Vanessa Alves Gomes
Engenheira agrônoma, mestra em Fitopatologia e doutora em Proteção de Plantas – Unesp Botucatu
vanessa.gomes1@bayer.com
Carolina Alves Gomes
Engenheira agrônoma e mestra em Agronomia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
carol.agomes11@gmail.com
Os nematoides são microrganismos (0,2 – 12 mm) que atacam as raízes de diversas plantas. Dentre os mais importantes, temos em primeiro lugar o Meloidogyne spp., mais conhecido como nematoide-das-galhas, seguido pelo Pratylenchus spp., o nematoide-das-lesões-radiculares.
Quem são eles
O nematoide-das-galhas, como o próprio nome diz, é responsável por causar engrossamentos nas raízes. Estes sintomas são visíveis a olho nu, em raízes de plantas infectadas. O Meloidogyne é polífago, ou seja, se alimenta de diversas espécies vegetais, causando, assim, danos em diversas culturas.
Já o nematoide-das-lesões-radiculares é conhecido por causar lesões necróticas nas raízes das plantas. Raízes infectadas adquirem coloração escura e começam a entrar em decomposição. Este também apresenta vários hospedeiros suscetíveis.
Ambos são capazes de causar doenças em olerícolas, soja, milho, cana-de-açúcar, café, algodão, frutíferas, plantas ornamentais, espécies florestais, dentre outras.
A soja
No caso da cultura da soja, observam-se frequentes problemas na presença do nematoide-das-galhas. Mas também, podemos encontrar problemas com o Heterodera glycines, também conhecido como o nematoide-do-cisto-da-soja.
Este nematoide difere dos citados anteriormente, pois fica mais restrito à cultura da soja, no entanto, apresenta várias raças, dificultando ainda mais o seu manejo.
Sintomas
Em áreas que apresentam o nematoide-do-cisto-da-soja, cerca de 30-40 dias após a semeadura é possível observar pontuações de coloração branca nas raízes, que representam as fêmeas vivas.
Com o passar do tempo, essas fêmeas produzem inúmeros ovos e seu corpo muda para uma coloração escura, o que indica que agora a fêmea está morta e seu corpo passa a ser denominado de cisto. Os cistos são estruturas de resistência e permanecem viáveis no solo por vários anos (~ 10 anos).
Os sintomas diretos dos nematoides são vistos nas raízes das plantas, como a presença de galhas, necroses, fêmeas/cistos. Logo, é necessário o arranquio de uma planta com sintoma para verificar a saúde do seu sistema radicular. Por outro lado, podemos encontrar sintomas de parte aérea em reboleiras que funcionam como um indicativo de onde os nematoides podem estar concentrados.
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Disseminação
Áreas que apresentam nematoides geralmente causam reboleiras, com plantas amareladas, de menor porte e desenvolvimento comprometido, podendo ser encontradas plantas mortas em casos mais estremos. É perceptível a anormalidade nesta parte da lavoura, sendo recomendado realizar o arranquio de plantas para confirmação dos sintomas.
Em casos em que se desconhece a presença dos nematoides na área, a disseminação acontece de forma silenciosa. O nematoide não é capaz de se locomover, a longas distâncias, sozinho. Dessa forma, ele apresenta disseminação passiva.
É disseminado por meio de máquinas e implementos, sola de sapato, enxurrada e até mesmo de ventos fortes, que carregam partículas de solo.
Hora do controle
O fato de os nematoides estarem no solo e serem organismos microscópicos dificulta uma medida de controle eficiente. Eles agem de forma silenciosa, principalmente no início, quando as populações estão menores. E, ao encontrarem plantas hospedeiras suscetíveis na área, vão se multiplicando e crescendo suas populações.
Desta forma, o produtor só consegue observar os danos na sua propriedade quando a população já se encontra em níveis elevados. E, nestes casos, os prejuízos são bem significativos, podendo chegar a 100%, a depender da cultura.
Como a detecção desses microrganismos é difícil e costuma acontecer quando suas respectivas populações já se encontram elevadas, fica cada dia mais desafiador o manejo deste problema no campo.
A partir do momento que o nematoide entra em uma área, sua erradicação é dada como impossível. Por isso, em casos de problemas com nematoides, utilizamos medidas para manejar o patógeno em prol de reduções populacionais.
Realizar uma identificação do patógeno o mais cedo possível na área, bem como conter essa disseminação por meio de boas práticas agrícolas, limpeza de maquinário, curvas de nível, pedilúvio, adquirir material propagativo sadio, bem como controlar a entrada de veículos e pessoas nas áreas, é fundamental para evitar entrada e disseminação de nematoides das áreas cultiváveis.
Manejo integrado
Para áreas que já apresentam o patógeno, é fundamental a utilização, sempre que possível, de duas ou mais medidas de controle. Alguns produtos químicos estão no mercado e conseguem auxiliar nessa redução populacional, sendo eles produtos com princípio ativo/grupo químico: abamectina (avermectina), fluazinam (fenilpiridinilamina) + tiofanato-metílico (benzimidazol), cadusafós (organofosforado), fluensulfona (fluoroalkenyle (-thiother)), tiodicarbe (metilcarbamato de oxima), fluopyram (benzamida).
Encontram-se, também, produtos biológicos que conseguem atuar no controle, seja por parasitismo do nematoide ou de seu ovo, por competição, entre outros mecanismos. Como exemplo, encontramos Pochonia clamidosporium, Paecilomyces lilacinus, Trichoderma harzianum, Bacillus subtilis e Pasteuria penetrans.
Além disso, estudos à base de plantas estão sendo cada dia mais estudados. Hoje, já podemos encontrar um produto à base de plantas sendo comercializado para o controle de nematoides, o Allium sativum (extrato vegetal).
Outro ponto muito importante no manejo é a realização de um sistema de rotação de culturas bem construído, utilizando plantas que não são hospedeiras, contendo a multiplicação do patógeno no local.
A rotação precisa fazer uso de culturas que geram uma fonte de renda para o agricultor, mas, além disso, precisam ser espécies vegetais que não possibilitem o problema com os nematoides aumentarem ainda mais, contendo a sua reprodução.
Cuidado!
Focar na simples sucessão de soja e milho não será algo benéfico para áreas com nematoides e pode aumentar o problema no local. É fundamental inserir algumas espécies gramíneas, plantas de cobertura, que apresentam fator de reprodução baixo para a espécie de nematoide presente na área (FR<1).
Para conseguir se antecipar e prevenir grandes perdas econômicas, é importante realizar análises nematológicas frequentemente. A coleta das amostras deve ser realizada sempre no período de floração, momento em que, se houver nematoide na área, ele já terá saído da dormência, eclodido dos ovos presentes no solo e infectado as raízes das plantas.
Neste caso, deve-se coletar solo e raízes, armazenar em local adequado e refrigerado e encaminhar para um laboratório confiável e certificado para o resultado ser o mais representativo possível.
Alarme silencioso
A presença de nematoides nas áreas cultiváveis tem se tornado algo muito comum. No passado, muitos ocultavam os problemas e isso acabou gerando um aumento silencioso dos nematoides.
Hoje, com a conscientização e a aceitação, conseguimos adotar boas medidas para conviver com o patógeno e minimizar os prejuízos por ele causados.