Autor
Ronaldo Machado Junior
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutorando em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
ronaldo.juniior@ufv.br
Herika Paula Pessoa
Engenheira agrônoma, mestre e doutoranda em Fitotecnia – UFV
herika.paula@ufv.br
Intempéries climáticas podem prejudicar tanto a qualidade quanto o rendimento da produção de hortaliças, reduzindo drasticamente a rentabilidade do negócio para o produtor. Para fazer frente a esses riscos, o cultivo em ambiente protegido, também denominado plasticultura, tem demonstrado ser uma alternativa bastante promissora.
Nesse tipo de cultivo as possíveis adversidades ambientais são minimizadas, de forma que as plantas podem se desenvolver com o mínimo de estresse possível. O cultivo em ambiente protegido pode ser realizado em estruturas complexas, como as estufas climatizadas, ou muito simples, como as coberturas para sombreamento.
Esse sistema possibilita o controle das condições ambientais, ajustando-as de forma que se adequem às necessidades de cada cultura. É possível, por exemplo, reduzir a intensidade dos ventos e radiação solar, e evitar grandes variações de umidade e temperatura. Esses ajustes climáticos proporcionam maior eficiência produtiva por meio do controle de pragas, doenças e estresses ambientais, o que culmina em produtos de melhor qualidade.
O cultivo protegido é uma realidade na produção de mudas e começa a ter mais espaço também na produção de hortifrútis. Inúmeras espécies de hortaliças têm sido amplamente cultivadas utilizando esse sistema, dentre as quais destacam-se as folhosas, pimentão, tomate e mini-hortaliças.
Benefícios
É importante salientar que quanto maior o valor agregado no ambiente protegido, maior será o retorno para o produtor. Algumas das características que o cultivo protegido pode proporcionar e que agregam valor ao produto final são melhor aparência e maior produtividade.
Além disso, ele abre a possibilidade para o plantio em época diferenciada, permitindo ao produtor a adequação da época de plantio de forma que ele consiga antecipar ou atrasar a colheita para fugir dos momentos de grande produção das culturas produzidas e garantir melhor preço para o seu produto.
Redução de custo
Além do controle parcial das condições edafoclimáticas, o ambiente protegido permite a realização de cultivos em épocas que normalmente não seriam escolhidas para a produção ao ar livre. O clima é um fator que influencia a produção agrícola, principalmente de hortaliças.
No verão, as chuvas demasiadas danificam as hortaliças e criam condições favoráveis para o aparecimento de doenças. Por outro lado, o frio e os ventos de inverno acabam prolongando o ciclo dessas culturas.
Esse sistema também auxilia na redução das necessidades hídricas (irrigação), por meio do uso mais eficiente da água pelas plantas. Outro bom motivo para produzir em ambiente protegido é o melhor aproveitamento dos recursos de produção (nutrientes, luz solar e CO2), resultando em precocidade de produção (redução do ciclo da cultura) e redução do uso de insumos, como fertilizantes (por meio da fertirrigação) e defensivos.
Os gastos com controle de pragas e doenças também podem ser reduzidos no cultivo protegido. Estruturas que possuem suas laterais fechadas com telas funcionam como uma barreira contra a entrada de insetos nas plantações, o que facilita o controle biológico de pragas. A cobertura, por sua vez, diminui o molhamento foliar e, consequentemente, a incidência de doenças.
Manejo da produção em ambiente protegido
Para cultivar hortaliças em ambiente protegido é necessário, antes de tudo, conhecer muito bem as espécies, principalmente quanto às exigências ambientais e nutricionais. Também é importante conhecer o ambiente, como por exemplo, as condições de temperatura, umidade, período de maior chuva, predominância de ventos, entre outras.
O sucesso do cultivo em ambiente protegido depende, dentre outros fatores, do correto manejo de três componentes ambientais essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas: radiação, temperatura e umidade relativa do ar.
A radiação solar é o principal fator que limita o rendimento das espécies, tanto no campo como em ambientes protegidos, especialmente nos meses de inverno e em altas latitudes. A radiação solar incidente no interior do ambiente protegido pode reduzir de 5 a 35%, a depender de características como a estação do ano, hora do dia, composição química e espessura do plástico, entre outros.
Assim, um detalhe importante para o manejo adequado é garantir que o ambiente protegido seja construído em um local em que ele não seja sombreado, mesmo que seja apenas por algumas horas durante o dia. Estruturas geminadas também geram faixas de sombreamento sobre as culturas em seu interior.
Outro ponto a ser observado é a deposição de poeira sobre o filme plástico, que reduz a luminosidade no interior da estrutura, causando o estiolamento das plantas. Para os cultivos sensíveis ao excesso de luminosidade, o uso de malhas sintéticas de sombreamento soluciona satisfatoriamente o problema.
A temperatura também é determinante para o sucesso dos cultivos de hortaliças. O cultivo em ambiente protegido leva a uma elevação da temperatura. O manejo da temperatura do ambiente protegido começa pela escolha do tipo de ambiente a ser utilizado, que está muito relacionado ao tipo de hortaliça que vai ser cultivada.
Cada hortaliça possui uma necessidade fisiológica diferente de temperatura, a qual pode não ser atingida em função do tipo de ambiente utilizado. É importante, ainda, estar atento à altura do pé direito do ambiente quando se pensa em cultivar plantas com arquitetura mais alta, como o tomateiro.
Hortaliças de porte herbáceo podem ser cultivadas em ambientes com pé direito menor, ou mesmo com a ausência desse, como é o caso dos túneis de cultivo forçado, porém, sempre respeitando as necessidades térmicas da cultura.
Alguns recursos podem ser utilizados para a redução da temperatura. O posicionamento da estrutura pode favorecer a ventilação natural dentro do ambiente. Outro ponto a ser observado são as cortinas laterais, que devem ser sempre móveis, para serem fechadas no caso de necessidade de retenção da temperatura pelo aquecimento do ar, ou abertas para a saída do ar quente, quando se deseja o resfriamento.
Saídas para o ar quente, na parte superior das estruturas, também possibilitam o resfriamento do interior do ambiente protegido. O uso de telas sintéticas de sombreamento, embora sejam relativamente eficientes na diminuição da temperatura, também diminuem a luminosidade, o que nem sempre é desejado.
Novidade
No mercado existe à disposição dos produtores uma tela aluminizada que proporciona redução da temperatura sem influir demasiadamente na luminosidade. A nebulização é um outro recurso disponível para a redução da temperatura no interior dos ambientes protegidos.
Contudo, o manejo incorreto dos nebulizadores pode causar efeitos negativos na cultura, em função do molhamento da parte aérea da planta e aumento da umidade relativa dentro do ambiente protegido, que acarretará outros problemas, como o aparecimento doenças fúngicas e bacterianas.
Para algumas regiões do Brasil, a elevação da temperatura do ar dentro do ambiente protegido em alguns meses ou em alguns dias dos meses de inverno é necessária. O modo mais econômico para o aquecimento do ambiente é pelo manejo das cortinas laterais, que são abertas no período da manhã e fechadas à tarde, quando a temperatura diminui.
Assim, o ar quente é acumulado dentro do ambiente para que à noite a planta tenha temperaturas maiores que a externa. Com relação à temperatura do solo, pode-se mantê-la dentro da faixa mais adequada para a cultura com um manejo muito simples – a irrigação. No verão, a irrigação e o manejo da temperatura do ar contribuem para a manutenção dentro da faixa ideal para a cultura.
Atenção
O produtor deve estar atento à temperatura do solo, principalmente no início do desenvolvimento da cultura e quando utilizar “mulching”. No inverno, as irrigações devem ser feitas preferencialmente no período da manhã para que haja tempo do solo aquecer durante o dia.
A umidade relativa do ar está diretamente relacionada à ocorrência da maioria das doenças. Portanto, com o manejo correto da umidade é possível diminuir a incidência de doenças e, consequentemente, gerar redução no uso de defensivos agrícolas, diminuindo o custo de produção.
O manejo da umidade do ar deve ser realizado de acordo com as necessidades da cultura, de maneira que o produtor a mantenha dentro da faixa ideal para a cultura. O excesso de umidade dentro do ambiente protegido pode ser proveniente da localização da estrutura. Isso ocorre quando ela é instalada em baixadas sujeitas ao acúmulo de neblina ou próximas aos lagos e represas. Essa situação deve ser evitada durante a etapa de planejamento.
Uma alternativa que reduz a umidade do ar dentro do ambiente protegido são os filmes plásticos “anti-gotejo”, que auxiliam as gotas formadas a escorrerem pelo lado interno do plástico para as laterais da estrutura, o que pode ser maximizado ainda pelo formato da mesma.
Resultados em campo
O cultivo em ambiente protegido possibilita o cultivo de frutas e hortaliças em qualquer época do ano, com economia de água, redução do uso de agrotóxicos, isolamento de pragas e controle de intempéries climáticas, o que proporciona um produto de maior qualidade e menor agressão ao meio ambiente.
Esse sistema permite o controle da temperatura, da umidade relativa do ar, da iluminação e de inúmeros outros fatores que podem influenciar no desenvolvimento da planta. Dessa forma, é possível garantir que o produtor produza com alta qualidade, com valor agregado e tenha maior rentabilidade. Estudos apontam que a produtividade dentro do ambiente protegido pode ser duas a três vezes maior que as observadas no campo e com qualidade superior.
Vantagens:
º Aumenta a produtividade;
º Possibilita o controle do ambiente;
º Contribui para a produção de diversas culturas em diferentes regiões e épocas do ano;
º Reduz o consumo de água;
º Proteção contra chuva, granizo e geadas;
º Controle do vento e radiação solar;
º Melhor condição de trabalho para funcionários;
º Possibilidade de produzir e comercializar produtos diferenciados, como miniprodutos/baby.
Oportunidades:
] Bom retorno econômico em áreas de pequena escala de produção;
] Agrega valor, especialmente em hortaliças diferenciadas;
] Comercialização na época de entressafra;
] Opção para regiões com alto custo de terra.
Desvantagens:
9 Alto custo de implantação;
9 Dificuldade para rotacionar áreas;
9 Baixo incentivo para a produção em ambiente protegido;
9 Falta de informações/assistência técnica para aperfeiçoar e implementar o sistema;
9 Ausência de recomendação técnica sobre o uso de defensivos e fertilizantes.
Ameaças:
Ü Escassez de mão de obra qualificada;
Ü Falta de investimento na formação e capacitação de profissionais tecnificados;
Ü Baixo incentivo para pesquisa básica em cultivo protegido.