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quinta-feira, novembro 21, 2024
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Gesso agrícola: estruturador químico do perfil do solo

Felipe Domansky
Engenheiro agrônomo, especialista em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas e consultor
planafertil@gmail.com

Crédito Shutterstock

As plantas são os seres responsáveis pela comunicação do solo com os demais seres vivos, por conseguir acessar os minerais essenciais contidos no solo e disponibilizando-os na sua parte aérea. Além da ingestão de nutrientes propriamente dita, as plantas são responsáveis pela produção de proteínas, vitaminas, fibras, energia, etc., necessárias para nossa vida.

Portanto, é evidente que precisamos promover essa relação entre as plantas e o solo para que seja mais eficiente e traga de maneira mais sustentável esses minerais e compostos utilizados pelos demais seres vivos. Desde a salada do nosso almoço ao guardanapo e até a cadeira que nos sentamos, dependemos do solo fornecendo minerais para que tudo aconteça.

Desafios

Falando em árvores e da magnitude de sua parte aérea, da qual nos beneficiamos, precisamos também lembrar de suas raízes e que elas possuem uma quantidade de matéria seca semelhante à parte aérea.

Vejam só o desafio de uma planta em crescer solo adentro para encontrar água, nutrientes e a própria sustentação. É importante frisar que ambientes limitantes ao crescimento radicular, automaticamente limitam o crescimento saudável da parte aérea e vice-versa, ou seja, uma depende da outra.

Perfil do solo

Em todo esse processo de estabelecimento de uma floresta, devemos projetar tudo para que o solo forneça as condições ideais para o aprofundamento radicular. E quais são essas condições?

– Ausência de compactação;

– Saturação de cálcio na CTC em pelo menos 50% até 30 cm e de 30% até 60 cm;

– Presença de fósforo natural do solo ou adubação de correção e arranque;

– Disponibilidade de magnésio (15% da CTC), potássio (3% da CTC), enxofre e micronutrientes suficientes;

– Ausência de alumínio tóxico no perfil até 60 cm (m% = 0);

– Aporte inicial de nitrogênio, boro, fósforo e potássio para o “arranque” das plantas;

– Demais manejos em dia, (matocompetição, controle de pragas, cobertura de solo, etc.).

Uso do gesso

Diretamente, a gessagem atua nos itens disponibilidade de cálcio e eliminação do alumínio tóxico no perfil. O gesso tem maior mobilidade e consequente facilidade na correção destes fatores em profundidade, o que é de enorme importância para cultivos florestais perenes, pela sua grande necessidade de aprofundamento radicular.

Uma vez que a planta consegue explorar maior volume de solo, todos os demais itens necessários para o bom enraizamento e produtividade se cumprem facilmente, como maior acesso aos demais nutrientes que ficariam em uma região não explorada, além do acesso à água.

Este é, talvez, o ganho mais importante da construção do perfil do solo, pois é de conhecimento que quanto maior a disponibilidade hídrica, maiores são as produtividades alcançadas. O recado é simples: Quer produzir mais? Construa um bom perfil de solo, considerando as dicas listadas anteriormente.

Vantagens da maior exploração radicular

Um solo arenoso, por exemplo, com uma CAD de 1,0 mm/cm, armazena até 400 m³ de água/ha de 40 a 80 cm de profundidade em época de seca, por exemplo. Vejam a importância de se atingir essa profundidade o quanto antes pelas raízes.

A cada 20 cm de solo, 1 ppm de fósforo representa 4,5 kg de P2O5/ha. Vejam o potencial de aproveitamento da fertilidade com o uso das técnicas e ferramentas adequadas. Além do que, a saúde, resistência das plantas e produtividade serão maiores e com maior custo-benefício. A nutrição natural com enxofre se dá em profundidades abaixo de 30 cm.

Como utilizar o gesso de forma adequada

O gesso é um subproduto da produção de adubos fosfatados. Contém sulfato de cálcio em sua composição e garantias aproximadas de 17% de Ca e 14% de S. Pode ser encontrado comercialmente a granel.

Alguns fornecedores apresentam lotes com umidade uniforme e peneirados, o que facilita e uniformiza a aplicação do produto, principalmente em doses menores. Para definir as doses, existem diversos métodos disponíveis, porém, o mais coerente leva em consideração os seguintes fatores:

– Saturação e concentração de Al tóxico;

– Quantidades de bases no solo (Ca, Mg e K);

– Necessidade de calagem (em caso de uso associado);

– Textura, densidade, porosidade (macro, micro e criptoporos) do solo.

Estes fatores são importantes, pois o gesso atuará neles diretamente após as aplicações, e pode alterar bastante a dinâmica destes elementos no perfil.

Dose ideal

A determinação correta das doses possibilitará o aporte de cálcio, a queda na saturação de alumínio, sem provocar expressiva lixiviação de magnésio e potássio para regiões muito profundas, dificultando sua absorção.

O segredo é respeitar os dados encontrados nas análises de solo, as quais são indispensáveis para a recomendação de gessagem. ‘Receitas de bolo’ são perigosas! Na análise de solo, devemos solicitar a química básica + enxofre + P remanescente + granulométrica, para uma boa avaliação, diagnóstico e recomendação.

Associação do gesso ao calcário

A principal diferença entre gesso e calcário é a mobilidade no perfil devido à solubilidade e alteração no pH do solo. Seguramente, o gesso se aprofunda mais no perfil por ser mais solúvel e, consequentemente, mais móvel no solo, em relação ao calcário.

Já o calcário provoca o aumento do pH do solo por meio da geração de ânions neutralizantes do hidrogênio. O gesso não tem essa capacidade de alterar o pH, seja para mais ou para menos.

Essa característica do gesso, de não alterar o pH, é bem interessante, pois o perfil de solo ideal possui um gradiente de pH em que, na superfície, desejamos um valor mais alto e à medida que se aprofunda, os valores tendem ao valor natural daquele solo (mais ácido) – isso garante a disponibilidade de alguns micronutrientes essenciais.

Podemos dizer, sem sobra de dúvida, que um não substitui o outro. Cabe ao técnico recomendante avaliar minuciosamente as características atuais do perfil do solo, os objetivos e prescrever o melhor “blend” entre calagem e gessagem aplicados à situação.

É importante dizer que não existe uma proporção mágica entre calcário e gesso para utilização – as análises do solo e do perfil é que irão definir a modalidade de uso e eventuais misturas.

Fornecimento de cálcio e enxofre

O produto pode ser uma excelente fonte e com ótimos preços para a nutrição direta com cálcio e, principalmente, enxofre. Apenas devemos nos certificar que as doses não provoquem a lixiviação excessiva de outros cátions importantes (Mg e K) e que o solo já esteja com o Al tóxico precipitado, pois para o fornecimento do enxofre o sulfato (SO4-) não poderá encontrar Al3+ livre, pois assim ficará indisponível.

Em síntese, a utilização correta do gesso agrícola na produção florestal e em outras culturas é, com certeza, é uma ferramenta de alto valor econômico e agronômico que está disponível no mercado, com fácil acesso em praticamente todas as regiões do País.

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