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Como reduzir o estresse das plantas

O agricultor deve ter em conta que os diferentes tipos de estresses abióticos e bióticos não ocorrem de forma isolada.

Cícero Alexandre Leite
Engenheiro agrônomo, mestre em Entomologia, doutor em Engenharia Agrícola – FEAGRI-UNICAMP, consultor e CEO da All Bright Agro
comercial@allbrightagro.com

Cícero Leite,doutor em Engenharia Agrícola

O conceito da plantabilidade diz respeito ao grau de perfeição da colocação das sementes ou outros propágulos vegetais no solo em relação a:

1 – Quantidade de sementes por metro linear, na linha de plantio;

2 – Espaçamento entre as linhas de plantio;

3 – Profundidade da semente;

4 – Cobertura da semente com solo;

5 – Distanciamento horizontal da semente até o adubo;

6 – Distanciamento vertical entre a semente e o adubo.

Os seis parâmetros supracitados servem para garantir a maior expressão possível da genética da cultivar selecionada, pois visam otimizar:

1 – A incidência de radiação solar fotossinteticamente ativa sobre as plantas;

2 – A disponibilidade de água no solo, sem excesso e sem falta;

3 – Acesso aos nutrientes da solução do solo

4 – A vantagem da planta cultivada na matocompetição natural.

Inovações recentes

A otimização da plantabilidade é muito desejável, e mesmo necessária, no entanto, para se obter um resultado agronômico e econômico satisfatório, as operações de pré-plantio, seja no sistema convencional ou direto, merecem, também, total atenção do agricultor.

Sabemos que tudo o que for bem feito no que se refere às operações de pré plantio ajudará a plantabilidade, como um bom preparo do solo, por exemplo.

Falando da plantabilidade propriamente dita, as principais tecnologias empregadas se propõem a melhorar os seguintes subprocessos do plantio:

1 – Tecnologia de sementes;

2 – Tratamento de sementes;

3 – Armazenamento de sementes pré-plantio;

4 – Acondicionamento de sementes na semeadora;

5 – Sistemas de distribuição de sementes no solo;

6 – Sistemas de distribuição de fertilizantes, inoculastes e corretivos por ocasião do plantio;

Crédito: JoãoSantos

7 – Implementação do leito de semeadura;

8 – Cobertura das sementes com solo;

9 – Compactação do solo sobre e/ou em torno da semente.

Agro 4.0

Na prática, qualquer tecnologia que venha para corrigir ou aperfeiçoar problemas relacionados a falhas de plantio na linha, plantas múltiplas, sobreposição de linhas; afastamento de linhas; uniformidade de profundidade da inserção das sementes; uniformidade da germinação das ementes e porcentagem de germinação das sementes contribui para a plantabilidade.

Ainda dentro do tema tecnologias para plantabilidade, estamos em uma era onde a internet está chegando ao campo e o Agro 4.0 já é uma realidade cotidiana. O conceito de Agro 4.0 consiste na aplicação da mais moderna eletrônica embarcada em máquinas, equipamentos e sistemas a serviço do controle das operações agrícolas, gestão de dados e tomada de decisão.

Com essa nova forma de fazer agricultura, ou seja, o Agro 4.0, nunca foi tão fácil e viável medir cada processo e verificar se está próximo ou distante do que se havia projetado.

Cada operação pode e deve ser projetada, medida, registrada, verificada e aperfeiçoada. Observamos um grande esforço das empresas de tratores e máquinas, bem como de tecnologia de informação nesse sentido.

Obstáculos bióticos e abióticos

Estresses bióticos são causados por organismos vivos, como os insetos-praga e os fungos, bactérias e vírus causadores de doenças.

Já os estresses abióticos são aqueles causados por fatores físicos, como danos por ventos; acúmulo de sais; falta ou excesso de água e/ou nutrientes; chuvas fortes; altos ou baixos níveis de temperatura; de radiação solar, dentre outros exemplos.

A resistência a um estresse biótico ou abiótico pode ser natural ou induzida. A primeira é, normalmente, morfológica, ou seja, a planta já se desenvolve dessa forma, como por exemplo uma planta com pilosidade maior, ou uma folha mais dura e coriácea.

Já a resistência induzida ocorre quando a planta é submetida a um estresse, por exemplo, a ação hormonal que ocorre em plantas de soja atacadas por fungos que a fazem produzir uma fitoalexina chamada Gliceolina, que ajuda combater o desenvolvimento do causador da ferrugem da soja; ou ainda a rutina, que combate o ataque de insetos desfolhadores e sugadores.

Outro exemplo de resposta a estresse, agora abiótico, é o tom avermelhado em folhas novas, que pode ocorrer quando uma cultivar está submetida ao regime de radiação solar ultravioleta muito elevado.

Nessa situação, a planta passa a produzir mais pigmentos como antocianina, xantofila e caroteno para proteger a clorofila da degradação por ultravioleta.

Respostas imediatas ao estresse

Como resposta ao estresse, a planta pode ter uma maior respiração celular a fim de manter as funções metabólicas e orgânicas no nível normal. A energia que seria usada para crescimento e desenvolvimento vegetal passa a ser canalizada para se “defender” do estresse.

Exemplo, o milho de folha escura plantado no verão em zonas de alta radiação solar. A folha escura absorve uma quantidade maior de radiação solar e superaquece, desorganizando as reações bioquímicas e provocando desordens, como perda de clorofila e, por consequência, de acumulação de matéria seca.

A solução, neste caso, seria escolher uma variedade de folhas mais claras ou mais adaptadas para este tipo de clima. Outra forma da planta resistir ao estresse é quando, após o dano sofrido, ela se recupera naturalmente.

Por exemplo: temperaturas baixas na cultura do milho, que retardam o crescimento, porém, assim que as temperaturas normalizam, a planta volta a crescer. Ainda, há outra forma de resposta: quando ao menor sinal de que a planta sofrerá um estresse, ela ativa genes que modificam sua fisiologia e até mesmo sua morfologia para evitar o estresse.

Por exemplo, a sobre-fasciculação de raízes do milho em solos muito arenosos e secos.

Crédito: Shuttertock

Estratégias contra prejuízos

Observando-se os fatores de estresses possíveis para a época de plantio e conhecendo os mecanismos de resistência a estresses da cultivar, cabe agora ao produtor tomar as contramedidas, que seriam a escolha da variedade, o uso de produtos antiestressantes e o estabelecimento de um programa inteligente de nutrição de sua planta, que ajude a melhorar os mecanismos de resistência a estresses de sua planta.

Um exemplo clássico dessa última medida, por exemplo, é o uso de micronutrientes como o manganês, para mitigar os efeitos fitotóxicos que porventura o glifosato possa causar em cultivares de soja RR (Round up Ready).

Já o zinco, na cultura do milho minimiza o estresse oxidativo, mantém a consistência da membrana celular, dando especial resistência ao estresse hídrico, além de ajudar a repor a clorofila perdida por estresse lumínico.

Atenção

O agricultor deve ter em conta que os diferentes tipos de estresses abióticos e bióticos não ocorrem de forma isolada. Muito pelo contrário, um estresse hídrico, por vezes vem com estresse lumínico e térmico juntos; ou mesmo, um estresse abiótico, por exemplo, pode levar a planta a ficar mais suscetível a um estresse biótico, como um fungo ou inseto-praga.

Os exemplos desse fenômeno são inúmeros e o produtor deve ter todas essas possibilidades em conta e estar preparado para tomar medidas preventivas e/ou curativas.

Prevenção é sempre o melhor caminho

O melhor que se pode ter de uma situação de estresse é poder prevê-lo com uma antecedência tal que permita a tomada de decisão preventiva para anular, ou ao menos mitigar, os efeitos maléficos do estresse a ser causado.

Estações meteorológicas associadas com sistemas de previsão de clima podem ajudar o agricultor a tomar decisões de usar produtos específicos contra um suposto estresse antes que o mal ocorra.

Por exemplo, o aviso de um período de seca ou veranico pede que usemos um produto antiestressante à base de aminoácidos e hormonoides vegetais que ajudam a planta a combater o estresse hídrico.

No caso de previsão de saída de uma estação nebulosa para outra de céu aberto, podemos usar um produto protetor ou filtro solar. Um aviso de geada em local com agricultura irrigada pode levar à decisão de se usar água e potássio para combater a geada.

Por outro lado, a mesma previsão de clima pode dizer se o ciclo das pragas aumentará ou diminuirá, permitindo fazer ajustes finos nos programas de aplicações de produtos fitossanitário químicos ou biológicos.

Na prática

Existem produtos à base de extratos vegetais que contêm enzimas que ativam genes que passam a fazer com que a planta produza substâncias com a finalidade de mitigar efeitos de estresses.

Outros, à base de aminoácidos, ativam vários mecanismos de ação antiestressante. Zampar et al., em artigo na Revista Campo & Negócios de julho de 2020, citam a Arginina como promotora de crescimento radicular; a prolina envolvida na síntese de antioxidantes promotores de tolerância a estresses; a metionanina como melhorador da assimilação de nitratos em condições de estresse; a fenilalanina como indutor de produção de lignina e a tirosina, que melhora a respiração celular.

O plantio direto é indispensável na agricultura moderna
Crédito: Claudinei Kappes

Um exemplo interessante: o plantio no sentido leste-oeste faz com que as plântulas passem a projetar sombra uma sobre as outras ainda jovens, portanto, em uma condição de terreno plano, altas temperaturas e radiação solar, pode ser mais interessante plantar no leste-oeste, principalmente as plantas C3, como feijão e soja, que se saturam de luz com menor intensidade que as C4, como o milho.

No entanto se está em um terreno com inclinação para o sul, no hemisfério sul, e em local ou estação com muita nebulosidade, pode ser melhor plantar em linhas norte-sul, para que não façam sombra umas sobre as outras, pelo menos na fase inicial, até o fechamento foliar.

Planejamento, sempre

Devemos trabalhar de forma a não contrapor a produtividade com a sustentabilidade. Por meio do uso dos conceitos do Agro 4.0; da aplicação do conhecimento multidisciplinar de manejo fisiológico do cultivo a serviço do controle fitossanitário e da minimização de estresses abióticos, podermos dar um salto de produtividade e sustentabilidade de forma concomitante.

O agricultor sempre procura a janela de plantio que lhe ofereça o menor risco de estresse biótico e abiótico, porém, na maior parte das vezes, este risco não é nulo, ou seja, ele existe e, desde que esteja dentro de uma certa margem, não inviabiliza o cultivo, mas aumenta o custo ou diminui a produtividade, ou ainda podem ocorrer os dois.

É importante que o agricultor, antes de plantar, faça o exercício de prever quais serão os riscos de estresses e adicione em sua planilha de custo de produção os valores dos produtos e das operações de aplicações para combater estes estresses.

Assim, ele terá dois possíveis custos de produção: o primeiro se dará se a lavoura transcorrer sem a ocorrência de estresses incomuns. O segundo custo, que é maior, se dará se a lavoura sofrer os estresses.

Tendências

A aplicação dos conceitos do Agro 4.0 é a grande tendência para otimizar a plantabilidade e mitigar o estresse das plantas. A geração e o cruzamento de dados e informações que permitem as melhores tomadas de decisões em cada processo agrícola nos levarão a uma caminho de maior produtividade e sustentabilidade, simultaneamente.

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