabo bordô, enquanto o Santa Cruz 47 é verde brilhante.

O bordô tem o formato quinado, diferente do Santa Cruz, cilíndrico com pontas. As duas variedades são plantas vigorosas e de alta produtividade, entretanto, o bordô Carcará é de porte alto.

Outros diferenciais do Quiado Carcará, da Isla Sementes, são: ótimo sabor, melhor adaptação a temperaturas quentes e amenas e boa tolerância ao oídio, que é a principal doença foliar do quiabeiro, com isso gerando uma produtividade maior em quantidade e qualidade.

Mercado interno x externo

O mercado do quiabo oscila muito, sendo melhor em épocas menos chuvosas e caindo na época de chuvas mais acentuadas. No período chuvoso, a procura e o valor são menores, mas com menor precipitação de água o mercado tende a subir a procura e os valores. Sendo assim, entre os meses de dezembro a abril a produção é grande, mas com preços despencando, enquanto em maio, junho e julho a produção é menor, com valores mais altos no mercado.

Investimento

É difícil falar um valor médio de investimento, visto que cada produtor tem um método de trabalho, tendo que enfrentar diferentes necessidades de investimento de acordo com a realidade da propriedade. Entretanto, em relação aos investimentos apenas em sementes do Quiabo Carcará, é possível encontrar desde envelopes de 3,0 g por R$ 5,50, até pacote longa vida de 500 g, por R$ 146,30, valores estes que podem sofrer variação de acordo com o volume adquirido.

No geral, o investimento pode ser considerado baixo/médio, já que é mais caro do que o quiabo Santa Cruz, mas inferior a outras hortaliças. Vale ressaltar que o investimento também varia de acordo com os insumos e mão de obra requerida.

Por ser uma cultura bastante resistente a pragas e doenças, com baixo/médio custo de investimento inicial, o retorno não é considerado demorado. O ciclo médio no verão desta cultivar é de em torno de 70 dias para iniciar a colheita, quando o retorno do investimento se inicia.

Demanda

A maior demanda de quiabo no Brasil é no Estado de Minas Gerais, sendo as principais regiões produtoras os Estados de MG, SP, SE, RJ, ES, BA e GO, representando mais de 85% da produção nacional.

Do plantio à colheita

A época ideal para o plantio do Carcará é de setembro a janeiro para as regiões de clima frio, de agosto a março para as regiões de clima ameno e o ano todo para as regiões de clima quente. As necessidades das sementes para plantio são: espaçamento de linhas x plantas deve ser de 80 x 50 cm, respectivamente. Necessita de 30 g por cova de adubo NPK e 150 g de esterco por cova. A germinação varia de quatro a 21 dias.

O plantio deve ser feito numa cova de 15 x 15 cm (profundidade e largura). Após o preparo da cova, a mesma deve ser coberta com terra, de forma que a adubação e esterco fiquem 0,5 cm abaixo da superfície.

A temperatura do solo interfere no tempo de germinação das sementes. Com temperatura média de 20ºC, as sementes levam 17 dias para germinar. Com temperatura média de 30ºC, a germinação acontece após sete dias. Recomenda-se irrigar as covas de plantio ou os sulcos, um dia antes da semeadura.

Na semeadura, colocam-se de três a cinco sementes por cova, na profundidade de 3,0 a 5,0 cm. O gasto de sementes é de 6,0 a 9,0 kg por hectare (10.000 m²). Posteriormente, faz-se o desbaste, deixando duas plantas por cova, lembrando que o semeio também pode ser feito em bandejas de 128 e 200 células.

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